Meu caro leitor, bem-vindo! Em “A Natureza das Coisas Invisíveis”, primeiro longa-metragem de Rafaela Camelo — reconhecida pela crítica como uma das vozes mais promissoras do cinema brasileiro —, somos conduzidos por uma história que toca em duas forças invisíveis que moldam nossas vidas desde cedo: a morte e a identidade. E o filme faz isso com tamanha delicadeza que termina por nos lembrar de como certas verdades só se revelam quando vistas pelos olhos das crianças.
Apresentado no 75º Festival de Berlim e vencedor de três prêmios no 53º Festival de Gramado (Prêmio Especial do Júri, Melhor Atriz Coadjuvante para Aline Marta Maia e Melhor Trilha Sonora Original para Alekos Vuskovic), o longa trata de temas profundos sem pressa e sem alarde.
Afinal, assim como descobrimos um dia que Papai Noel não existe, também chega o momento em que entendemos, ainda na infância, que as pessoas não desaparecem — elas morrem. E, a partir daí, começamos nossa caminhada por entre as bordas invisíveis da vida.
Sinopse
Glória (a encantadora Laura Brandão) passa suas férias acompanhando a mãe, Antonia (Larissa Mauro), em seus longos plantões no hospital onde trabalha. É ali que conhece Sofia (Serena), uma menina de sua idade que aguarda notícias da bisavó Francisca (Aline Marta Maia), internada após sofrer uma queda.
À espera de sua mãe, Simone (Camila Márdila), Sofia passa o dia no hospital — e nasce dessa convivência um vínculo doce e imediato entre as meninas. A partir daí, o filme acompanha não apenas essa amizade, mas a delicada rede de relações entre as mulheres da família: a fragilidade de Francisca, a exaustão de Simone e a sensibilidade com que Glória observa tudo ao redor.
➡️ Quer saber mais sobre filmes, séries e streamings? Então acompanhe o trabalho do Flixlândia nas redes sociais pelo INSTAGRAM, X, TIKTOK, YOUTUBE, WHATSAPP, e GOOGLE NOTÍCIAS, e não perca nenhuma informação sobre o melhor do mundo do audiovisual.
Resenha crítica do filme A Natureza das Coisas Invisíveis
Quando Simone é informada de que sua avó não pode mais cuidar de Sofia sozinha, vê-se diante de um impasse doloroso: precisa trabalhar, mas também precisa reassumir integralmente os cuidados da filha. A mudança abala tanto mãe quanto filha, enquanto Francisca — antes serena no sítio onde vivia — perde parte de seu equilíbrio emocional ao ser trazida para a cidade.
É nesse contexto que Antonia oferece ajuda e que acompanhamos um mergulho no Brasil de dentro: a fé popular, as ervas, os rituais, as orações, o conhecimento intuitivo das mulheres do interior. Esses elementos entram na narrativa de forma suave, como se trouxessem um tipo de cura silenciosa, em contraste com a lógica fria e hospitalar.

Reflexões singelas
Entre esses momentos, o filme nos presenteia com uma das reflexões mais singelas e simbólicas da história. Observando uma revista com fotos de piscinas de borda infinita, Sofia questiona — em pensamento, gesto ou olhar — a contradição daquela expressão: como algo pode ter “borda infinita” se o infinito, por definição, não tem borda?
É uma dúvida infantil carregada de filosofia, que dialoga diretamente com o título do filme: os limites, as fronteiras e tudo aquilo que existe além do que conseguimos ver.
E é também na convivência com Glória que o filme aborda, com enorme cuidado, as duas “coisas invisíveis” que estruturam a narrativa: a morte — presente como sombra delicada na vida da família — e a identidade de Sofia, revelada à amiga em uma conversa íntima, recebida com a naturalidade de quem ainda não domina totalmente o sentido das palavras. Para as crianças, nada disso surge como tabu; são apenas mistérios da vida que elas aceitam do jeito que conseguem, enquanto seguem crescendo.
Rafaela Camelo conduz tudo com tamanha sensibilidade que os silêncios e os pequenos gestos falam mais do que longas explicações.
Conclusão
A transexualidade, tratada com enorme respeito e poesia, não é o centro da narrativa — mas uma das camadas invisíveis que a diretora ilumina com cuidado. Assim como a finitude, ela aparece como parte do que construímos, do que somos e do que deixamos para trás.
Acima de tudo, o filme é sobre conexão: o que levamos das pessoas que amamos, o que permanece quando alguém parte e como nos transformamos através dos laços que criamos aqui.
Glória, com sua serenidade, parece compreender — mesmo sem entender completamente — que a vida é feita dessas forças invisíveis que moldam tudo sem jamais se mostrarem por completo.
Belo, sensível, com trilha de MPB lindíssima, direção precisa e um final tocante que permanece ecoando quando a tela escurece.
Vale a pipoca grande, com refri e muito gelo.
Onde assistir ao filme A Natureza das Coisas Invisíveis?
O filme estreia nesta quinta-feira, 27 de novembro de 2025, exclusivamente nos cinemas brasileiros.
Trailer de A Natureza das Coisas Invisíveis (2025)
Elenco do filme A Natureza das Coisas Invisíveis
- Laura Brandão
- Serena
- Larissa Mauro
- Camila Márdila
- Aline Marta Maia














