
Foto: Netflix / Divulgação
Lançado em abril na Tailândia, “Como Ganhar Milhões Antes que a Avó Morra”, de Pat Boonnitipat, tornou-se um verdadeiro fenômeno de público e crítica na Ásia. Quebrando recordes de bilheteria, ultrapassou a marca de 10 milhões de espectadores e ganhou repercussão internacional ao figurar entre os pré-indicados ao Oscar de Melhor Filme Internacional.
A comoção em torno da obra – que conquistou inclusive o TikTok, com vídeos emocionados de espectadores ao redor do mundo – confirma algo importante: o filme emociona, mas sem fazer concessões ao melodrama fácil. Sua força está na observação sutil da transformação de um jovem alienado, em meio à fragilidade da velhice e à iminência da perda.
Sinopse do filme Como Ganhar Milhões Antes Que a Vovó Morra (2024)
M (Putthipong Assaratanakul) é um adolescente preguiçoso, cínico e desinteressado. Entre videogames e transmissões online, ignora a mãe sobrecarregada e sequer demonstra empatia pela avó doente, Amah (Usha Seamkhum). Tudo muda quando ele descobre que sua prima herdou uma casa ao cuidar do avô.
Movido por interesse, M decide então cuidar da avó, com a esperança de garantir uma herança. O que começa como uma aproximação interesseira, aos poucos se transforma em um laço genuíno, construído nos gestos cotidianos, nas rotinas partilhadas e nas pequenas alegrias de um convívio inesperado. No horizonte, a morte de Amah não apenas ronda a narrativa, mas se torna o catalisador silencioso de uma transformação moral.
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Crítica de Como Ganhar Milhões Antes Que a Vovó Morra, da Netflix
À primeira vista, o roteiro de Boonnitipat e Thodsapon Thiptinnakorn parece seguir o manual do melodrama moderno: jovem egoísta, idoso doente, redenção moral, lágrimas garantidas. Mas o que poderia ser um enredo simplista ganha camadas na forma como os conflitos são apresentados.
O filme não se apressa em emocionar. Pelo contrário, escolhe a lentidão do cotidiano para nos envolver. O arco de M não depende de grandes reviravoltas dramáticas, mas da repetição dos dias, da convivência com a avó, da rotina que transforma pouco a pouco.
O tempo como elemento narrativo
Ao se mudar para a casa da avó, o tempo desacelera. As cenas ganham uma cadência quase meditativa. Boonnitipat filma os cômodos, os objetos, os silêncios, com paciência. A câmera percorre a casa como quem revisita uma memória.
Esse cuidado com o ritmo é essencial para que o espectador compreenda a transformação emocional de M, que vai se dando em pequenos gestos – uma sopa servida, uma conversa antes de dormir, um sorriso sem palavras. Não há uma catarse dramática, mas uma reconstrução afetiva que nasce do hábito.
Da comédia à dor: uma transição delicada
O longa começa flertando com o humor, quase uma comédia de costumes, apresentando personagens caricatos e situações absurdas. Mas essa leveza inicial é apenas uma porta de entrada. Logo, o riso dá lugar ao desconforto, à melancolia, à fragilidade da condição humana.
E aqui está um mérito da direção: não há manipulação emocional barata, mas uma condução sensível que respeita a inteligência e o tempo do espectador. A música, por exemplo, acompanha essa transição – os arranjos suaves do piano se tornam mais melancólicos, mais presentes, conforme a despedida se aproxima.
Uma avó que respira verdade
A interpretação de Usha Seamkhum é o coração do filme. Sua Amah é rabugenta, desconfiada, mas também doce e sensível. É uma figura real, longe do estereótipo de avó idealizada. Seamkhum dosa perfeitamente a dureza de quem envelheceu em um mundo ingrato e a ternura de quem ainda encontra sentido nos pequenos prazeres.
Sua construção de personagem é feita em detalhes: os rituais, os objetos que guarda, o jardim, o desejo de um túmulo próprio. Tudo isso contribui para uma imagem tocante da velhice como presença viva, não apenas como símbolo de fim.
Crítica social e familiar sem maniqueísmos
Apesar da sensibilidade, o filme não é condescendente com sua crítica à sociedade contemporânea. Os tios de M representam dois extremos do egoísmo: o trapaceiro e o ausente. Já M inicia sua jornada moral com uma motivação abertamente interesseira.
Boonnitipat não vilaniza seus personagens, mas os coloca frente a escolhas, responsabilidades e perdas. Sua crítica ao individualismo e à erosão dos laços familiares não é feita com dedo em riste, mas com compaixão – ainda que uma compaixão dura, que exige esforço e tempo para se manifestar.
Conclusão
“Como Ganhar Milhões Antes que a Avó Morra” é um filme que emociona sem forçar lágrimas. Sua força está na honestidade com que retrata a velhice, a convivência e o tempo – esse último, o verdadeiro protagonista da história.
Pat Boonnitipat estreia no cinema com um olhar maduro, construindo um drama sutil, agridoce e profundamente humano. Não à toa, o longa se conecta com obras como A Despedida, Assunto de Família e Dias Perfeitos: filmes que olham para as rotinas com olhos poéticos, sem cair no sentimentalismo barato.
É improvável que leve o Oscar, mas isso pouco importa. Sua maior vitória é ter alcançado o coração do público em todo o mundo, despertando algo raro no cinema atual: o desejo de estar mais presente na vida de quem amamos. Talvez, ao sair da sessão, você sinta vontade de ligar para sua avó. E talvez esse seja o verdadeiro legado do filme.
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Onde assistir ao filme Como Ganhar Milhões Antes Que a Vovó Morra?
O filme está disponível para assistir na Netflix.
Trailer de Como Ganhar Milhões Antes Que a Vovó Morra (2025)
Elenco de Como Ganhar Milhões Antes Que a Vovó Morra, da Netflix
- Putthipong Assaratanakul
- Usha Seamkhum
- Sanya Kunakorn
- Sarinrat Thomas
- Pongsatorn Jongwilas
- Duangporn Oapirat
- Himawari Tajiri
- Tontawan Tantivejakul
Ficha técnica do filme Como Ganhar Milhões Antes Que a Vovó Morra
- Título original: Lahn Mah
- Direção: Pat Boonnitipat
- Roteiro: Pat Boonnitipat, Thodsapon Thiptinnakorn
- Gênero: drama, comédia
- País: Tailândia
- Duração: 125 minutos
- Classificação: 10 anos