Em um catálogo de streaming cada vez mais saturado de dramas criminais, Na Lama (originalmente En el barro), a mais recente aposta da Netflix, surge com a pesada herança de ser um spin-off de uma das séries argentinas mais aclamadas da última década, El marginal.
Criada por Sebastián Ortega, a nova produção não apenas expande o universo conhecido de La Quebrada, mas o transporta para um cenário feminino, prometendo um olhar igualmente brutal e visceral, mas sob uma perspectiva diferente.
A série, com seus oito episódios de aproximadamente 60 minutos, nos apresenta a um grupo de mulheres que, em sua jornada para a prisão, sofrem um ataque violento que as deixa à beira da morte, cobertas de lama.
Esse evento traumático e simbólico serve como o ponto de partida para explorar as complexas dinâmicas de poder, a luta por sobrevivência e a formação de alianças frágeis dentro de um ambiente opressor. A grande questão é: Na Lama consegue se sustentar por conta própria, ou se perde no peso de sua própria herança?
O enredo de Na Lama começa com um grupo de detentas sendo transportado para o presídio feminino de segurança máxima La Quebrada. No trajeto, o veículo é atacado e forçado a cair em um rio. Apenas cinco delas sobrevivem, emergindo do acidente sujas de lama, o que lhes rende o apelido de “Las embarradas” (“As enlameadas”). Este incidente sela o destino delas, forçando-as a criar um vínculo improvável em um ambiente onde a lealdade é um luxo raro.
Entre as sobreviventes, destacam-se Marina Delorsi (Valentina Zenere), uma jovem que luta para provar sua inocência; Amparo “La Gallega” Vilches (Ana Rujas), uma socialite que se envolveu com o crime; e Gladys “La Borges” Guerra (Ana Garibaldi), uma personagem já conhecida dos fãs de El marginal que, ao chegar à prisão, se torna uma figura central nas disputas por poder.
Com o retorno de figuras como Rita Cortese e Gerardo Romano, a série mergulha no submundo de La Quebrada, expondo a corrupção, as tensões internas e a incessante batalha por espaço e respeito entre as detentas.
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A decisão de trocar o cenário masculino de El marginal para um presídio feminino é, sem dúvida, o maior acerto e, ao mesmo tempo, a maior limitação de Na Lama. De um lado, a série oferece uma perspectiva fresca sobre o tema, explorando as especificidades das relações entre mulheres em um contexto de confinamento.
A narrativa aborda temas como a maternidade, a exploração sexual e as alianças efêmeras que se formam e se desfazem em meio à luta por poder. No entanto, em sua tentativa de ser tão intensa quanto a série original, Na Lama muitas vezes recai sobre os mesmos clichês e a mesma brutalidade, o que pode fazer com que os fãs do universo sintam uma certa familiaridade excessiva.
Apesar de a cena inicial do acidente ser o ponto mais intrigante e original da série, é decepcionante que ela tenha pouca relevância para o enredo subsequente. O evento que dá nome à produção e cimenta o vínculo entre as “enlameadas” é rapidamente deixado de lado para dar espaço à rotina brutal e previsível da prisão.
É como se a série perdesse a oportunidade de se aprofundar nas consequências psicológicas do trauma compartilhado, preferindo seguir um roteiro mais convencional de dramas carcerários.
O que mais chama a atenção em Na Lama é a sua abordagem crua e sem filtros. A série não tem medo de expor a corrupção institucional, a violência e a exploração que permeiam o ambiente prisional. Há momentos de grande impacto, onde a ausência de leis e a prevalência de poder e dinheiro são palpáveis.
No entanto, essa busca pelo realismo, em algumas cenas, acaba cruzando a linha do sensacionalismo, especialmente no que se refere à exploração sexual e à violência. As cenas de nudez e sexo, embora possam ser consideradas um reflexo da realidade, parecem desnecessárias em certos momentos, como se estivessem ali apenas para chocar, em vez de servir a um propósito narrativo.
A série se esforça para mostrar as personagens como mais do que simples prisioneiras. Elas têm histórias, motivações e arcos de desenvolvimento que as tornam críveis e fáceis de torcer. É fácil simpatizar com a jornada de cada uma, mesmo com suas falhas, pois são retratadas como pessoas comuns que se veem em uma situação extraordinária. O suspense e a tensão são bem construídos, fazendo com que o espectador se questione a todo momento o que acontecerá em seguida.
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O elenco de Na Lama é um de seus pontos mais fortes. A presença de atrizes como Ana Garibaldi, Valentina Zenere e Ana Rujas confere um peso dramático à produção. Valentina Zenere, em particular, entrega uma atuação convincente como Marina Delorsi, a personagem que tem o maior tempo de tela.
Por outro lado, a série se beneficia imensamente do retorno de Gladys “La Borges” Guerra, cuja presença serve como a ponte perfeita entre as duas produções. As atuações, de modo geral, são intensas e visceralmente autênticas, o que compensa algumas falhas de roteiro e a sensação de que a série, no fim das contas, não traz nada de radicalmente novo.
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Na Lama é, sem dúvida, uma série instigante e bem-sucedida em manter o tom de seu predecessor. É um drama carcerário envolvente, com uma atmosfera opressiva e uma narrativa ágil que prende a atenção. A série explora com coragem as dinâmicas de poder e as estratégias de sobrevivência em um ambiente brutal, e as atuações do elenco são, em grande parte, excelentes.
Contudo, a sensação de que a história é um mais do mesmo se faz presente a todo momento. Apesar de a mudança de perspectiva ser promissora, a série não se aprofunda nela o suficiente, optando por seguir um caminho seguro e já explorado. Para os fãs de El marginal e para aqueles que apreciam dramas intensos e sem rodeios, Na Lama é uma excelente pedida. Mas, se você espera uma revolução no gênero, talvez a lama desta série não seja tão inovadora quanto o seu título sugere.
A série está disponível para assistir na Netflix.