Se existe uma maneira inusitada de criticar o caos do mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, provocar risos com uma dose generosa de surrealismo, o dorama “Meus Clientes Fantasmas” parece ter encontrado o ponto de equilíbrio. Com dois episódios iniciais que mais parecem um soco de humor ácido seguido de um abraço emocional, o novo K-drama da Netflix protagonizado por Jung Kyung-Ho se firma como uma das estreias mais instigantes de 2025.
Longe de ser apenas uma comédia sobrenatural, a série mergulha nas frustrações cotidianas de um homem quebrado, explora a invisibilidade das vítimas do trabalho precarizado e propõe, de forma criativa, um tribunal do além para fazer justiça àqueles que já não têm voz.
Ao invés de seguir fórmulas batidas, como o romance previsível ou os heróis idealizados, a narrativa aposta num protagonista egoísta e falido, que encontra sua redenção não por querer, mas por não ter alternativa. E é exatamente aí que o drama encontra sua força.
Sinopse do dorama Meus Clientes Fantasmas (2025)
A trama gira em torno de No Mu-Jin, um ex-advogado corporativo que, depois de investir todas as suas economias em criptomoedas, perde tudo: carreira, casamento, dignidade. Desempregado e emocionalmente à deriva, ele obtém uma licença de advogado trabalhista, mas ninguém está disposto a contratá-lo.
Junto de sua cunhada, Hee-Joo, e do youtuber conspiracionista Gyeon-Woo, Mu-Jin inicia um “negócio” suspeito, extorquindo fábricas negligentes em troca de consultorias fantasmas. Mas o jogo muda quando, durante uma inspeção, ele quase morre e acorda em um limbo sobrenatural. Lá, recebe uma proposta inusitada: assumir o lugar de um advogado dos mortos e ajudar fantasmas a resolver disputas trabalhistas não finalizadas em vida. O pagamento? Continuar vivo.
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Crítica da série Meus Clientes Fantasmas, da Netflix
No Mu-Jin não tenta ser herói. Aliás, ele faz de tudo para não ser. Cínico, desiludido, egoísta — ele aceita ajudar os mortos apenas porque não tem mais opções. Mas o texto da série nunca o condena gratuitamente. Ao contrário: o humaniza. Através de lembranças dolorosas, como a conversa entre sua mãe e ex-esposa, a série expõe suas falhas com brutalidade emocional, sem perder a ironia.
O talento de Jung Kyung-Ho é evidente ao explorar esse paradoxo: entre o homem que despreza sua própria história e aquele que, aos poucos, vai sendo transformado pelo contato com dores maiores que a sua.
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Crítica social camuflada em absurdo
O que poderia ser apenas uma comédia de assombração vira uma denúncia dos bastidores das relações de trabalho. A série não se contenta em mostrar acidentes de fábrica como mero pano de fundo; ela os trata como crimes encobertos. O caso de Min-Uk, jovem morto por negligência patronal, é o coração do segundo episódio e carrega uma força devastadora.
A forma como a série conduz essa denúncia — com humor, mas sem minimizar o sofrimento — lembra obras como The Good Place, porém com um sabor genuinamente coreano. O absurdo é constante, mas sempre com propósito. Não é humor por humor; é riso com culpa.
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Uma equipe improvável e irresistível
O trio formado por Mu-Jin, Hee-Joo e Gyeon-Woo é uma das grandes surpresas da série. Sem grandes idealismos, os três encarnam a classe média derrotada pela vida. Hee-Joo, vivida com energia por Seol In-Ah, é a verdadeira força motriz do grupo, capaz de manipular situações com uma mistura de desespero e genialidade. Já Gyeon-Woo, interpretado por Cha Hak-Yeon, injeta leveza e comicidade, mesmo quando o roteiro mergulha em temas densos.
A química entre eles é orgânica, marcada por diálogos afiados, constrangimentos hilários e uma cumplicidade que nasce da derrota compartilhada. Não são heróis, mas sobreviventes — e, por isso mesmo, tão envolventes.
Quando o horror é real — e o sobrenatural, libertador
Apesar do título e da premissa, os fantasmas não são os vilões aqui. Pelo contrário. Eles são as vítimas de um sistema podre, de chefes impunes, de jornadas abusivas. Quando Min-Uk aparece pedindo ajuda, não há sustos ou efeitos especiais exagerados — há dor, há injustiça, há silêncio.
A maneira como o segundo episódio reconstrói sua história, através de depoimentos, diários e memórias, é de partir o coração. E quando finalmente sua mãe decide lutar por justiça, somos lembrados de que o verdadeiro terror não está no além, mas no mundo dos vivos.
Conclusão
“Meus Clientes Fantasmas” começa com uma premissa maluca e rapidamente se transforma em algo muito mais potente. Entre piadas, assombrações e críticas sociais, o K-drama entrega um retrato melancólico e, ao mesmo tempo, esperançoso da vida moderna — com suas falências, suas segundas chances e sua busca por sentido em meio ao caos.
Os dois primeiros episódios constroem com habilidade um universo próprio, onde o surreal e o real caminham juntos, e onde a redenção pode vir das formas mais inusitadas — até mesmo de um contrato assinado no limbo.
Se seguir nesse ritmo, a série tem tudo para ser um dos destaques do ano. Porque, no fim, o que assombra mesmo não são os fantasmas… é a indiferença.
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Onde assistir ao dorama Meus Clientes Fantasmas?
O filme está disponível para assistir na Netflix.
Trailer de Meus Clientes Fantasmas (2025)
Elenco de Meus Clientes Fantasmas, da Netflix
- Jung Kyung-ho
- Seor In-a
- Cha Hak-yeon