
Foto: Paris Filmes / Divulgação
No cenário atual do cinema, onde o destino de muitos filmes de gênero de médio orçamento parece selado no vasto e por vezes impiedoso catálogo dos serviços de streaming, emerge “A Linha da Extinção” — ou, como é internacionalmente conhecido, Elevation.
Este longa-metragem de ficção científica pós-apocalíptica, dirigido por George Nolfi e estrelado por Anthony Mackie e Morena Baccarin, chega para cumprir seu destino como um “hit orgânico” nas plataformas digitais, mais especificamente no Prime Video. Mas será que este zumbi, que cambaleou pelos cinemas em 2024 antes de encontrar seu público no streaming, oferece algo além de uma experiência meramente funcional?.
Sinopse
“A Linha da Extinção” nos transporta três anos após um evento cataclísmico: criaturas aterrorizantes emergiram do subsolo, dizimando 95% da população humana em questão de semanas. A salvação para os poucos sobreviventes veio com uma descoberta crucial: esses monstros, batizados de “Reapers”, não conseguem viver acima de uma altitude específica, por volta de 2.500 metros. Assim, os remanescentes da humanidade se refugiaram em acampamentos no topo de montanhas e regiões elevadas, vivendo uma existência de “sobrevivência” ao invés de “vida”.
Nesse cenário desolador, somos apresentados a Will (Anthony Mackie), um pai solteiro cujo filho, Hunter (Danny Boyd Jr.), sofre de problemas respiratórios, necessitando de oxigênio vital. A urgência da situação força Will a embarcar em uma perigosa expedição abaixo da temida “linha da extinção”.
Ele não está sozinho: une-se à cientista Nina (Morena Baccarin), que não só busca remédios, mas também insiste em encontrar uma forma de combater as criaturas e retomar o domínio da Terra. A dupla é acompanhada pela teimosa Katie (Maddie Hasson), uma jovem que lida com a nova realidade e a busca por propósito. A jornada, que se assemelha a uma “sidequest de videogame”, revela segredos pessoais e a essência da luta humana.
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Crítica
“A Linha da Extinção” não inova. O roteiro, assinado por John Glenn, Jacob Roman e Kenny Ryan, cresce e fraqueja justamente onde se espera que filmes desse tipo o façam. Há uma sensação de déjà vu constante, com a trama sendo descrita como genérica e previsível. As comparações com “Um Lugar Silencioso” são inevitáveis e recorrentes, evidenciando sua natureza derivada. Muitos críticos sentiram que o filme não apresentava nada que já não tivessem visto antes no gênero.
Um dos maiores calcanhares de Aquiles reside nos diálogos e na construção dos personagens. Inicialmente, os protagonistas são reduzidos a meros veículos de explicação da mitologia do mundo pós-apocalíptico. Mesmo após a contextualização, as interações entre eles permanecem “duras e inadequadas”, prejudicando a capacidade do público de se apegar a Will, Nina e Katie.
O roteiro peca ao tentar forçar a empatia, por vezes jogando informações de forma aleatória e questionável, como se os personagens já soubessem de tudo há muito tempo. A falta de explicações mais profundas sobre a origem das criaturas, o motivo pelo qual param aos 8.000 pés, ou a ausência de cenas pré-apocalipse, são pontos que deixam o espectador com mais perguntas do que respostas.
Apesar dessas falhas, o filme ensaia um subtexto interessante sobre a condição humana. A trama, embora direta, aborda a experiência interna de uma situação apocalíptica: a distinção entre meramente sobreviver e de fato viver. Nina, com sua busca incessante por uma solução, representa o impulso humano de lutar para recuperar o domínio da Terra, enquanto Will precisa transcender sua fixação na sobrevivência do filho para entender que a verdadeira proteção reside em enfrentar a ameaça maior.
É uma discussão pertinente, mas que talvez merecesse um aprofundamento que o roteiro clichê não entrega. O filme, aliás, termina com um gancho claro para uma continuação, com uma cena pós-créditos que sugere uma nova ameaça de Reapers vindo do céu, após os originais terem emergido do subsolo.
Atuações e personagens: o destaque de Morena Baccarin
Diante das limitações do material, o elenco tem “pouco a fazer a não ser esperar seu momento de brilhar”. Contudo, é Morena Baccarin quem consistentemente se destaca no papel da cientista Nina.
Sua atuação traz nuances e se conectar de forma mais profunda com a personagem, especialmente ao elaborar a contradição do impulso humano de existir e prosperar diante da natureza. Baccarin, que também atua como produtora executiva, consegue injetar sinceridade e carisma em um papel que, em mãos menos capazes, poderia cair no estereótipo.
Anthony Mackie, apesar de ser um nome reconhecível do MCU e produtor do filme, entrega um Will que, para alguns, é um tanto “monótono” ou “sem graça”, focado na devoção ao filho mas unidimensional em seu desenvolvimento. Sua atuação é “satisfatória”, mas o personagem frequentemente serve apenas para expor a mitologia do filme.
Maddie Hasson, como Katie, tem mais oportunidades para ser multidimensional, trazendo uma “paixão rebelde enraizada na crença de que a humanidade pode voltar ao topo da cadeia alimentar”, embora também seja sobrecarregada por monólogos expositivos que tentam acelerar a empatia do público.
Apesar dos esforços do elenco, a falta de personagens verdadeiramente cativantes e de diálogos orgânicos impede que a dinâmica do trio principal carregue o filme em seus momentos mais lentos.
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Ação e visuais: o brilho de George Nolfi
Se “A Linha da Extinção” consegue manter algum ritmo e boa vontade do espectador, isso se deve em grande parte à habilidade do diretor George Nolfi (conhecido por “Os Agentes do Destino”) em conduzir os momentos de ação. Mesmo com recursos limitados, Nolfi demonstra maestria em como e quanto revelar dos “monstrengos de CGI”, garantindo que permaneçam críveis e ameaçadores.
Ele sabe esticar cada perseguição antes que a composição básica se torne um incômodo, criando um thriller sci-fi “improvavelmente esguio, propulsivo e convincente”. A fotografia escura também contribui para tornar as criaturas mais assustadoras, especialmente quando combinada com cenas de silêncio que amplificam a aflição.
As paisagens das Montanhas Rochosas do Colorado são um dos pontos altos do filme, com visuais deslumbrantes que servem como pano de fundo para a narrativa. O trabalho do cinematógrafo Shelly Johnson, com sua “moldura calorosa” dos alpes, torna o apocalipse surpreendentemente belo, com planos longos e aéreos que enfatizam a pequenez humana frente às criaturas e à vastidão da paisagem.
No entanto, nem todos os efeitos visuais são consistentes; uma cena de ação envolvendo um teleférico, por exemplo, é criticada por um chroma key (tela verde) visivelmente ruim que destoa do restante da produção.
Quanto aos monstros, apesar de serem espécies de “percevejos gigantes” ou “transformers” e terem um design genérico e sem inspiração, sua funcionalidade e as limitações impostas pela altitude mantêm a tensão. A revelação de que Nina, uma cientista, descobre um método para matá-los (balas revestidas de cobalto que causam auto-explosão ao atingir os Reapers), oferece um ponto de virada e uma nova esperança para a humanidade.
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Conclusão
“A Linha da Extinção” é um exemplo claro de um filme que, embora não se eleve acima de seus clichês de gênero, tampouco afunda na vala da mediocridade sem sentido. Ele cumpre seu papel como um entretenimento direto e ágil de 90 minutos.
Não é um fracasso, mas também não transcende a fórmula padrão dos filmes de monstro. Para os fãs de filmes B com boa produção, pode haver o suficiente para desfrutar. Em última análise, “A Linha da Extinção” é um passatempo razoável, que oferece boas cenas de ação e um notável desempenho de Morena Baccarin em meio a um roteiro previsível e um enredo clichê.
É o tipo de produção que encontra seu público no conforto do streaming, servindo bem a um domingo à tarde, mas dificilmente deixará uma marca significativa na história do cinema.
Onde assistir ao filme A Linha da Extinção?
O filme está disponível para assistir no Prime Video.
Assista ao trailer de A Linha da Extinção (2024)
Elenco de A Linha da Extinção, do Prime Video
- Anthony Mackie
- Maddie Hasson
- George Nolfi
- Morena Baccarin