Início » ‘Eu Não Sou Mendoza’ é, ao mesmo tempo, uma homenagem e um testamento
Confira a crítica da série "Eu Não Sou Mendoza", novela latina de 2025 disponível para assistir na Netflix.

Foto: Netflix / Divulgação

A estreia de “Eu Não Sou Mendoza” na Netflix não representa apenas o retorno do melodrama latino com pitadas de comédia e suspense, mas também a despedida definitiva do universo criativo de Fernando Gaitán — o mestre colombiano responsável por clássicos como Betty, A Feia e Café com Aroma de Mulher.

Criada a partir de uma ideia original deixada pelo autor antes de seu falecimento, a série mergulha em um território onde aparência e essência se misturam, e onde sobreviver significa, muitas vezes, apagar a si mesmo.

Com 40 episódios de cerca de 45 minutos, essa superprodução desenvolvida pela Sony mistura thriller, drama e sátira social num enredo que começa com um erro de identidade, mas que evolui para um questionamento existencial. É uma obra que não propõe redenções fáceis, mas sim o desgaste lento da ilusão.

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Sinopse da série Eu Não Sou Mendoza (2025)

Julián García (Vadhir Derbez) leva uma vida simples como cobrador de dívidas, até ser sequestrado por engano e confundido com Esteban Mendoza — um empresário corrupto dono de um cassino em falência.

Para sobreviver, Julián precisa assumir a identidade do verdadeiro Mendoza, o que inclui lidar com seus negócios ilegais, os inimigos à espreita e um casamento iminente com Laura Santander (Laura Londoño), a noiva do verdadeiro Mendoza.

Enquanto tenta equilibrar sua antiga moral com sua nova realidade, Julián percebe que as lutas mais significativas não são por dinheiro ou poder, mas sim por afeto, dignidade e identidade. Ao longo dos episódios, ele descobre que viver sob uma máscara tem um preço alto — e que nem sempre há caminho de volta.

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Crítica de Eu Não Sou Mendoza, da Netflix

A série parte de uma premissa simples, quase absurda: um homem comum é confundido com um magnata e forçado a viver sua vida. Mas o que poderia ser apenas um ponto de partida para uma comédia de erros se transforma, nas mãos do universo de Gaitán, em uma análise amarga sobre identidade e aparência. O acaso, tratado aqui como uma força quase mística e cruel, não concede escolhas: ele impõe, corrói, remodela.

Julián não ascende, não aprende, não triunfa — ele se adapta para sobreviver. A jornada não é de crescimento, mas de desgaste. O roteiro recusa qualquer noção de destino heroico. A comédia, quando aparece, é uma válvula de escape diante do absurdo da existência.

Vadhir Derbez e a arte da atuação

Interpretar dois personagens tão distintos e ainda assim fazer com que compartilhem um corpo é tarefa para poucos — e Vadhir Derbez a executa com surpreendente sutileza. Sua transição entre Julián e Mendoza não se dá por grandes mudanças visuais ou vozes forçadas, mas por pequenas escolhas: o gesto contido, o olhar evitado, a respiração contida.

Derbez não exagera, não faz de Julián um mártir nem de Mendoza um vilão puro. Ele entende que ambos são produtos de estruturas impiedosas. Essa abordagem contida torna a série mais realista — ainda que seus acontecimentos beirem o surreal.

Laura Londoño: o coração contido da narrativa

No papel de Laura Santander, Laura Londoño entrega uma atuação marcada pela tensão constante. Sua personagem não é uma heroína romântica, nem uma vítima passiva. Ela está sempre à beira da suspeita, oscilando entre a cumplicidade e o estranhamento. Em uma trama onde quase ninguém é quem diz ser, Laura representa o olhar que duvida — mas que não tem o luxo de agir.

A atriz colombiana, que já havia se destacado em Café com Aroma de Mulher, reforça sua conexão com a obra de Gaitán com uma personagem intensa e de grande complexidade emocional.

Uma estética do confinamento

A direção de arte e a fotografia trabalham de forma discreta, mas eficiente, para reforçar a sensação de prisão simbólica que permeia a série. Seja em mansões luxuosas ou escritórios claustrofóbicos, o sentimento de sufocamento é constante.

Não há beleza redentora na riqueza, apenas solidão. Os ambientes, mesmo amplos, são filmados como se fossem celas — uma metáfora visual que dialoga com a sensação de impostura do protagonista.

A herança de Fernando Gaitán

É impossível assistir a “Eu Não Sou Mendoza” sem sentir o eco de Betty, A Feia. Se antes tínhamos uma mulher invisibilizada que precisava provar seu valor, agora vemos um homem comum forçado a habitar um lugar que não lhe pertence. Em ambos os casos, a aparência dita as regras — e o afeto, quando emerge, precisa atravessar camadas de mentira.

Mas aqui, diferentemente de Betty, não há um arco de superação nítido. O falso Mendoza nunca se torna o verdadeiro. E Julián nunca volta a ser apenas Julián. Esse não-lugar é onde Gaitán fecha seu ciclo: em vez de redenção, ele nos entrega o espelho quebrado da identidade.

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Conclusão

“Eu Não Sou Mendoza” é, ao mesmo tempo, uma homenagem e um testamento. A série encerra com inteligência e coragem o legado de um dos maiores nomes da teledramaturgia latino-americana. Seu mérito não está apenas nos momentos de humor ou nas viradas dramáticas, mas na forma como desnuda as estruturas de poder, classe e identidade com uma ironia sutil e uma tristeza persistente.

Com atuações marcantes, roteiro afiado e uma estética que privilegia o incômodo, a produção não oferece respostas fáceis — mas propõe, com elegância, uma reflexão sobre o peso de fingir. Afinal, como já dizia o próprio título, nem sempre somos quem parecemos. E às vezes, nem queremos ser.

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Onde assistir à novela Eu Não Sou Mendoza?

A série está disponível para assistir na Netflix.

Trailer de Eu Não Sou Mendoza (2025)

Elenco de Eu Não Sou Mendoza, da Netflix

  • Vadhir Derbez
  • Laura Londoño
  • Elyfer Torres
  • Patricio Gallardo
  • Lucho Velazco
  • Humberto Zurita
  • Erika de la Rosa
  • Luz Aldán
  • Fredy Yate
  • Alejandra Ley

Ficha técnica da série Eu Não Sou Mendoza

  • Título original: Yo no soy Mendoza
  • Criação: Fernando Gaitán
  • Gênero: comédia, drama
  • País: Colômbia, México
  • Temporada: 1
  • Episódios: 40
  • Classificação: 16 anos

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