
Foto: Netflix / Divulgação
“A Enciclopédia de Istambul”, série turca original da Netflix criada por Selman Nacar, propõe mais do que uma narrativa sobre duas mulheres em momentos diferentes da vida: é uma meditação sobre pertencimento, raízes e a difícil arte de reconstruir-se quando a cidade em que se vive parece já não caber mais dentro de si.
Tendo Istambul não apenas como pano de fundo, mas como personagem viva e pulsante, a série retrata as trajetórias de Zehra e Nesrin — duas mulheres cujos caminhos se entrelaçam, revelando mais semelhanças do que o olhar superficial poderia imaginar.
Sinopse da série A Enciclopédia de Istambul (2025)
Zehra (Helin Kandemir), uma jovem estudante vinda do interior da Turquia, chega a Istambul cheia de sonhos e expectativas, especialmente com o desejo de tornar-se arquiteta e viver a tão idealizada liberdade urbana. Hospedada na casa de Nesrin (Canan Ergüder), uma amiga distante de sua mãe, ela se depara com um mundo de contrastes e descobertas — sobre si, sobre a cidade e sobre as pessoas.
Nesrin, por sua vez, é uma mulher madura e bem-sucedida profissionalmente, mas emocionalmente exausta, que se prepara para deixar Istambul e começar uma nova vida na França. Enquanto uma chega, a outra parte. Enquanto uma busca raízes, a outra tenta se libertar delas. Entre silêncios, tensões e afetos inesperados, elas embarcam em uma jornada de espelhos e pertencimento.
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Crítica de A Enciclopédia de Istambul, da Netflix
A principal força da série está no contraste entre Zehra e Nesrin. Zehra representa a esperança, a inocência, o idealismo de quem ainda acredita que a cidade grande transformará sua vida. Nesrin encarna o cansaço, a frustração silenciosa e a decepção de quem já tentou ser muitas versões de si mesma e agora apenas deseja paz.
Essa oposição, no entanto, não é binária — ao longo dos episódios, percebemos que uma se vê na outra. Há algo profundamente humano no modo como essas duas figuras femininas se conectam, não por afinidade imediata, mas por reconhecerem, em suas diferenças, as marcas de um mesmo dilema: como ser fiel a si mesma em um mundo que vive tentando moldar quem você deve ser?
A cidade como personagem viva
Istambul não é cenário, é protagonista. Selman Nacar filma a cidade com um olhar quase documental, revelando sua beleza, sua complexidade, sua tensão entre tradição e modernidade. A proposta de Zehra registrar sua jornada arquitetônica pela cidade, proposta em sala de aula, serve como fio condutor para revelar ao público uma Istambul íntima, contraditória e viva.
Cada rua, prédio ou esquina guarda uma memória — para Zehra, uma descoberta; para Nesrin, um fardo. A série nos convida a enxergar a cidade não como um espaço neutro, mas como uma extensão dos afetos e dores de quem a habita.
Um retrato delicado da identidade feminina
A narrativa também se debruça sobre os desafios que mulheres enfrentam ao tentarem ser fiéis às suas próprias escolhas. Zehra, vinda de uma criação conservadora, experimenta a culpa por desejar liberdade e autonomia.
Já Nesrin, mesmo após uma vida inteira dedicada à carreira e à independência, percebe-se presa a memórias que já não fazem sentido. A série não toma partido, e isso é seu maior mérito: ela respeita as contradições de suas personagens e entende que toda escolha feminina é política, mas também profundamente pessoal.
Atuações que elevam o material
Helin Kandemir entrega uma atuação sensível, equilibrando juventude e vulnerabilidade com grande precisão. Já Canan Ergüder imprime a Nesrin uma profundidade que só se revela aos poucos — como quem caminha na neblina, mas sabe para onde precisa ir.
As duas atrizes se completam em cena, criando uma dinâmica que não precisa de grandes diálogos para ser potente. O silêncio, os gestos e os olhares são tão importantes quanto as palavras.
Ritmo e formato: o calcanhar de Aquiles
Se há algo que joga contra a série é sua duração. Ainda que a proposta intimista peça uma narrativa mais contemplativa, “A Enciclopédia de Istambul” por vezes se alonga demais em seus conflitos, repetindo algumas ideias que já haviam sido bem estabelecidas.
Talvez o mesmo enredo ganhasse mais força se condensado em uma minissérie de quatro episódios ou mesmo em um longa-metragem. O excesso de tempo enfraquece parte do impacto emocional e pode afastar espectadores mais impacientes.
Conclusão
“A Enciclopédia de Istambul” é um retrato sensível e realista sobre a relação que temos com os lugares e com nós mesmos. Não é uma série para quem busca grandes reviravoltas ou picos dramáticos, mas sim para quem está disposto a escutar os silêncios de duas mulheres em busca de pertencimento.
Ao fim, percebemos que Zehra e Nesrin não são opostas — são partes de uma mesma trajetória, em tempos diferentes. E Istambul, com todas as suas camadas e cicatrizes, é o espelho onde elas se reconhecem. Uma obra tocante, com atuações memoráveis e uma reflexão profunda sobre o que é, afinal, sentir-se em casa.
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Onde assistir à série A Enciclopédia de Istambul?
A série está disponível para assistir na Netflix.
Trailer de A Enciclopédia de Istambul (2025)
Elenco de A Enciclopédia de Istambul, da Netflix
- Canan Ergüder
- Helin Kandemir
- Kaan Miraç Sezen
- Tolga Tekin
- Nezaket Erden
- Ecem Sena Bayır
- Ebrar Karabakan
- Kerem Atasavun
- Grégory Montel
- Pelin Batu
Ficha técnica da série A Enciclopédia de Istambul
- Título original: Istanbul Ansiklopedisi
- Gênero: drama
- País: Turquia
- Temporada: 1
- Episódios: 8
- Classificação: 12 anos