“As Loucuras”, de Rodrigo García, é um filme que se destaca pela habilidade de captar as complexidades da vida interior das mulheres, em um cenário duro, comum e familiar. O diretor, apesar do peso do sobrenome — filho do Nobel Gabriel García Márquez — constrói sua voz própria, oferecendo uma narrativa que se equilibra entre a fragilidade emocional e a contenção dramática.
O filme é uma jornada profunda pela mente feminina, ambientada na Cidade do México, onde seis mulheres compartilham um dia repleto de dilemas pessoais que as testam em diferentes níveis.
Sinopse
O filme entrelaça vidas distintas e histórias paralelas de mulheres enfrentando suas próprias “loucuras” em um único dia. Renata está em prisão domiciliar, falando com estranhos pela janela; Penélope conforta aqueles que se despedem de seus cães; Irlanda, uma psiquiatra, encara uma crise que desafia tudo que aprendeu; e Sole, atriz, busca entender onde termina a personagem e começa sua dor pessoal.
Suas vidas não se cruzam diretamente, mas ecoam umas nas outras, criando uma teia de emoções que explora resistência, vulnerabilidade e a luta pela liberdade emocional.
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Resenha crítica do filme As Loucuras
O que poderia parecer um amontoado de histórias desconexas ganha unidade graças a uma fluidez narrativa impressionante. Cada segmento não só focaliza uma personagem, mas revela o momento exato em que essa personagem se encontra à beira de uma ruptura emocional, lutando com seus ideais, desejos e integridade.
Essa estrutura fragmentada expressa a ruptura universal das expectativas sociais e pessoais, que torna o filme um dos clássicos instantâneos do cinema latino-americano recente.
Rodrigo García evita o melodrama barato. Ele equilibra os altos e baixos das emoções com personagens que agem tanto na ruptura quanto na resistência. Por exemplo, a presença de personagens mais contidos mostra que a serenidade pode ser tão potente quanto a explosão emocional. A narrativa se desenrola com calma e certeza, e mesmo os diálogos, que parecem quase teatrais, incorporam o sentimento intenso da realidade cotidiana.

A força do elenco na transmissão da vulnerabilidade
Um dos maiores trunfos do filme é o conjunto de atores que trazem à tona as nuances e complexidades dos personagens. Cassandra Ciangherotti, Ilse Salas, Adriana Barraza, entre outras, entregam atuações que exploram com precisão as emoções humanas.
O segmento protagonizado por Ángeles Cruz, especialmente durante uma reunião familiar, é um ponto alto que mistura silêncio e explosão em um monólogo carregado de emoção, que poderia rivalizar com a grande tradição das artes dramáticas.
A autenticidade das interpretações impulsiona a credibilidade das histórias, afastando a superficialidade e mantendo o espectador imerso em um ambiente que parece vivo e palpável.
O olhar social e político por trás das histórias pessoais
Rodrigo García não se limita a contar histórias íntimas; ele também lança um olhar crítico e sutil sobre as estruturas sociais que regem a vida das mulheres. A prisão domiciliar de Renata simboliza as restrições impostas pela sociedade ao corpo e à mente femininos. A dinâmica entre fé, desejo e controle é explorada como um dispositivo que limita ou reforça essas mulheres em sua busca por autonomia.
Além disso, o filme expõe a hipocrisia social e o peso da conformidade disfarçada de sanidade. O desequilíbrio entre a liberdade e o silêncio imposto é mostrado de forma honesta, sem discursos grandiosos, mas através de pequenos gestos e diálogos carregados de significado.
Técnica cinematográfica e ritmo contemplativo
A fotografia cria uma atmosfera que dialoga com a tensão emocional das histórias, usando luz e chuva para construir um cenário onde tudo parece prestes a transbordar. A câmera se mantém a certa distância, em um equilíbrio instável que aumenta a sensação de empatia e estranhamento.
A montagem segue um ritmo quase meditativo, dando espaço para o espectador sentir o peso emocional sem pressa, o que é indispensável para a densidade do relato.
Esse ritmo lento, entretanto, pode não agradar a todos. O filme não busca entretenimento leve, mas sim uma reflexão profunda e emocionalmente intensa, que pode ser exaustiva para alguns.
Conclusão
“As Loucuras” é um testemunho poderoso da capacidade do cinema autoral para explorar a complexidade da experiência humana, especialmente a feminina, sem recorrer ao espetáculo. É uma obra que respeita o silêncio, a pausa, e as pequenas tremuras que compõem a vida real. O filme sugere que a verdadeira lucidez vem de aceitar as feridas internas, convivendo com elas em vez de mascará-las.
Essa obra merece ser vista por quem valoriza filmes que emocionam, desafiam e fazem pensar, mesmo que exijam paciência e sensibilidade. Rodrigo García se firma aqui como um cronista singular da vida cotidiana, com uma visão que permanece na memória muito tempo depois do final.
Onde assistir ao filme As Loucuras?
Trailer de As Loucuras (2025)
Elenco do filme As Loucuras
- Cassandra Ciangherotti
- Alfredo Castro
- Ángeles Cruz
- Natalia Solián
- Naian González Norvind
- Raúl Briones
- Ilse Salas
- Fernanda Castillo
- Vicky Araico
- Adriana Barraza















