A Netflix sul-coreana encerra o ano apostando alto em um gênero que, convenhamos, já anda bem saturado. Entre o cansaço das franquias da Marvel/DC e o sucesso recente de doramas como Em Movimento, surge Cashero.
A série de oito episódios chega com uma premissa que promete ser uma lufada de ar fresco: tirar o foco do “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades” e mudar para “com grandes poderes vêm grandes despesas”. Mas será que essa mistura de crítica social, melodrama e pancadaria consegue se pagar no final?
Sinopse
Kang Sang-woong (interpretado pelo carismático Lee Jun-ho) é um funcionário público comum, cujo maior sonho é algo bem mundano e difícil: comprar um apartamento próprio e sair do aluguel. Ele namora Min-sook (Kim Hye-jun), uma contadora prática e pé no chão, há nove anos, e juntos eles contam cada moeda para realizar esse objetivo em um mercado imobiliário inflado.
Tudo muda quando o pai de Sang-woong, que o filho sempre julgou ser um irresponsável financeiro, lhe passa “o legado da família”: superpoderes. Sang-woong ganha força sobre-humana e invulnerabilidade, mas existe uma pegadinha cruel. Seus poderes só funcionam se ele tiver dinheiro físico no bolso.
E, pior ainda, usar os poderes consome esse dinheiro literalmente, transformando notas em meras moedas e pó. Sang-woong se vê então num dilema: salvar pessoas e ver suas economias (e o sonho da casa própria) evaporarem, ou ignorar os perigos para garantir seu futuro?
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Resenha crítica do dorama Cashero
Uma premissa de milhões, uma execução de centavos
A ideia central de Cashero é genuinamente brilhante. Em tempos de capitalismo tardio, associar a capacidade de fazer o bem ao poder de compra é uma metáfora ácida e inteligente. A série brilha quando explora essa tensão. Ver Sang-woong andando em câmera lenta ou evitando ajudar alguém não por falta de caráter, mas porque levantar aquele peso vai custar o dinheiro da entrada do apartamento, traz uma camada de identificação muito real. O conflito entre ter uma “boa vida” (estabilidade financeira) e ter uma “boa alma” é o coração pulsante da trama.
No entanto, o roteiro parece ter pressa em abandonar sua melhor ideia. A tensão de “cada centavo conta” é diluída muito cedo, especificamente quando o protagonista recebe uma quantia significativa de dinheiro da mãe logo no segundo episódio. Aquela angústia de classe média, que poderia ser o motor da narrativa, evapora para dar lugar a um thriller de ação genérico. A série troca uma exploração precisa do sacrifício financeiro por piadas fáceis e uma estrutura repetitiva.

Crise de identidade e montagem confusa
Um dos maiores problemas de Cashero é que ela não sabe o que quer ser. O tom oscila violentamente. Em um momento, estamos vendo civis caindo para a morte em uma cena que deveria ser traumática; no corte seguinte, Sang-woong chega em casa sorrindo para a namorada dormindo, como se nada tivesse acontecido. Essa incoerência emocional faz com que seja difícil para o público se conectar com os riscos.
Além disso, o roteiro desperdiça um elenco de apoio que tinha tudo para ser incrível. Temos Byeon Ho-in (Kim Byung-chul), cujos poderes de atravessar paredes são ativados pelo álcool, e Bang Eun-mi (Kim Hyang-gi), que usa telecinese à base de lanches.
Parece divertido, certo? Mas a série deixa esses personagens em “stand-by”, usando-os apenas como ferramentas de roteiro ou alívio cômico raso, sem explorar a fundo como essas condições afetam suas vidas. Os vilões, por sua vez, sofrem do mal de serem unidimensionais e pouco ameaçadores, tornando as cenas de luta, embora visualmente competentes, emocionalmente vazias.
O casal que não convence
Para uma série que depende tanto da motivação pessoal do herói (comprar a casa com a amada), a falta de química entre os protagonistas é um banho de água fria. Dizem-nos que Sang-woong e Min-sook estão juntos há nove anos, mas eles parecem conhecidos que acabaram de ser apresentados.
A personagem de Min-sook, inclusive, sofre na mão dos roteiristas. Ela é a única pessoa racional em meio ao caos, a contadora que entende que o heroísmo do namorado está literalmente queimando o futuro deles. Mas, em vez de validar essa frustração como uma tragédia relatável, a série muitas vezes a enquadra no estereótipo da “namorada chata” que só pensa em dinheiro, enquanto Sang-woong é o herói relutante. É um desperdício de um conflito que poderia ser muito mais maduro.
Conclusão
Cashero não é um desastre completo. Tem o carisma inegável de Lee Jun-ho, momentos genuinamente engraçados e uma crítica social que, mesmo mal aproveitada, faz você pensar. Para quem procura algo leve para “maratonar” num fim de semana sem exigir muito do cérebro, a série funciona como um passatempo razoável.
No entanto, ao tentar misturar Em Movimento com comédia pastelão e crítica social, ela acaba não entregando excelência em nenhuma dessas frentes. É uma produção que tinha saldo para ser um grande sucesso, mas que gastou seu potencial em clichês baratos, entregando um resultado final que diverte, mas não enriquece. Se você espera a profundidade emocional de outros sucessos coreanos recentes, talvez seja melhor guardar seu tempo (e seu dinheiro).
Onde assistir ao dorama Cashero?
Trailer da série Cashero (2025)
Elenco do dorama Cashero, da Netflix
- Lee Jun-ho
- Kim Hye-jun
- Kim Byong-chul
- Kim Hyang-gi
- Lee Chae-min
- Kang Hanna
















