
Foto: A24 / Divulgação
Luca Guadagnino é um cineasta que não teme explorar o desejo e suas complexidades. Seja no romance arrebatador de Me Chame pelo Seu Nome (2017) ou no suspense sensual de Rivais (2024), sua assinatura estética e emocional está sempre presente. No filme “Queer” (2024), adaptação do romance semiautobiográfico de William S. Burroughs, o diretor embarca em uma jornada hipnotizante e desconcertante, marcada por paixão não correspondida, vícios e uma busca desesperada por conexão.
Com Daniel Craig em um de seus papéis mais ousados, o filme nos transporta para a Cidade do México dos anos 1950, onde um escritor expatriado se perde entre o amor, a obsessão e os excessos de uma vida não vivida plenamente. Mas será que Guadagnino consegue equilibrar a melancolia e a fantasia em sua adaptação?
Sinopse do filme Queer (2024)
William Lee (Daniel Craig) é um americano vivendo como expatriado na Cidade do México dos anos 1950. Seu cotidiano se resume a vagar por bares, beber compulsivamente e buscar parceiros sexuais casuais. Tudo muda quando ele conhece Eugene Allerton (Drew Starkey), um ex-soldado de postura contida e personalidade enigmática.
Lee se vê fascinado pelo jovem e embarca em uma jornada obsessiva para conquistá-lo. A relação entre os dois é permeada por silêncios, olhares e incertezas, enquanto o protagonista se debate entre sua paixão avassaladora e a indiferença de Eugene. Quando ambos partem em busca da yagé (ayahuasca) no Equador, a realidade se desfaz em uma espiral de alucinações, tornando a busca por conexão ainda mais desesperadora.
Você também pode gostar disso:
+ ‘Com Você no Futuro’: uma viagem ao passado para redescobrir o amor
+ ‘Hello, Love, Again’ não alcança a grandeza de seu antecessor
+ ‘Viva os Noivos!’ une romance, ação e humor em uma corrida contra o tempo
Crítica de Queer, do Mubi
Desde os primeiros minutos, “Queer” impressiona visualmente. Guadagnino cria uma Cidade do México estilizada e onírica, um ambiente que reflete a sensação de deslocamento de seus personagens. A fotografia de Sayombhu Mukdeeprom realça o contraste entre a atmosfera decadente dos bares e a ilusão de romance que se constrói na mente de Lee. Mas, por mais que a ambientação seja deslumbrante, falta ao filme um eixo narrativo coeso.
A fragmentação do roteiro de Justin Kuritzkes torna a experiência desigual. A primeira parte da trama, focada na obsessão de Lee por Allerton, é densa e cheia de nuances psicológicas, mas sua progressão não parece orgânica. Falta um senso de contexto mais claro: quem é William Lee para além de sua paixão? O que exatamente Allerton representa para ele? O filme sugere respostas, mas nunca as entrega plenamente.
Daniel Craig brilhante
Daniel Craig oferece uma das atuações mais intensas de sua carreira. Seu Lee é vulnerável e desesperado, um homem consumido pelo desejo e pela solidão. O ator se despe (literal e figurativamente) do galã que encarnou em 007, entregando um personagem fragilizado e crúveis. Drew Starkey, por outro lado, tem uma presença intrigante, mas seu personagem carece de camadas. Allerton é um mistério, e essa ambiguidade, embora interessante, limita seu impacto dramático.
A segunda parte do filme, que leva os personagens para o Equador em busca da ayahuasca, é onde Guadagnino radicaliza sua abordagem. A realidade se dissolve em um mar de alucinações, e o filme se entrega à experimentação estética. O problema é que essa transição não é bem amarrada: a obsessão de Lee por Allerton cede espaço a um interesse repentino na telepatia e no escapismo psicodélico, tornando a conclusão da história um tanto difusa.
Guadagnino se esforça para unir a poesia do romance original às demandas de uma narrativa cinematográfica, mas nem sempre obtém sucesso. Diferente da adaptação de Me Chame pelo Seu Nome, que capturava a intensidade do amor juvenil com coesão e fluidez, “Queer” se perde entre a beleza plástica e uma sensibilidade fragmentada. O resultado é um filme que fascina, mas também frustra.
Conclusão
“Queer” é um filme de contrastes: belo e frustrante, intenso e disperso, poético e truncado. Luca Guadagnino demonstra mais uma vez sua maestria na criação de atmosferas envolventes e na exploração do desejo, mas não consegue dar unidade ao material. A falta de um ritmo narrativo coeso prejudica a imersão, e a transição entre os diferentes tons do filme é abrupta demais para que sua mensagem seja plenamente absorvida.
Ainda assim, a atuação de Daniel Craig e a abordagem estilística de Guadagnino garantem momentos memoráveis. “Queer” não é um romance convencional, nem um estudo de personagem totalmente bem resolvido, mas se estabelece como uma experiência cinematográfica singular. Para aqueles que apreciam o cinema sensorial e esteticamente provocador do cineasta, vale a pena a imersão nesse labirinto de desejo e perdição.
Siga o Flixlândia nas redes sociais
+ TikTok
+ YouTube
Onde assistir ao filme Queer?
O filme está disponível para assistir no Mubi.
Trailer de Queer (2024)
Elenco de Queer, do Mubi
- Daniel Craig
- Drew Starkey
- Lesley Manville
- Jason Schwartzman
- Michael Borremans
- Andra Ursuta
- Ariel Schulman
- Drew Droege
Ficha técnica do filme Queer
- Título original: Queer
- Direção: Luca Guadagnino
- Roteiro: William S. Burroughs, Justin Kuritzkes
- Gênero: drama, romance, biografia
- País: Itália, Estados Unidos
- Duração: 137 minutos
- Classificação: 16 anos