Mais de uma década após o lançamento do sul-africano Amor Demi-Sec, a Netflix resgata essa franquia com uma continuação inesperada: “Amor Demi-Sec 2”. A promessa? Mais uma dose de romance leve, mentiras convenientes e situações caóticas que, em tese, resultariam em risadas e suspiros.
No entanto, o que deveria ser uma comédia despretensiosa se revela uma narrativa problemática, que escorrega em temas sensíveis como maternidade, relações profissionais e o papel da mulher na escolha sobre ter (ou não) filhos.
Com roteiro assinado por uma equipe extensa e direção de Joshua Rous, o longa tenta reviver o charme do primeiro filme, mas entrega uma continuação antiquada, repleta de estereótipos ultrapassados e mensagens questionáveis.
Qual a história de Amor Demi-Sec 2?
Jaci e JP, agora um casal estabelecido e influente no mundo da publicidade, disputam um contrato com uma marca de produtos infantis. O problema? A empresa valoriza candidatos que sejam pais. Para agradar a exigente CEO Marietjie, decidem forjar uma imagem de família ideal.
Com a ajuda dos amigos Karla e Hertjie, passam a fingir que são os pais do pequeno Henry. Mas, como toda mentira tem perna curta, manter a fachada logo se transforma em um jogo arriscado. Paralelamente, Jaci descobre que está grávida e opta por esconder a informação de JP, temendo que isso abale a relação e sua carreira.
Entre viagens, fraldas, simulações de vida familiar e decisões morais duvidosas, o casal precisa decidir o que é real: a imagem construída nas redes ou os sentimentos (e responsabilidades) que surgem pelo caminho.
Crítica de Amor Demi-Sec 2, da Netflix
O roteiro de Amor Demi-Sec 2 segue a cartilha da comédia romântica com disciplina excessiva. Temos o casal que finge ser o que não é, os rivais caricatos, o bebê que muda tudo e, claro, o conflito que desemboca numa “revelação transformadora”. O problema não está na previsibilidade do formato — que pode funcionar quando bem executado — mas no conteúdo superficial e, por vezes, retrógrado.
A ideia de que a realização plena só acontece com filhos não é apenas insistente: é imposta com uma sutileza duvidosa. A transformação de Jaci de profissional convicta a mãe devotada se dá sem debate, reflexão ou qualquer nuance. A gravidez “milagrosa” resolve conflitos mal construídos, como se bastasse colocar uma barriga no roteiro para encerrar discussões complexas sobre maternidade e autonomia.
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Quando comédia ignora o tempo em que vivemos
Se o primeiro filme já apostava em fórmulas antigas, a sequência parece presa no passado. A crítica social que poderia emergir do contexto — como o uso da maternidade como moeda profissional — é ignorada em favor de gags infantis e um humor datado.
A narrativa até brinca com o absurdo da mentira, mas evita a sátira inteligente. Em vez disso, opta por piadas previsíveis, situações forçadas e reviravoltas que apenas reforçam a ideia de que mulheres devem “amadurecer” ao aceitarem a maternidade como caminho natural.
A decisão de Jaci de esconder a gravidez e temer a reação de JP é tratada como histeria hormonal, o que reforça estereótipos ultrapassados. E a resolução? Uma virada emocional que não convence, construída sem profundidade e com um verniz de “felicidade forçada”.
Elenco afiado preso a personagens rasos
O elenco faz o possível. Anel Alexander e Nico Panagio, que voltam aos papéis de Jaci e JP, mantêm certa química e cumprem bem o que o roteiro exige. Também se destacam os coadjuvantes, como Sandra Vaughn (Karla) e Louw Venter (Hertjie), que entregam humor físico e boa presença.
No entanto, os personagens são mal desenvolvidos. As motivações mudam sem justificativa plausível e a evolução emocional do casal protagonista é atropelada. A tentativa de emocionar falha porque o filme nunca aprofunda de verdade seus dilemas — apenas os simplifica.
Visual genérico e direção acomodada
Visualmente, Amor Demi-Sec 2 lembra mais um telefilme de streaming do que uma produção cinematográfica ambiciosa. Ambientes genéricos, iluminação artificial e trilha sonora funcional contribuem para a sensação de um produto feito para “encher catálogo”.
A direção de Joshua Rous não arrisca. A câmera segue o básico, e os momentos que poderiam render cenas memoráveis se dissolvem em uma montagem apressada e artificial. Até mesmo as situações caóticas, que deveriam ser hilárias, soam coreografadas demais para serem espontâneas.
Conclusão
Amor Demi-Sec 2 é uma comédia romântica que tenta repetir o sucesso do original, mas se perde em clichês batidos e mensagens ultrapassadas. Ao invés de evoluir com o tempo, a continuação insiste em reforçar estereótipos sobre maternidade, carreira e relacionamentos que já não cabem no mundo atual.
Com um elenco esforçado e uma premissa que poderia render boas discussões, o filme escolhe o caminho mais fácil — e mais raso. Seu humor parece saído de outra década, e a mensagem final, ao invés de reconfortar, apenas alimenta ideias conservadoras disfarçadas de romance leve.
Se você procura uma comédia sem muitas pretensões e está disposto a ignorar os tropeços ideológicos, talvez valha pela nostalgia ou pelo elenco. Mas se espera algo mais alinhado com os debates contemporâneos sobre maternidade, autonomia e amor, Amor Demi-Sec 2 dificilmente vai te agradar.
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Onde assistir ao filme Amor Demi-Sec 2?
O filme está disponível para assistir na Netflix.
Assista ao trailer de Amor Demi-Sec 2 (2025)
Elenco de Amor Demi-Sec 2, da Netflix
- Anel Alexander
- Nico Panagio
- Louw Venter
- Sandra Vaughn
- Diaan Lawrenson
- Neels Van Jaarsveld
- Hélène Truter