Carla Lima O final da série Dept Q, produção policial da Netflix, chamou atenção pela forma intensa como cruzou drama psicológico com investigação criminal. Ambientada em Edimburgo, a narrativa destaca a complexidade emocional dos personagens enquanto revela verdades enterradas.
Inspirada na obra do autor dinamarquês Jussi Adler-Olsen, a história apresenta Carl Mørck, um detetive marcado por traumas, colocado para comandar o recém-criado Departamento Q. O local funciona como um depósito de casos arquivados, mas se transforma em palco de revelações decisivas.
Ao revisitar antigos crimes, Mørck e sua equipe enfrentam dilemas éticos e feridas profundas, especialmente no caso da promotora desaparecida Merritt Lingard. O desfecho dessa investigação marca um dos momentos mais impactantes da produção.
Dept Q alcança um final que desafia o espectador a repensar conceitos de culpa, justiça e sobrevivência emocional, sem recorrer a soluções fáceis ou conclusões óbvias.
Merritt Lingard e a verdade por trás de seu desaparecimento
Merritt, uma promotora conhecida por sua determinação, desapareceu quatro anos antes do início da investigação conduzida por Mørck, Akram e Rose. Aos poucos, o trio descobre que ela foi sequestrada por Lyle Jennings e sua mãe, Ailsa. Os dois responsabilizavam Merritt pela morte de Harry, irmão de Lyle e antigo namorado da promotora.
Durante o sequestro, Merritt foi mantida em uma câmara hiperbárica, local que remete à infância abusiva de Lyle, marcada por torturas psicológicas e físicas. Lyle assumiu a identidade de Sam Haig, jornalista que ele assassinou após uma escalada simbólica de obsessão e vingança.
Ailsa, internada diversas vezes, autorizou o plano de Lyle, que simulou um relacionamento com Merritt antes de levá-la de volta à ilha de Mhor. O objetivo era obter uma confissão sobre a suposta culpa de Merritt na morte de Harry, algo que jamais ocorreu.
Você também pode gostar disso:
+ ‘Dept. Q’: quando o passado se recusa a morrer
+ ‘Ilha das Flores’ + ‘Saneamento Básico’: obras continuam excelentes e (infelizmente) atuais
+ ‘Confinado’: suspense tem premissa simples e diversas camadas temáticas
A operação de resgate e a queda dos sequestradores
Após Merritt conseguir ligar para o número de emergência durante uma tentativa de fuga, os investigadores decidem agir mesmo sem mandado. Eles invadem a propriedade de Lyle, localizando a câmara hiperbárica onde Merritt estava confinada.
Morck e Akram enfrentam resistência de Lyle, que tenta matar os dois com uma espingarda. Morck é ferido, mas Akram reage rapidamente e mata o agressor. A polícia chega a tempo de salvar Merritt, enquanto Ailsa tira a própria vida ao perceber que seria presa.
O resgate também permite solucionar a morte de um policial local, John Cunningham, morto por Lyle após descobrir o paradeiro de Merritt. O caso se encerra com a promotora viva e prestes a reencontrar o irmão, William.
A chantagem de Finch e os bastidores do sistema de justiça
Enquanto investigam o caso de Merritt, a equipe também se depara com um escândalo envolvendo o Lord Advocate Stephen Burns. O político foi chantageado por Graham Finch, um empresário acusado de feminicídio. Finch ameaçou expor um crime cometido pela filha de Burns em troca da absolvição.
Para garantir sua proteção legal, Finch usou influências para silenciar testemunhas, incluindo Kirsty Atkins, que havia denunciado abusos cometidos por ele. Merritt sabia da conexão, mas se manteve em silêncio, temendo as repercussões.
No final, Morck confronta Burns, exigindo que ele repare os danos: oferece um carro para o departamento, promove Akram e garante verba adicional. Apesar de entender as motivações de Burns, o detetive não perdoa suas ações.
A identidade do atirador permanece um mistério
O caso que mudou a trajetória de Mørck e Hardy segue em aberto. Anderson, o policial morto no tiroteio, era o alvo principal do assassino, que nunca foi identificado. A tentativa de resolver esse crime agora será conduzida por Hardy, que retorna ao trabalho após meses de recuperação.
O envolvimento do trio no resgate de Merritt trouxe à tona questões mal resolvidas do passado. Para Mørck, o fechamento emocional veio com o desfecho do caso. Já para Hardy, a busca por respostas continua sendo uma prioridade.
Um final psicológico, ambíguo e aberto a novas temporadas
Dept Q termina com cada personagem enfrentando os próprios fantasmas. Merritt decide se afastar do cargo público e retornar à cidade natal com o irmão. Morck permanece no porão da delegacia, onde encontra propósito em meio ao caos.
O encerramento da temporada não soluciona todos os mistérios. Akram, por exemplo, segue com um passado nebuloso. A série opta por deixar espaço para desenvolvimentos futuros, mantendo o foco nas cicatrizes deixadas pela violência e pela omissão.
Com potencial para novas investigações, Dept Q se consolida como um thriller maduro. Seus temas complexos, personagens imperfeitos e ritmo cadenciado conquistam uma audiência que valoriza histórias densas e realistas.
Siga o Flixlândia nas redes sociais
+ TikTok
+ YouTube
Sobre o autor
