Giselle Costa Rosa 
Foto: Netflix / Divulgação
“Kissufim”, o filme de estreia da diretora e roteirista Keren Nechmad, carrega um peso inesperado que transcende sua narrativa original. Concebido como uma ode nostálgica à juventude israelense dos anos 1970, o longa-metragem ganhou uma nova dimensão após os trágicos eventos de 7 de outubro de 2023, quando o Kibutz Kissufim foi palco de um massacre que chocou o mundo.
Então, o que era para ser uma representação fictícia de tempos de esperança e descoberta pessoal, se transformou em um reflexo perturbador da realidade brutal que assola a região.
Sinopse do filme Kissufim (2024)
Ambientado em 1977, “Kissufim” segue um grupo de jovens israelenses que chegam ao Kibutz Kissufim, na fronteira com Gaza, para cumprir seu serviço militar. Em meio a trabalhos no campo e escapadas para a praia, esses jovens enfrentam os desafios do amor, da moralidade e da sexualidade, enquanto navegam pela transição para a vida adulta.
A tensão política da época, marcada pela visita histórica do presidente egípcio Anwar Sadat a Jerusalém, serve como pano de fundo para suas jornadas pessoais. O filme captura a dualidade entre o idealismo juvenil e a realidade implacável de uma região constantemente à beira do conflito.
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Crítica de Kissufim, da Netflix
“Kissufim” desafia as expectativas do público ao mesclar o comum e o extraordinário de maneira sutil e eficaz. A direção de Keren Nechmad é precisa e sensível, permitindo que o espectador se conecte com os personagens enquanto eles exploram o mundo ao seu redor, tanto em termos emocionais quanto físicos. Swell Ariel Or, no papel de Eli, entrega uma atuação emocionante, que personifica a busca por identidade em um cenário de incertezas.
A fotografia de Ram Shweky é um dos pontos altos do filme. As paisagens do deserto do Negev e as águas tranquilas da piscina do kibutz criam uma atmosfera hipnotizante, que contrasta de maneira pungente com a sombra constante do perigo. A escolha de enquadramentos largos e horizontais reforça a sensação de vastidão e isolamento, ao mesmo tempo que sublinha a fragilidade da paz na região.
No entanto, a trama de “Kissufim” pode parecer dispersa em alguns momentos. Isso porque a quantidade de personagens e a falta de um arco narrativo forte fazem com que o filme se perca em seu próprio lirismo. As interações, muitas vezes reduzidas a momentos de lazer e reflexões pessoais, não conseguem sustentar o ritmo necessário para engajar plenamente o espectador. Apesar disso, a autenticidade das atuações e a qualidade técnica compensam essas falhas.
O aspecto mais impactante de “Kissufim” é sua relevância inesperada após os ataques de outubro de 2023. A decisão de Nechmad de alterar o final do filme para refletir os horrores recentes adiciona uma camada de profundidade e urgência à obra. Assim, o longa deixa de ser apenas uma reminiscência de tempos passados e se torna um testemunho da resiliência e vulnerabilidade humanas diante da violência.
Conclusão
“Kissufim”, sem querer, capturou o espírito de uma época e, tragicamente, o prenúncio de um futuro sombrio. Keren Nechmad conseguiu criar uma obra que não apenas celebra a juventude e o desejo por paz, mas que também reconhece a dura realidade de viver em uma região onde o conflito é inevitável.
Apesar de suas falhas narrativas, “Kissufim” se destaca pela sua beleza visual e pela forma como aborda temas universais de amor, perda e esperança em meio à adversidade. É um filme que merece ser visto, não apenas como uma peça de entretenimento, mas como um lembrete poderoso da fragilidade da paz.
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Onde assistir ao filme Kissufim?
O filme está disponível para assistir na Netflix.
Elenco de Kissufim, da Netflix
- Yehonatan Vilozny
- Ofer Greenberg
- Swell Ariel Or
- Paula Kroh
- Adam Gabay
- Mili Eshet
- Lir Katz
- Herzl Tobey
Ficha técnica de Kissufim (2024)
- Título original: Kissufim
- Direção: Keren Nechmad
- Roteiro: Hadar Arazi, Yonatan Bar-Ilan, Keren Nechmad
- Gênero: drama
- País: Israel
- Duração: 88 minutos
- Classificação: 14 anos
Sobre o autor
1 thought on “‘Kissufim’, um lembrete poderoso da fragilidade da paz”