Depois do sucesso da série Machos Alfa, produção espanhola que satiriza o colapso da masculinidade tradicional, a Netflix investe em um remake italiano: “Homens de Verdade” (Maschi Veri).
Criada por Furio Andreotti, Giulia Calenda e Ugo Ripamonti, e dirigida por Letizia Lamartire e Matteo Oleotto, a série chega com a promessa de ser um espelho bem-humorado das contradições masculinas contemporâneas.
Apesar do potencial para provocar reflexões importantes, “Homens de Verdade” tropeça ao repetir fórmulas já desgastadas, oferecendo uma narrativa que diverte, mas dificilmente surpreende.
Sinopse da série Homens de Verdade (2025)
A trama acompanha quatro amigos quarentões — Massimo (Matteo Martari), Riccardo (Francesco Montanari), Luigi (Pietro Sermonti) e Mattia (Maurizio Lastrico) —, todos em crise com seus papéis como homens na sociedade atual. Cada um representa um estereótipo: o machista em negação, o marido “certinho” mas emocionalmente ausente, o intelectual progressista que teme a intimidade e o sedutor crônico em apuros.
Unidos por uma amizade de longa data, eles encontram apoio — e confronto — em um grupo de “desconstrução da masculinidade”. Entre sessões de terapia improvisadas, desabafos na chat dos “homens de verdade” e tentativas desastradas de mudança, os quatro encaram as falhas, medos e desejos que preferiam ignorar.
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Crítica de Homens de Verdade, da Netflix
“Homens de Verdade” aposta na comédia como veículo para abordar questões sérias — masculinidade tóxica, inseguranças emocionais e desigualdade de gênero. Seguindo a tradição italiana de humor agridoce, a série procura rir com os personagens, e não deles, o que confere uma leveza necessária ao tema.
No entanto, ao optar por uma adaptação quase literal de Machos Alfa, perde-se a oportunidade de trazer uma visão genuinamente italiana sobre a crise do masculino. A série cumpre seu papel de entretenimento, mas carece de um olhar mais fresco e autoral.
Arquétipos que funcionam, mas limitam
Os quatro protagonistas são bem interpretados, e o entrosamento entre os atores é evidente. Pietro Sermonti, especialmente, atua como elo entre os colegas, proporcionando naturalidade às interações.
Cada personagem encarna um tipo reconhecível, facilitando a identificação do público:
- Massimo, o executivo licenciado que não aceita perder poder e status;
- Luigi, o pai de família que vive no piloto automático;
- Mattia, o sensível e culto, preso ao passado e assustado com as novas dinâmicas amorosas;
- Riccardo, o infiel bonachão, incapaz de lidar com a proposta de uma relação aberta.
Essa estrutura funciona, mas ao mesmo tempo restringe a complexidade que poderia ser explorada. Ao apresentar personagens que correspondem a estereótipos fáceis, a série por vezes cai na armadilha da superficialidade.
Um remake que joga seguro demais
A comparação com Machos Alfa é inevitável — e desfavorável. Enquanto a série espanhola constrói situações que dialogam diretamente com o contexto ibérico, “Homens de Verdade” apenas transplanta os elementos, mudando o idioma e o elenco, mas preservando a mesma estrutura narrativa.
O resultado é uma sensação constante de déjà-vu, agravada pelo fato de que, nos últimos anos, o debate sobre masculinidade já avançou, tornando a abordagem da série um tanto anacrônica. Faltou coragem para arriscar, criar novas situações ou aprofundar ainda mais as contradições locais da masculinidade italiana.
O papel decisivo das personagens femininas
Um dos pontos positivos é que as mulheres não são meras coadjuvantes. Sarah Felberbaum, Thony, Laura Adriani e Alice Lupparelli oferecem interpretações que desafiam diretamente os protagonistas, forçando-os a sair da zona de conforto.
Laura Adriani, por exemplo, se destaca ao dar vida a Daniela, que decide se reinventar profissionalmente, enquanto o companheiro Massimo afunda na crise de identidade. A presença feminina é fundamental para tensionar as relações e impulsionar os arcos de transformação dos homens.
A masculinidade em crise: risos, lágrimas e autoconhecimento
Embora previsível, a trajetória dos personagens proporciona momentos de autenticidade, especialmente quando eles, relutantemente, expressam vulnerabilidade. Como bem ilustra a série, a masculinidade tradicional sufoca não apenas mulheres e minorias, mas os próprios homens, que se veem incapazes de lidar com emoções básicas como fracasso, medo e afeto.
Nesse sentido, “Homens de Verdade” é bem-sucedida ao mostrar que “os machos também choram” — e que isso não é sinal de fraqueza, mas de humanidade.
Tecnicamente competente, mas esteticamente genérica
A direção de Letizia Lamartire e Matteo Oleotto é correta, mas pouco ousada. A estética da série é funcional, sem grandes arroubos criativos. O roteiro também oscila: há diálogos espirituosos e bem construídos, mas algumas piadas soam datadas ou excessivamente “cringe”, embora coerentes com o perfil dos personagens.
A trilha sonora é discreta e a ambientação em Roma oferece um pano de fundo charmoso, mas pouco explorado dramaticamente.
Conclusão
“Homens de Verdade” é uma série que entretém e provoca reflexões importantes sobre os desafios da masculinidade contemporânea. Tem seu mérito ao apostar na leveza e no humor para discutir um tema denso, e se beneficia do talento e da química do elenco.
Por outro lado, a falta de originalidade em relação à obra que inspira, aliada a uma abordagem por vezes superficial, compromete seu potencial de se tornar um marco na televisão italiana.
Ainda assim, vale a pena para quem busca uma comédia atual, que flerta com o drama, e que escancara — com um sorriso no rosto — que ninguém, homem ou mulher, está realmente pronto para o mundo em constante mudança em que vivemos.
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Onde assistir à série Homens de Verdade?
A série está disponível para assistir na Netflix.
Trailer de Homens de Verdade (2025)
Elenco de Homens de Verdade, da Netflix
- Maurizio Lastrico
- Matteo Martari
- Francesco Montanari
- Pietro Sermonti
- Thony
- Sarah Felberbaum
- Laura Adriani
- Alice Lupparelli
- Corrado Fortuna
- Nicole Grimaudo
Ficha técnica da série Homens de Verdade
- Título original: Maschi Veri
- Gênero: comédia
- País: Itália
- Temporada: 1
- Episódios: 8
- Classificação: 16 anos
Sobre o autor
