Dirigido por Cristina Comencini, o filme “O Trem Italiano da Felicidade” (Il Treno dei Bambini) é uma adaptação emocionante do romance homônimo de Viola Ardone.
Ambientado na Itália devastada pela Segunda Guerra Mundial, o filme mergulha na história de Amerigo, um garoto de Nápoles enviado para viver com uma família no norte do país em busca de uma vida melhor. Em meio à pobreza e ao desespero, o longa explora os laços de amor, sacrifício e o impacto de uma infância marcada por escolhas difíceis.
Sinopse do filme O Trem Italiano da Felicidade (2024)
A trama se passa em 1946, quando a Itália enfrenta os efeitos devastadores da guerra. Amerigo Speranza, de sete anos, vive em condições precárias com sua mãe solteira, Antonietta, em Nápoles. Com poucas perspectivas de futuro, Antonietta toma a difícil decisão de enviar o filho para o norte como parte da iniciativa “Trens da Felicidade”, um programa destinado a oferecer melhores condições de vida para crianças do sul do país.
Ao chegar ao norte, Amerigo é acolhido por Derna, uma mulher que representa um estilo de maternidade mais acolhedor e afetuoso. No entanto, a relação entre Amerigo e sua mãe biológica permanece no centro da narrativa, expondo as tensões e transformações de um período histórico turbulento.
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Crítica de O Trem Italiano da Felicidade, da Netflix
Cristina Comencini constrói um drama sensível que equilibra melancolia e esperança, evitando cair nos clichês do melodrama. A força do filme está na forma como ele humaniza suas personagens femininas. Antonietta (Serena Rossi) é apresentada como uma mãe dura, cujas escolhas são guiadas pela necessidade de sobrevivência, enquanto Derna (Barbara Ronchi) oferece a Amerigo a possibilidade de sonhar, simbolizada pelo violino que ele recebe. Ambas as mães, embora contrastantes, compartilham o mesmo objetivo: proporcionar uma vida digna para o garoto.
A atuação de Christian Cervone como o jovem Amerigo é cativante, capturando a inocência e o desamparo de uma criança deslocada entre dois mundos. As cenas em que ele luta para se adaptar à nova vida no norte são marcadas por uma autenticidade que toca o público.
Por outro lado, a narrativa às vezes simplifica os dilemas políticos e sociais da época, deixando de aprofundar questões como o preconceito entre as regiões e as tensões ideológicas que moldaram o programa “Trens da Felicidade”.
Destaque para a fotografia e a trilha sonora
O trabalho de Italo Petriccione na fotografia merece destaque. Os cenários, que vão das vielas apertadas de Nápoles às paisagens amplas do norte da Itália, capturam o contraste entre os dois mundos vividos por Amerigo. A trilha sonora de Nicola Piovani, com sua delicadeza, amplifica o impacto emocional das cenas, especialmente nos momentos finais, que trazem um fechamento tocante à jornada do protagonista.
No entanto, em determinados momentos, a história parece se apressar, sacrificando o desenvolvimento de coadjuvantes e a complexidade dos eventos históricos. Ainda assim, o núcleo emocional da história — a relação de Amerigo com suas duas mães — permanece forte e envolvente.
Conclusão
“O Trem Italiano da Felicidade” é uma obra que emociona ao retratar um capítulo pouco explorado da história italiana. Embora não alcance a profundidade de outros dramas históricos, o filme se destaca pela sensibilidade com que aborda temas universais como amor, sacrifício e a busca por um futuro melhor.
Cristina Comencini entrega um trabalho visualmente belo e narrativamente sólido, que, embora não isento de falhas, conquista pela autenticidade de suas emoções.
Seja pelo olhar inocente de Amerigo ou pelas complexidades de Antonietta e Derna, o filme nos convida a refletir sobre as escolhas que moldam nossas vidas e as cicatrizes que elas deixam. Para os amantes de dramas históricos com um toque humano, é uma viagem que vale a pena embarcar.
Mas que surpresa legal. Belíssimo filme. Salvou a assinatura do streaming.