O drama taiwanês A Garota Canhota, dirigido por Shih-Ching Tsou em sua estreia solo, mas coescrito e editado por Sean Baker, é uma exploração visceral e empática da luta feminina, resiliência e tradição na agitada cidade de Taipei.
Filmado inteiramente com um iPhone para capturar uma autenticidade quase documental, o filme acompanha três gerações de mulheres – Shu-Fen, I-Ann e a pequena I-Jing – enquanto tentam sobreviver a dificuldades financeiras e aos pesados fardos das expectativas culturais.
Embora a trama seja rica em lutas cotidianas — Shu-Fen (Janel Tsai) tentando manter seu pequeno stand de macarrão, I-Ann (Shih-Yuan Ma) trabalhando como “betel nut beauty”, e a dívida crescendo após Shu-Fen arcar com os custos hospitalares e funerários do ex-marido — o clímax emocional se constrói a partir de dois grandes confrontos: a verdade sobre a mão esquerda de I-Jing e a revelação bombástica de I-Ann.
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Final explicado de A Garota Canhota: o que é a Mão do Diabo?
A superstição que moldou a culpa de I-Jing
Um dos temas centrais de A Garota Canhota é a superstição cultural taiwanesa que associa a canhotice ao azar ou ao desrespeito, sendo a mão esquerda referida pelo avô de I-Jing como a “mão do diabo”. A pequena I-Jing (Nina Ye), que recém-conheceu os avós e não tem lembranças deles da primeira infância, internaliza essa crença profundamente.
A menina passa a usar essa superstição como uma desculpa para pequenos furtos no mercado noturno, convencendo-se de que os atos não são dela, mas sim obra do diabo. Essa teoria da “mão do diabo” serve como uma justificativa perfeita para I-Jing obter as coisas que queria sem envolver a mãe, cuja luta financeira ela já havia percebido. A crença se intensifica após a morte acidental de seu furão de estimação, que cai da varanda depois que ela joga uma bola com a mão esquerda. Ela chega a amarrar a mão com um pano, considerando até cortá-la.
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Como o roubo involuntário salvou a família?
No entanto, a “mão do diabo” acaba, sem querer, ajudando a família. I-Jing testemunha a avó se recusar a ajudar Shu-Fen financeiramente (a avó, por sua vez, estava envolvida em um esquema de imigração ilegal para pagar vitaminas caras). Tentando aliviar a situação da mãe, I-Jing remove o pano e usa a mão esquerda para roubar um envelope da avó, que continha passaportes.
Embora ela tentasse vender o conteúdo em uma loja de penhores (o que leva o penhorista a contatar a família), o roubo acabou salvando a avó. No dia seguinte, a polícia apareceu na casa da avó, mas não encontrou evidências de seu envolvimento com o esquema, pois os documentos haviam sumido. A avó, agradecida pelo “milagre” e descobrindo a verdade, finalmente se dispôs a cobrir o aluguel de três meses de Shu-Fen.

A revelação final de A Garota Canhota: por que I-Ann chamou a avó de ‘bisavó’?
O ápice do drama familiar ocorre durante a festa de aniversário da mãe de Shu-Fen. O evento é marcado por tensões evidentes, incluindo a preferência cultural asiática pelo filho homem (a avó agradece primeiramente ao filho por “simplesmente existir” e financia o novo negócio dele). A situação degringola quando A-Ming (o chefe e amante casado de I-Ann) e sua esposa aparecem, enfurecidos com I-Ann por ter feito um aborto, especialmente porque eles planejavam adotar a criança se fosse um menino.
Após a confusão e a vergonha pública, I-Ann, já alcoolizada, sobe ao palco com I-Jing. Ela então insiste que I-Jing chame sua avó de “bisavó”. Inicialmente, todos pensam que é um erro, mas I-Ann anuncia publicamente que é a mãe de I-Jing, e não sua irmã.
Qual é o significado cultural de ‘perder as aparências’?
A revelação de I-Ann quebra um segredo mantido por anos. Shu-Fen havia implorado a I-Ann para nunca divulgar a verdade, temendo que a maternidade precoce (que a fez abandonar a escola) prejudicasse o futuro de I-Ann, especialmente no mercado de casamentos. Mentir era visto como a única maneira de “salvar as aparências” (em inglês, saving one’s face), um conceito central na cultura asiática que se refere à manutenção da dignidade e reputação social.
I-Ann, no entanto, estava exausta do sofrimento emocional silencioso e sentia que a mãe se preocupava mais em salvar a própria imagem do que com o tormento interno da filha. Ao expor a verdade, ela confronta o ciclo vicioso onde as filhas são essencialmente vistas como portadoras da “dignidade” da família, e qualquer erro as transforma em desgraça social. A própria Shu-Fen é acusada por sua mãe de fazê-la “perder as aparências”.
O final explicado de A Garota Canhota: o caleidoscópio da reconstrução familiar
A última cena do filme sugere que, após a “tempestade”, a vida continua. A família (Shu-Fen, I-Ann e I-Jing) volta à sua rotina na barraca de macarrão, um ato simples que simboliza a necessidade de seguir em frente apesar das feridas abertas.
I-Jing, que talvez não tenha entendido completamente o que aconteceu na noite anterior (ela pode ter ficado traumatizada pelo confronto físico e verbal), continua chamando I-Ann de irmã, e I-Ann decide não corrigi-la. Este gesto sugere que I-Ann escolhe a consideração e o cuidado em vez do confronto.
I-Ann, que precisava tirar o peso da verdade do peito, agora tenta fazer as pazes ajudando a mãe no stand de macarrão. Johnny, o colega vendedor que demonstrou gentileza a Shu-Fen, aparece com um abajur colorido para iluminar o local, um pequeno sinal de esperança em meio ao caos.
O significado da redenção de I-Jing e as lições aprendidas
O final de A Garota Canhota não oferece um fechamento perfeito, mas reconhece a continuidade das vidas, cheias de desafios e afeto humano.
O desfecho consolida as lições aprendidas por cada personagem:
1. I-Ann percebe que culpar a mãe não melhora sua realidade e que ela precisa encontrar seu próprio caminho.
2. Shu-Fen entende que precisa, às vezes, apenas ouvir a filha e compreender suas dores, além de cumprir suas responsabilidades.
3. I-Jing tem a lição mais crucial: ela é a única responsável por suas ações. Quando I-Ann a obriga a devolver os itens roubados do mercado noturno, I-Jing finalmente entende que seus atos são dela, desfazendo o mito da “mão do diabo”.
O filme começa e termina com a imagem de um caleidoscópio. Essa metáfora visual sugere que a família é composta por indivíduos “quebrados” (lutando para encontrar seu caminho na vasta cidade), mas que, ao se unirem, formam novos e belos padrões. As dificuldades que enfrentam, de certa forma, os moldaram e os uniram como uma família resistente ao caos urbano.
A Garota Canhota é um lembrete de que, mesmo em meio a segredos, lutas financeiras e tradições opressivas, a verdade e a autonomia afetiva (como a reconquista da identidade de I-Jing e a decisão de I-Ann de falar) são mais libertadoras do que qualquer ensinamento cultural imposto. Assim como o caleidoscópio, o drama familiar de Tsou mostra que, apesar do quão bagunçadas as peças possam estar, juntas elas criam uma imagem única e forte.















