A série documental “A Mulher da Casa Abandonada”, lançada no Prime Video em 15 de agosto de 2025, emerge como uma expansão e aprofundamento do fenômeno que foi o podcast homônimo de 2022, criado pelo jornalista Chico Felitti para a Folha de S.Paulo.
A produção mergulha na complexa história real de Margarida Bonetti, uma herdeira da elite paulistana, revelando os crimes pelos quais foi acusada e as surpreendentes novas informações que surgiram após a repercussão inicial do caso.
Qual a história real de A Mulher da Casa Abandonada?
A trama central gira em torno de Margarida Bonetti, uma mulher que vivia reclusa em uma mansão em ruínas no bairro nobre de Higienópolis, em São Paulo, cobrindo o rosto com uma pomada branca e exibindo um comportamento peculiar. A investigação de Chico Felitti, inicialmente motivada pela curiosidade sobre a moradora excêntrica e o estado deplorável do imóvel, desvendou um passado sombrio.
Na década de 1970, Margarida e seu então marido, Renê Bonetti, figuras conhecidas da elite paulistana, mudaram-se para os Estados Unidos, levando consigo a empregada doméstica Hilda Rosa dos Santos, uma mulher brasileira e analfabeta.
O casal foi acusado de manter Hilda em condições análogas à escravidão por quase 20 anos, sem salário, sob maus-tratos e isolamento. Hilda teria sofrido violências físicas e psicológicas, dormindo no porão da casa com a geladeira trancada, e desenvolveu problemas de saúde graves, como osteomielite e um tumor uterino não tratado, até ser resgatada por uma vizinha em 1998, quando seus patrões viajaram.
➡️Siga o Flixlândia no WhatsApp e fique por dentro das novidades de filmes, séries e streamings
O destino dos Bonetti
Após a denúncia às autoridades norte-americanas, Renê Bonetti foi condenado nos Estados Unidos a seis anos e meio de prisão e teve que pagar uma indenização de US$ 110 mil a Hilda. Ele cumpriu sua pena, casou-se novamente e reconstruiu sua vida nos EUA, atuando como gerente de cargas úteis em uma empresa aeroespacial.
Margarida, por sua vez, fugiu para o Brasil antes de ser julgada e passou a viver na mansão de Higienópolis herdada de sua família. Apesar de ter sido procurada pelo FBI e de a embaixada dos EUA ter solicitado formalmente sua extradição e provas ao Brasil, o caso acabou sendo arquivado no país devido à falta de provas oficiais e ao fato de Margarida não ter sido encontrada. No Brasil, o crime de escravidão prescreveu em 12 anos, ou seja, em 2010, tornando Margarida impune pela justiça brasileira.
Uma das maiores revelações da série documental, que não estava no podcast original, é que Margarida Bonetti não esteve o tempo todo na mansão de Higienópolis após seu retorno ao Brasil. Segundo Chico Felitti e a roteirista Mari Paiva, Margarida teria morado em Campinas por cerca de dez anos sob o nome de “Maria”, em uma edícula em um bairro de classe média baixa.
Essa hipótese sugere que ela se escondeu nesse período, o tempo aproximado para o crime prescrever no Brasil, e até se disfarçou para parecer pobre, chegando a mancar da mesma perna em que Hilda tinha uma ferida não tratada, possivelmente inspirada em sua própria vítima. Essa estratégia, se confirmada, indicaria uma inteligência e controle por trás de suas decisões, afastando a ideia de que agia sem consciência.

A voz da vítima
Um dos aspectos mais importantes e inéditos da série do Prime Video é o foco na perspectiva de Hilda Rosa dos Santos, a vítima. Após quase 30 anos de silêncio, Hilda compartilha detalhes perturbadores de sua experiência traumática e revela como superou o horror vivido.
Ela é descrita como uma pessoa impressionante, resiliente, com força e luz, que se tornou inspiradora e participa ativamente de debates sobre o combate ao trabalho escravo nos EUA. A coragem de Hilda em testemunhar no tribunal americano foi fundamental para a criação de uma lei antitráfico humano nos Estados Unidos, que posteriormente serviu de base para uma lei da ONU.
➡️ ‘A Mulher da Casa Abandonada’ é um exemplo raro de adaptação
➡️ A dureza de ‘Na Lama’: um olhar cru sobre a sobrevivência feminina
➡️ ‘Agente Butterfly’ é um thriller em voos rasantes
O Simbolismo da ‘Casa Abandonada’
A mansão em Higienópolis, parcialmente em ruínas, tornou-se um símbolo do caso e da repercussão. Os vizinhos reclamavam do fedor e das péssimas condições da casa, que apesar da aparência, era uma escolha de Margarida, que possui patrimônio e poderia cuidar do imóvel. A série mostra que a casa está no meio de prédios muito elegantes, destacando-se pela decadência.
A repercussão do podcast em 2022 foi imensa, gerando memes, vídeos e até fantasias de carnaval, o que levantou debates sobre sensacionalismo e a banalização do mal. Pesquisadores criticaram que a discussão se desviou do foco principal: a escravidão moderna e o racismo crônico da elite brasileira, concentrando-se na figura excêntrica de Margarida.
No entanto, Chico Felitti defende que o aumento no número de denúncias de trabalho análogo à escravidão após o podcast foi um resultado positivo, indicando que a mensagem sobre a gravidade do crime foi absorvida.
➡️ Quer saber mais sobre filmes, séries e streamings? Então acompanhe o trabalho do Flixlândia nas redes sociais pelo Instagram, X, TikTok e YouTube, e não perca nenhuma informação sobre o melhor do mundo do audiovisual.
A produção da série documental
A série documental, dirigida por Kátia Lund (“Cidade de Deus”) em codireção com Lívia Gama e Yasmin Thayná, busca ir além do podcast, utilizando o poder das imagens, depoimentos inéditos e uma investigação aprofundada com agentes do FBI e vizinhos. A produção contou com uma equipe de pesquisa no Brasil e nos EUA por cerca de um ano e meio.
Com três episódios de aproximadamente 35 a 60 minutos cada, a série equilibra a investigação jornalística com a dimensão humana da história. Chico Felitti atua como consultor criativo e produtor executivo, além de ser uma voz na narração, mas a série incorpora outras perspectivas para contar a história. O projeto inicialmente também previa um longa-metragem, mas essa ideia foi adiada.
Em suma, “A Mulher da Casa Abandonada” no Prime Video não é apenas uma revisita ao caso que chocou o Brasil, mas uma revelação aprofundada de fatos, focando na voz da vítima e nas consequências duradouras de um crime hediondo, enquanto oferece novas peças para o complexo quebra-cabeça da vida de Margarida Bonetti.
Onde assistir à série A Mulher da Casa Abandonada?
A série está disponível para assistir no Prime Video.
Assista ao trailer de A Mulher da Casa Abandonada (2025)
Confira o elenco de A Mulher da Casa Abandonada, do Prime Video
- Chico Felitti