
Foto: Netflix / Divulgação
Lançada pela Netflix, a série documental “De Rock Star a Assassino: O Caso Cantat” resgata um episódio trágico que deixou cicatrizes profundas na sociedade francesa.
Mais do que um simples true crime, a minissérie em três episódios vai além do relato factual para mergulhar nas camadas de silêncio, complacência midiática e romantização da violência que envolveram a morte da atriz Marie Trintignant, assassinada por seu então companheiro, o roqueiro Bertrand Cantat.
A série não apenas revive um crime brutal, ocorrido em 2003, como também serve de espelho do quanto a sociedade — especialmente a europeia — ainda tropeça ao lidar com os agressores quando estes ocupam o pedestal da fama.
Sinopse da série De Rock Star a Assassino: O Caso Cantat (2025)
No verão europeu de 2003, em um quarto de hotel em Vilnius, na Lituânia, uma discussão entre Marie Trintignant e Bertrand Cantat terminou de forma trágica. A atriz, filha do renomado cineasta Jean-Louis Trintignant, foi espancada até entrar em coma e morreu seis dias depois. Cantat foi condenado a oito anos de prisão por homicídio involuntário, mas cumpriu apenas quatro.
A minissérie reconstrói o caso a partir de depoimentos inéditos, material de arquivo, reportagens e entrevistas com pessoas próximas à vítima, como o músico Richard Kolinka e a cantora Lio. Mais do que recontar os fatos, o documentário propõe uma revisão crítica do modo como a sociedade e a mídia trataram — e ainda tratam — episódios de feminicídio.
Você também pode gostar disso:
+ ‘Classe dos Heróis Fracos’ expõe a violência com crueza, sensibilidade e profundidade psicológica
+ Episódio 11 de ‘Uma Mente Excepcional’ expõe segredos de família e desafia Morgan
+ ‘Cilada’ seduz seduz com noir, mas tropeça no final
Crítica de De Rock Star a Assassino: O Caso Cantat, da Netflix
“De Rock Star a Assassino” adota uma abordagem sóbria e necessária. Ao contrário de muitos títulos do gênero true crime, a produção da Netflix dispensa reconstituições dramáticas e trilhas sonoras impactantes para emocionar. Em vez disso, opta por uma narrativa respeitosa, sustentada por entrevistas contundentes e imagens de arquivo que falam por si só.
Esse tom contido é um dos grandes méritos da série. Ao evitar o espetáculo, ela centra a vítima no foco da história — algo raro em retratos de crimes envolvendo celebridades.
A crítica à mídia e à justiça conivente
Um dos aspectos mais revoltantes retratados é o papel da imprensa francesa à época. Muitos veículos preferiram enfatizar o drama pessoal de Bertrand Cantat, tratando o assassinato como um “crime passional”, termo que minimiza o feminicídio e o transforma em uma espécie de tragédia romântica inevitável.
A série desmonta esse discurso com firmeza. As jornalistas Anne-Sophie Jahn e Michelle Fines contribuem com análises afiadas sobre como a narrativa pública foi manipulada para suavizar a culpa de Cantat e silenciar a indignação coletiva. A impunidade velada — com sua pena reduzida e o rápido retorno aos palcos — é um lembrete de que o prestígio masculino muitas vezes vale mais do que a vida de uma mulher.
Fama e violência: uma combinação explosiva
Cantat não era um homem qualquer. Ele era o vocalista carismático da banda Noir Désir, um ícone do rock francês. A série evidencia como esse status contribuiu para que a violência fosse relativizada, escamoteada sob o manto da genialidade artística. A cultura da celebridade, nesse caso, operou como escudo moral para proteger o agressor e relegar a vítima à condição de nota de rodapé.
Essa proteção continuou mesmo após sua libertação, culminando em polêmicas relacionadas à retomada de sua carreira musical e no trágico suicídio de sua esposa Krisztina Rády, em 2010. A minissérie mostra como o ciclo da violência raramente se encerra com uma sentença judicial.
Um alerta que segue atual
Passadas duas décadas, “De Rock Star a Assassino” prova que a sociedade ainda engatinha no combate efetivo à violência doméstica. A série funciona como denúncia, memorial e análise crítica, ao mesmo tempo.
A sensação de impotência diante da reincidência desses casos — dentro e fora da França — atravessa o espectador como uma ferida aberta. O feminicídio de Trintignant não é apenas uma tragédia isolada, mas um sintoma de uma estrutura social profundamente enraizada no machismo.
Conclusão
“De Rock Star a Assassino: O Caso Cantat“, da Netflix, é mais do que um documentário sobre um crime. É um poderoso retrato das falhas institucionais e culturais que cercam a violência contra mulheres, especialmente quando os agressores são homens brancos, ricos e famosos. A produção acerta ao não buscar reabilitação moral nem criar uma falsa complexidade onde só há brutalidade.
É uma obra dura, mas necessária. Um lembrete de que, mesmo vinte anos depois, ainda há muito a ser feito para que o feminicídio deixe de ser romantizado e passe a ser tratado com a seriedade que exige. Uma série que não apenas informa, mas provoca, incomoda e exige reflexão.
Siga o Flixlândia nas redes sociais
+ TikTok
+ YouTube
Onde assistir à série De Rock Star a Assassino: O Caso Cantat?
A série está disponível para assistir na Netflix.
Trailer de De Rock Star a Assassino: O Caso Cantat (2025)
Elenco de De Rock Star a Assassino: O Caso Cantat, da Netflix
- Anne-Sophie Jahn
- Lio
- Michelle Fines
Ficha técnica da série De Rock Star a Assassino: O Caso Cantat
- Título original: De rockstar à tueur: le cas Cantat
- Gênero: documentário
- País: França
- Temporada: 1
- Episódios: 3
- Classificação: 16 anos