“Pais em Campo” é mais do que uma simples comédia sobre futebol infantil. A nova série da Netflix, criada e estrelada por Ilse Warringa — nome forte da televisão neerlandesa graças ao sucesso “De Luizenmoeder” — mergulha no universo caótico e tragicômico dos pais que projetam suas frustrações nos jogos dos filhos.
Em apenas seis episódios, a série oferece um retrato ácido, por vezes exagerado, mas altamente identificável de uma realidade que transcende fronteiras.
Sinopse da série Pais em Campo (2025)
A trama acompanha Lilian (Ilse Warringa), uma mãe recém-divorciada que só queria ver o filho Levi se divertir jogando futebol em um novo time local. No entanto, o que deveria ser uma atividade leve se transforma em um campo minado emocional, com pais hipercompetitivos, disputas de egos e uma rotina de fim de semana digna de operações militares.
O epicentro dessa confusão é Marenka (Mariana Aparicio), uma mãe controladora e barulhenta, que se autoproclama líder da equipe e transforma qualquer treino em uma crise coletiva.
Enquanto Lilian tenta escapar desse caos, Levi se aproxima de Vito, o filho excêntrico de Marenka, o que a obriga a conviver com aquilo que mais queria evitar. A série transita entre o absurdo e o plausível, explorando as neuroses adultas que eclipsam o real propósito do futebol juvenil: diversão, amizade e espírito de equipe.
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Crítica de Pais em Campo, da Netflix
Ilse Warringa demonstra coragem ao assumir o controle criativo total de “Pais em Campo” — da ideia original ao protagonismo. Sua proposta é clara: rir do comportamento disfuncional dos pais nas arquibancadas.
E ela acerta em cheio nos primeiros episódios, quando a identificação é imediata e os personagens ainda são novidade. Lilian funciona como a bússola emocional da série, com seu olhar perplexo diante de um mundo que beira o delírio coletivo.
No entanto, ao tentar transformar o ordinário em sátira constante, a série tropeça em estereótipos e exageros. A ausência de nuance em figuras como Marenka esvazia parte do humor, tornando-a mais irritante do que engraçada. Quando o público começa a torcer contra a personagem que deveria gerar empatia, o problema não é o realismo — é a falta de equilíbrio na construção dramática.
O elenco: energia alta, profundidade baixa
O elenco de apoio conta com nomes experientes, como Eva van Gessel e René van ’t Hof, e entrega atuações competentes, mas pouco memoráveis. Isso se deve menos à atuação e mais à limitação dos próprios roteiros, que muitas vezes reduzem os personagens a uma única nota cômica.
A exceção é Martin van Waardenberg, que brilha em uma participação pequena, mas certeira, como o dono do clube — sua presença oferece o alívio cômico mais genuíno da temporada.
Levi e Vito, os garotos que deveriam ser o coração da série, acabam relegados ao pano de fundo, mesmo com momentos tocantes de amizade e compreensão mútua. Uma inversão mais intencional de protagonismo poderia ter dado à série o frescor emocional que ela tanto promete, mas raramente entrega.
Humor local e o risco da desconexão
Filmada em um clube real de Amsterdã, a série acerta ao ancorar sua estética no realismo: campos mal cuidados, lanches improvisados, bastidores confusos. Porém, piadas baseadas em referências locais (como o árbitro Kevin Blom ou o “fruta bruta”) podem se perder no público internacional. A tentativa de globalizar uma experiência tão localizada exige mais do que legenda — exige tradução cultural, algo que a série ignora.
Além disso, algumas piadas forçam os limites do bom gosto. O uso de doenças graves como insulto e uma piada infeliz sobre Abdelhak Nouri quebram o tom cômico e causam desconforto desnecessário. São momentos que destoam do que a série faz de melhor: rir das nossas pequenas mesquinharias, não do sofrimento alheio.
O reflexo incômodo do espelho
Apesar dos tropeços, “Pais em Campo” funciona como espelho de um comportamento universal. Quem nunca viu um adulto tratando o jogo do filho como Copa do Mundo? A série extrai humor da vergonha alheia com habilidade, especialmente nos primeiros episódios. O problema é que, ao repetir as mesmas dinâmicas sem aprofundar os personagens, a fórmula começa a se desgastar.
Ainda assim, há algo de valioso na insistência de Warringa em destacar o absurdo cotidiano. Seu objetivo nunca foi criar uma obra-prima dramática, mas sim expor — com um misto de humor e crítica — o quão ridículo pode ser o comportamento adulto quando o ego entra em campo.
Conclusão
“Pais em Campo” é uma comédia observacional que começa com fôlego, mas perde força ao repetir os mesmos clichês sem desenvolver camadas mais profundas. Mesmo assim, tem seus méritos: momentos engraçados, crítica social leve e um retrato fiel — ainda que exagerado — de uma realidade vivida por pais e mães ao redor do mundo.
Ilse Warringa prova mais uma vez que sabe como extrair humor das situações mais banais. Resta torcer para que, em uma eventual segunda temporada, o roteiro aproveite melhor o potencial dos personagens e permita que as crianças — e não apenas seus pais — tenham voz no jogo.
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Onde assistir à série Pais em Campo?
A série está disponível para assistir na Netflix.
Trailer de Pais em Campo (2025)
Elenco de Pais em Campo, da Netflix
- Eva van Gessel
- Ilse Warringa
- Mariana Aparicio
- Leonoor Koster
- Bas Hoeflaak
- Gürkan Küçüksentürk
- Guido Pollemans
- Michiel Nooter
- Arnoud Bos
- Nyncke Beekhuyzen
Ficha técnica da série Pais em Campo
- Título original: Voetbalouders
- Criação: Ilse Warringa
- Gênero: comédia
- País: Holanda
- Temporada: 1
- Episódios: 6
- Classificação: 12 anos
Tente ver dublado, você vai apreciar mais as piadas.