
Foto: Disney+ / Divulgação
A temporada 2 de “Doctor Who” não economiza nos efeitos, no nonsense nem nas provocações. Sob o comando de Russell T Davies e com a energia hiperativa de Ncuti Gatwa como o 15º Doutor, a série retorna com dois episódios iniciais que dividem opiniões, mas deixam claro que o objetivo é mexer com as estruturas — narrativas, visuais e até emocionais.
Se por um lado A Revolução Robô aposta no exagero estético e na crítica social escancarada, Lux mergulha num pesadelo animado cheio de metalinguagem e charme retrô. No centro dessa tempestade, a nova companheira Belinda Chandra (Varada Sethu) surge como uma presença disruptiva, necessária e revigorante.
Sinopse da temporada 2 da série Doctor Who (2025)
A Revolução Robô apresenta Belinda Chandra, uma enfermeira terráquea ranzinza que se vê sequestrada por robôs vermelhos gigantes, convencidos de que ela é sua rainha perdida. Levada ao planeta Missbelindachandraum, ela é envolvida numa guerra entre humanos e máquinas, controladas por uma inteligência artificial que, surpresa, é seu ex-namorado transformado em ditador digital. O episódio mistura referências de Star Wars, crítica à masculinidade tóxica e muito, muito barulho.
Lux, por sua vez, leva o Doutor e Belinda a uma Miami dos anos 1950, onde um cinema guarda um segredo sombrio: pessoas desaparecem dentro da tela. O culpado é Mr. Ring-a-Ding (voz impecável de Alan Cumming), uma entidade animada que desafia as leis da física e da narrativa, ao mesmo tempo em que brinca com a relação entre público e ficção. Misturando live-action e animação em estilo Fleischer Studios, o episódio é uma ode ao poder da arte — para encantar ou aprisionar.
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Crítica de Doctor Who – Temporada 2, do Disney+
Desde sua primeira cena, Belinda se recusa a cumprir o papel tradicional de coadjuvante encantada. Ela questiona, resiste e até confronta o Doutor quando ele ultrapassa seus limites — como ao escanear seu DNA sem permissão. Ao fazer isso, ela não só impõe limites claros, como escancara uma reflexão que “Doctor Who” historicamente evitou: a autonomia da companion.
Varada Sethu entrega uma personagem pronta, com camadas, e que não aceita o brilho cósmico como resposta para tudo. A tensão inicial com o Doutor tem gosto de embate ideológico, e não de flerte.
The Robot Revolution: caos com tintas de sátira
A estreia é chamativa, exagerada e cheia de boas ideias, mesmo que nem todas funcionem. A ambientação retrô-futurista, com robôs ridículos e palácios vermelhos, parece saída de um pesadelo sci-fi dos anos 1950.
A crítica à cultura incel é direta e divertida — os robôs que veneram Belinda foram programados por uma IA que nada mais é do que seu ex tóxico com delírios de grandeza. O problema é que a reviravolta se esgota rápido e o roteiro insiste em sublinhar metáforas já óbvias. O tom camp encanta, mas o enredo escapa pelos dedos.
Lux: metalinguagem e emoção em equilíbrio delicado
O segundo episódio é mais ousado, mais centrado e, paradoxalmente, mais emotivo. A direção de Amanda Brotchie e a animação de alta qualidade dão vida a um vilão memorável — Mr. Ring-a-Ding, um ser cartunesco com voz doce e intenções perversas. Ao transformar a tela do cinema em prisão, Lux comenta sobre o escapismo da arte e o apego às memórias, com a história trágica de Reginald Pye como exemplo.
O momento em que o Doutor e Belinda viram desenhos animados é ao mesmo tempo hilário e inquietante, e a quebra da quarta parede com fãs de “Doctor Who” é uma provocação inteligente sobre a obsessão com o passado da série.
Russell T Davies entre a genialidade e o excesso
Os dois episódios mostram a marca registrada de Davies: ideias brilhantes com execução nem sempre equilibrada. A crítica social está ali, mas às vezes vem com sublinhado neon (“meninas não entendem matemática”). O meta-comentário sobre fandoms e sobre o próprio futuro da série emociona — mas o exagero na presença de personagens misteriosos como a Sra. Flood beira o autocanibalismo narrativo.
Ainda assim, quando a série aposta na cumplicidade entre o Doutor e Belinda, acerta em cheio. A química entre Gatwa e Sethu é palpável, e mesmo com poucos episódios, já há dinâmica, atrito e respeito.
Conclusão
Os dois primeiros episódios da temporada 2 de “Doctor Who” são um choque — visual, narrativo e tonal. A Revolução Robô parece mais um episódio de meio de temporada do que uma estreia, mas oferece momentos pontuais de sátira e ação bem dirigida.
Já Lux é, sem dúvida, um dos episódios mais ousados da Era Disney, misturando animação, nostalgia e reflexão num pacote que encanta e desconcerta. No centro, brilha Belinda Chandra: uma companheira que não quer ser salva, mas sim ouvida.
Se a jornada da segunda temporada seguir essa linha de experimentação e confronto com as estruturas estabelecidas, “Doctor Who” ainda tem muito o que dizer — e, mais importante, como dizer.
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Onde assistir à série Doctor Who?
A série está disponível para assistir no Disney+.
Trailer da temporada 2 de Doctor Who (2025)
Elenco de Doctor Who, do Disney+
- Ncuti Gatwa
- Millie Gibson
- Susan Twist
- Michelle Greenidge
- Anita Dobson
- Angela Wynter
- Jemma Redgrave
- Yasmin Finney
- Nicholas Briggs
- Varada Sethu
Ficha técnica da série Doctor Who
- Título original: Doctor Who
- Gênero: ficção científica, aventura
- País: Reino Unido
- Temporada: 2
- Episódios: 8
- Classificação: 12 anos