Baseado em uma história real perturbadora, o filme “A Virgem Vermelha” (La Virgen Roja), de Paula Ortiz, oferece um mergulho no lado mais sombrio da relação entre mãe e filha.
Com uma estética intimista e atuações de tirar o fôlego, o filme narra a curta e trágica vida de Hildegart Rodríguez, uma jovem prodígio espanhola, e sua conturbada relação com Aurora, uma mãe obcecada por moldá-la como símbolo de suas convicções ideológicas.
Sinopse do filme A Virgem Vermelha (2024)
Nos anos 1930, na Espanha, Hildegart Rodríguez (Alba Planas) é criada sob as rígidas orientações de sua mãe, Aurora (Najwa Nimri), uma mulher determinada a moldar a filha como a “mulher ideal do futuro”. Desde a concepção, Aurora planejou cada aspecto da vida da menina, submetendo-a a uma educação intensa e isolada, com foco em ideias progressistas sobre sexualidade e direitos femininos.
Aos 16 anos, Hildegart já era uma intelectual respeitada internacionalmente, com publicações que desafiavam os paradigmas da época. Porém, conforme a jovem começa a questionar sua liberdade e se distanciar das expectativas impostas, Aurora se torna uma figura cada vez mais opressiva e perigosa, culminando em um ato chocante que transformaria suas vidas para sempre.
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Crítica de A Virgem Vermelha, do Prime Video
Paula Ortiz, conhecida por sua abordagem visual expressiva, adota em “A Virgem Vermelha” um tom mais contido, priorizando a tensão psicológica sobre o excesso estilístico. A diretora constrói um ambiente claustrofóbico que reflete o controle obsessivo de Aurora, destacando as nuances dessa relação tóxica.
A fotografia é minimalista e intimista, com planos fechados que capturam a angústia e os conflitos internos das personagens, enquanto a trilha sonora mantém o espectador em estado constante de alerta.
Atuações brilhantes
Najwa Nimri brilha intensamente no papel de Aurora, apresentando uma figura maternal tão calculista quanto trágica. Sua interpretação transcende o estereótipo da vilã, revelando uma mulher complexa, guiada por ideologias radicais e incapaz de enxergar o impacto destrutivo de suas ações. Alba Planas, por sua vez, traz uma Hildegart que equilibra brilhantismo intelectual e inocência juvenil, tornando sua tragédia ainda mais visceral.
No entanto, o roteiro, apesar de bem estruturado em seus diálogos, sofre com uma ambição narrativa que tenta abarcar muitos aspectos da vida de Hildegart sem aprofundá-los adequadamente.
Drama histórico e horror psicológico
Momentos-chave de sua trajetória, como sua ascensão política e confrontos ideológicos com a mãe, são tratados de forma superficial, o que enfraquece o impacto emocional de certas cenas. Além disso, a decisão de alternar pontos de vista na narração, sem justificativas claras, torna a experiência um pouco confusa em alguns trechos.
Ainda assim, o filme mescla com eficiência elementos de drama histórico e horror psicológico. A dinâmica entre mãe e filha é explorada de maneira assustadoramente crua, e o uso de símbolos – como o manequim que se desfaz – aprofunda o enredo. Ortiz captura com maestria a tensão entre o idealismo progressista de Aurora e o desejo de liberdade de Hildegart, expondo as contradições do radicalismo ideológico.
Conclusão
“A Virgem Vermelha” é uma obra perturbadora e fascinante, que explora os limites do controle, as armadilhas do idealismo e o preço da liberdade. Apesar de algumas falhas na narrativa, a direção de Paula Ortiz e as atuações marcantes de Najwa Nimri e Alba Planas garantem uma experiência impactante.
O filme não apenas revive a história trágica de Hildegart Rodríguez, mas também convida o público a refletir sobre os perigos do extremismo e da obsessão. É, sem dúvida, um retrato poderoso de uma tragédia que ecoa até os dias de hoje.
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