
Foto: Prime Video / Divulgação
Adaptações teatrais para o cinema sempre enfrentam um dilema: manter a força da palavra dita em cena fechada ou expandir-se na linguagem visual que o audiovisual permite. “Straight”, filme dirigido por Marcelo Tobar, tenta equilibrar essas duas propostas ao adaptar para as telas a aclamada peça homônima de Scott Elmegreen e Drew Fornarola.
Com apenas três personagens, a narrativa gira em torno de conflitos internos, dilemas morais e escolhas que vão muito além do amor. É sobre identidade, medo, desejo e expectativas — tudo condensado em um cenário único, claustrofóbico e simbólico: o apartamento de Roberto.
Sinopse do filme Straight (2025)
Roberto (Alejandro Speitzer) é um banqueiro de 32 anos com uma carreira de sucesso, uma rotina intensa e uma namorada talentosa, Elia (Bárbara López), com quem está há seis anos. Ele tem tudo o que se esperaria de um “homem bem-resolvido”.
Porém, em paralelo à sua vida planejada, mantém encontros casuais com Cris (Franco Masini), um jovem de 20 anos que conhece em um aplicativo de relacionamentos gay.
O que começa como um envolvimento despretensioso se transforma em um espelho incômodo de sua própria verdade, colocando em xeque não só sua sexualidade, mas o sentido de sua vida como ela é construída.
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Crítica de Straight, do Prime Video
Marcelo Tobar decide abraçar a origem teatral da obra, optando por uma encenação fechada, onde quase toda a ação se passa no apartamento de Roberto. A fotografia é cuidadosa, os planos longos ajudam a criar a sensação de peça filmada e a música de Rodrigo Dávila pontua bem os momentos de maior tensão emocional.
No entanto, essa fidelidade ao palco traz um custo: a narrativa, por vezes, parece distante, como se estivéssemos observando os personagens de fora de um aquário. Falta, em certos momentos, tridimensionalidade emocional — uma profundidade que o cinema poderia explorar melhor com recursos visuais e linguagem de câmera mais ousada.
Diálogos entre o clichê e a honestidade
O roteiro, que tenta atualizar a trama ao contexto mexicano contemporâneo, oscila entre acertos sutis e frases previsíveis. Há bons momentos de humor e autocrítica, especialmente nas interações iniciais entre Roberto e Cris, mas também há passagens que parecem coladas de manuais dramáticos sobre “o dilema do armário”.
Em tempos de avanço na visibilidade LGBTQ+, é válido questionar: ainda é relevante falar sobre homens que vivem uma vida dupla? A resposta é sim — justamente porque, apesar de todo o progresso, o preconceito persiste, assim como a heteronormatividade que empurra tantos para esse lugar de silêncio.
Trio central: química desigual, atuações competentes
O elenco reduzido funciona como uma lente de aumento emocional. Alejandro Speitzer, que interpretava o jovem amante no teatro, agora assume o papel do homem dividido, e entrega uma performance contida, mas marcada pela insegurança de quem não sabe onde pertence.
Bárbara López brilha como Elia, equilibrando fragilidade e força em uma personagem que poderia facilmente cair na caricatura da namorada enganada. Já Franco Masini, o argentino que interpreta Cris, traz leveza e um certo frescor, embora sua química com Speitzer oscile em intensidade — talvez pelo tom desigual da direção nas cenas mais íntimas.
Uma história necessária, mas deslocada no tempo
Apesar da relevância do tema, “Straight” carrega a sensação de ser uma obra que teria causado mais impacto em outra década. Em um cenário cinematográfico onde narrativas LGBTQ+ têm ganhado complexidade e pluralidade, o filme parece repetir conflitos já debatidos, sem oferecer uma nova camada de leitura.
Ainda assim, a força do subtexto permanece: existe algo de dolorosamente atual em ver um homem bem-sucedido, amado e respeitado, sufocado pelas expectativas impostas sobre ele — seja pela sociedade, pela carreira ou pelos afetos.
Conclusão
“Straight” é, ao mesmo tempo, uma peça de teatro dentro do cinema e um estudo íntimo sobre escolhas silenciosas. Não é uma obra revolucionária, tampouco um drama arrebatador. Mas é um filme necessário, especialmente por expor que, mesmo em tempos de maior liberdade e diversidade, ainda há muitos que vivem no limite entre quem são e quem precisam fingir ser.
Marcelo Tobar entrega um trabalho digno, ainda que com limitações narrativas e estéticas. O mérito está em trazer à tona, em tela grande, um debate que muitas vezes é deixado para os bastidores. Pode não agradar a todos, pode parecer datado para alguns, mas com certeza vai ressoar em muitos — e isso, no fim, é o que faz o cinema existir.
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Onde assistir ao filme Straight?
O filme está disponível para assistir no Prime Video.
Trailer de Straight (2025)
Elenco de Straight, do Prime Video
- Lara Silva
- Jason Burkey
- Micah Lynn Hanson
- Jesse Metcalfe
- Joseph Callender
- Sarah Stipe
- Rebecca Koon
- Princess Elmore
- Kristen Grace Gonzalez
Ficha técnica do filme Straight
- Título original: Straight
- Direção: Shari Rigby
- Roteiro: Susannah Eldridge, Claire Yorita Lee, Suzanne Niles
- Gênero: romance, drama
- País: Estados Unidos
- Classificação: 12 anos