Na escuridão de uma floresta, duas crianças Krahô enfrentam o desconhecido, simbolizado por um boi, que prenuncia o massacre iminente. É assim que o filme “A Flor do Buriti” se abre, com uma intensidade visual e emocional que nos coloca no cerne da luta pela sobrevivência e dignidade dos povos indígenas do Brasil.
O filme, dirigido por João Salaviza e Renée Nader Messora, oferece um retrato íntimo e político da aldeia Pedra Branca e de seu povo, os Krahô, enquanto enfrentam o passado violento e as ameaças atuais.
Sinopse do filme A Flor do Buriti (2023)
O longa percorre múltiplas camadas temporais para contar a história de resistência e luta dos Krahô pela proteção de suas terras. Através de narrativas sobre invasões do agronegócio, disputas pela demarcação territorial e episódios de repressão, como a criação da Guarda Rural Indígena (GRIN) durante a Ditadura Militar, “A Flor do Buriti” mistura ficção e documentário para dar voz a uma cultura em risco.
Os protagonistas Pratpro e Hyjno lideram uma nova geração que, em tempos recentes, leva suas reivindicações a Brasília, em um clamor pela sobrevivência física e cultural.
Você também pode gostar disso:
+ ‘A Substância’ e a busca insana pelo padrão de beleza
+ ‘Meu Filho, Nosso Mundo’ e a importância de aceitar as pessoas como elas são
+ ‘Livre – Encanto Criminal’ merecia uma exploração mais densa do personagem
Crítica de A Flor do Buriti, da Netflix
A estrutura híbrida de “A Flor do Buriti” – mesclando documentário e ficção – evoca uma poética própria, que valoriza tanto os aspectos cotidianos quanto os episódios dramáticos da história Krahô.
Salaviza e Nader Messora, ambos diretores externos à cultura indígena, adotam uma postura de respeito e imersão, evitando o olhar exótico ou voyeurístico que frequentemente caracteriza produções sobre povos originários.
A escolha de captar os Krahô em suas atividades diárias, suas histórias e mitos, sem interferir ou criar uma narrativa ocidental linear, reflete um compromisso genuíno de representação.
Aproximação sem invasão
A câmera de Salaviza e Nader Messora aproxima-se dos personagens sem invadir, celebrando a beleza de sua cultura e sua conexão com a terra.
Um exemplo marcante é a cena inicial, em que o olhar das crianças se cruza com o do boi, uma espécie de cavalo de Tróia, símbolo das invasões dos “cupês” (como os brancos são chamados).
As imagens são carregadas de simbolismo e uma carga emocional que torna o espectador cúmplice da luta e dos dilemas vividos pelos Krahô.
Crítica política
Ao mesmo tempo, a narrativa incorpora elementos de crítica política, especialmente ao refletir sobre os impactos do governo Bolsonaro e o apoio ao agronegócio nas regiões indígenas.
Entretanto, em certos momentos, essa crítica explícita soa desconexa com o tom contemplativo do filme, quebrando a imersão e reforçando a sensação de uma intervenção direta que talvez não se encaixe totalmente na proposta de cinema poético adotada até então.
Conclusão
“A Flor do Buriti” mistura a resistência ancestral com o peso de um presente incerto e ameaçador. Sua narrativa não apenas convida à empatia e ao conhecimento das lutas dos Krahô, mas também faz um apelo ao espectador para refletir sobre seu próprio papel e responsabilidade em relação aos povos indígenas e ao meio ambiente.
A força do filme reside na coragem de expor, através de uma lente poética, a história e as raízes desse povo. É um lembrete poderoso de que a luta pela preservação da cultura e do território indígena é, ao mesmo tempo, uma luta pela vida no planeta.
Siga o Flixlândia nas redes sociais
+ Instagram
+ Twitter
+ TikTok
+ YouTube
Onde assistir ao filme A Flor do Buriti?
O filme está disponível para assistir na Netflix.
Trailer de A Flor do Buriti (2023)
Elenco de A Flor do Buriti, da Netflix
- Ilda Patpro Kraho
- Francisco Hyjno Kraho
- Solane Tehtikwyj Krahô
- Raene Kôtô Krahô
- Débora Sodré
- Luzia Cruwakwyj Kraho
Ficha técnica do filme A Flor do Buriti
- Direção: Renée Nader Messora, João Salaviza
- Roteiro: Francisco Hyjno Kraho, Ilda Patpro Kraho, Henrique Ihjãc Krahô, Renée Nader Messora, João Salaviza
- Gênero: drama
- País: Brasil, Portugal
- Ano: 2023
- Duração: 124 minutos
- Classificação: 12 anos
3 thoughts on “‘A Flor do Buriti’ é um belo retrato da resistência indígena”