“Arturo aos 30” (Arturo a los 30), filme dirigido e protagonizado por Martín Shanly, é uma comédia dramática que desafia os moldes tradicionais ao equilibrar humor absurdo com reflexões profundas sobre a vida.
Vencedor do prêmio de Melhor Diretor no BAFICI, o filme oferece um retrato sincero, às vezes desconfortável, de um jovem adulto preso em uma espiral de autossabotagem e melancolia. Shanly constrói uma narrativa rica em camadas, onde o riso e a tristeza coexistem de maneira singular.
Sinopse do filme Arturo aos 30 (2023)
A história gira em torno de Arturo, um homem na casa dos 30 anos, que enfrenta o que ele mesmo define como “o pior dia de sua vida”: 20 de março de 2020, pouco antes da pandemia de COVID-19 virar o mundo de cabeça para baixo. Nervoso e deslocado, Arturo vai ao casamento de sua ex-melhor amiga, onde a sequência de eventos é marcada por tragédias cômicas e interações desconfortáveis.
A narrativa se desdobra entre flashbacks e o presente, revelando os traumas e dilemas que moldaram sua personalidade. Entre perdas familiares, relacionamentos problemáticos e sua dificuldade em se conectar com o mundo ao redor, Arturo navega por uma noite caótica que reflete o caos interno de sua própria vida.
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Crítica de Arturo aos 30, da Max
Shanly demonstra um domínio excepcional ao explorar a vida caótica e emocionalmente carregada de Arturo. O uso de flashbacks enriquece a narrativa, permitindo ao espectador compreender as nuances do protagonista e a complexidade de suas relações. A capacidade do diretor em mesclar humor com tragédia brilha em momentos como a desastrosa festa de casamento, onde o desconforto de Arturo é tão palpável quanto hilário.
A escolha de Shanly para interpretar o protagonista traz autenticidade ao filme, mas também ressalta a vulnerabilidade de Arturo, que parece estar constantemente fora de sintonia com o mundo ao seu redor. A inspiração em figuras como as de Martín Rejtman é evidente, mas Shanly traz algo único ao transformar o desconforto e a alienação de Arturo em um espelho para a angústia geracional dos millennials.
Humor além do absurdo
O humor de “Arturo aos 30” não se limita ao físico ou ao absurdo, mas também encontra espaço em situações inesperadas e diálogos brilhantemente construídos. Contudo, sob a superfície cômica, reside uma reflexão mais sombria sobre isolamento, culpa e a dificuldade de superar o passado.
A presença de figuras marcantes como a irmã desprezível e a ex-namorada narcisista de seu falecido irmão aprofunda a trama emocionalmente, ao mesmo tempo em que amplifica o sentimento de desconexão do protagonista.
Outro ponto alto do filme é sua abordagem sobre como Arturo contribui para seu próprio sofrimento. O roteiro evita o clichê de atribuir seus problemas ao destino, mostrando que grande parte de suas dores é resultado de escolhas mal feitas e relacionamentos disfuncionais. Isso torna Arturo um personagem tridimensional, com falhas que o tornam tanto cômico quanto trágico.
Conclusão
“Arturo aos 30” é uma obra que transborda autenticidade e originalidade. Shanly consegue capturar a angústia de uma geração sem cair no didatismo ou na caricatura, oferecendo uma comédia dramática que provoca risos e reflexões em igual medida.
Com um roteiro engenhoso e uma direção que equilibra precisão técnica com sensibilidade emocional, o filme solidifica Shanly como uma das vozes mais promissoras do cinema independente argentino. Uma experiência obrigatória para quem busca uma narrativa que vai além do riso fácil, entregando uma história complexa, melancólica e profundamente humana.
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