A releitura de contos de fadas é um terreno fértil para adaptações criativas, especialmente quando contextualizadas em cenários locais e contemporâneos. O filme “Princesa Adormecida“, dirigido por Cláudio Boeckel e baseado no livro de Paula Pimenta, busca trazer a clássica história da Bela Adormecida para a realidade brasileira.
Com uma abordagem juvenil e descontraída, o filme promete entreter o público jovem, mas também revela fragilidades em sua narrativa e execução.
Sinopse do filme Princesa Adormecida (2024)
Rosa (Pietra Quintela) é uma adolescente criada pelos três tios superprotetores após perder os pais em circunstâncias misteriosas. Em sua rotina de internato, ela sonha com liberdade e uma vida comum, mas descobre que seu mundo esconde segredos perigosos.
Quando sua melhor amiga Clara (Lívia Silva) a convence a escapar para uma festa com a DJ Cinderela (Maisa), a noite desencadeia eventos que colocam a vida de Rosa em risco e revelam verdades surpreendentes sobre sua família e seu passado. Envolvida em mistérios e perseguida pela vilã Marie Malleville, Rosa precisa descobrir sua verdadeira identidade enquanto tenta garantir sua segurança.
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Crítica de Princesa Adormecida, da Netflix
A proposta de “Princesa Adormecida” é clara: adaptar um conto clássico para o público jovem brasileiro, utilizando elementos do cotidiano e um toque de modernidade. Nesse aspecto, o filme acerta ao criar um universo que mescla o lúdico da realeza com situações típicas de adolescentes, como escapadas noturnas e crushes virtuais.
Pietra Quintela entrega uma atuação cativante, traduzindo bem os dilemas de uma jovem em busca de autonomia. Lívia Silva também se destaca como uma amiga espirituosa e cheia de carisma, garantindo um bom ritmo em suas interações.
Direção de arte e fotografia impressionantes; narrativa didática
Visualmente, o filme impressiona com sua direção de arte e fotografia. Cenários cuidadosamente escolhidos e figurinos detalhados, como o vestido da protagonista, criam uma estética que encanta o público e situa a história entre o conto de fadas e a contemporaneidade.
No entanto, a narrativa sofre com uma execução excessivamente didática, que subestima a capacidade de interpretação do espectador. Explicações desnecessárias interrompem o ritmo e diluem o impacto emocional de momentos-chave.
Soluções convenientes
Outro ponto problemático é a construção do conflito. A vilã Marie Malleville, apresentada como uma ameaça perigosa e implacável, é neutralizada de maneira simples e abrupta, enfraquecendo o clímax. Além disso, a história se apoia em coincidências e soluções convenientes que comprometem a credibilidade do enredo, como a resolução dos dramas familiares de Rosa.
O filme também levanta preocupações sobre mensagens implícitas. A forma como Rosa interage com um estranho pela internet, mesmo com a intervenção da amiga, pode ser interpretada de maneira ambígua por espectadores mais jovens. Em um mundo onde golpes digitais são frequentes, faltou um cuidado maior ao abordar o tema de segurança online.
Conclusão
“Princesa Adormecida” é uma produção charmosa que conversa bem com seu público-alvo, especialmente adolescentes e pré-adolescentes. Apesar de seus problemas narrativos e algumas decisões questionáveis, o filme consegue divertir e passar mensagens de forma leve.
Para pais que buscam um filme para assistir com os filhos, ele oferece um entretenimento despretensioso, capaz de arrancar risadas e promover reflexões superficiais sobre liberdade e identidade. Contudo, para espectadores mais exigentes, a obra pode soar simplória e inconsistente.
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