“Inexplicável”, filme dirigido por Fabrício Bittar, mergulha o espectador em um drama familiar intenso que flerta com o melodrama religioso, mas sem se prender a um dogma específico.
Baseado na história real de Gabriel Varandas, contada no livro O Menino que Queria Jogar Futebol, de Phelipe Caldas, o filme propõe uma reflexão sobre o poder da fé e da esperança diante da fragilidade da vida.
Com atuações marcantes de Letícia Spiller e Eriberto Leão, a produção equilibra a narrativa emocional com uma estética sensível, ainda que por vezes escorregue em escolhas dramáticas que beiram o exagero. O longa é um convite a se emocionar — e, para muitos, a se reconectar com algo maior.
Sinopse do filme Inexplicável (2025)
Gabriel Montenegro (Miguel Venerabile) é um menino de 8 anos apaixonado por futebol. Talentoso e promissor, sua vida sofre uma reviravolta quando, durante uma partida, passa mal e é diagnosticado com uma condição de saúde grave. A partir desse momento, começa uma jornada contra o tempo pela sua sobrevivência, envolvendo cirurgias, incertezas e a força emocional de sua família.
Enquanto Gabriel permanece desacordado no hospital, os pais Yanna (Letícia Spiller) e Marcus (Eriberto Leão) enfrentam suas próprias batalhas internas. A mãe, grávida e amparada pela fé, encontra força na oração. Já o pai, cético e emocionalmente fechado, precisa confrontar seus próprios limites e encontrar sentido em um cenário que parece sem saída. Ao redor deles, médicos, amigos e familiares tentam equilibrar ciência, esperança e espiritualidade.
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Crítica de Inexplicável, da Netflix
A força de “Inexplicável” está, sem dúvida, na forma como captura o desespero e o amor incondicional dos pais diante da iminência da perda de um filho. Letícia Spiller é o pilar emocional do filme — sua Yanna transmite serenidade mesmo quando tudo desmorona ao seu redor. Eriberto Leão, por sua vez, entrega uma atuação contida e intensa, dando ao espectador a perspectiva do homem racional que se vê obrigado a buscar ajuda no improvável.
Esse contraste entre fé e razão se torna o eixo dramático mais poderoso do longa, e Fabrício Bittar constrói bem essa tensão até o clímax. Há cenas que tocam profundamente, como aquela em que Marcus assiste a um vídeo no YouTube sobre como rezar — um gesto simples, quase banal, mas que encapsula o desespero de alguém em busca de algo maior do que si mesmo.
Emoção como linguagem, com ressalvas
Bittar não esconde sua intenção: provocar lágrimas e mexer com a espiritualidade do público. O filme é construído para emocionar, e isso não é necessariamente um problema. A fotografia fria, os planos fechados nos rostos angustiados e o som dos aparelhos hospitalares ajudam a criar uma atmosfera opressiva e carregada.
Contudo, em certos momentos, a emoção é manipulada de forma excessiva. O uso da tela preta para gerar suspense e a inserção de cenas oníricas e vídeos da internet quebram o tom do filme e enfraquecem sua proposta dramática. Há uma tentativa de dar dinamismo à narrativa, mas ela soa deslocada, quase artificial, o que diminui a potência de algumas sequências mais íntimas e humanas.
Quando a fé encontra a ciência
Um dos méritos do filme é não reduzir a experiência de fé a um discurso religioso excludente. A fé, aqui, é retratada como uma âncora em meio ao caos — seja ela cristã, espiritual ou simplesmente humana. A presença dos médicos, especialmente os vividos por André Ramiro e Adriana Lessa, ajuda a equilibrar esse aspecto, mostrando que fé e ciência não precisam andar em lados opostos. É uma das mensagens mais bonitas e universais da obra.
Apesar disso, a narrativa recai sobre um formato já conhecido: a criança gravemente doente como gatilho emocional. Embora seja eficaz, também levanta questionamentos éticos e narrativos sobre o uso recorrente desse recurso como forma de tocar o público.
Elenco afinado, com destaque para o jovem protagonista
Miguel Venerabile, como Gabriel, mesmo com pouco tempo de tela em estado ativo, entrega o necessário para nos conectar com sua história. Seu olhar, sua fragilidade e, depois, sua força, são fundamentais para que o filme tenha o impacto pretendido. Os coadjuvantes — nomes como Suely Franco, Moacyr Franco e Victor Lamoglia — ajudam a construir um universo familiar verossímil, ainda que discretamente.
Conclusão
“Inexplicável” não é inovador, mas cumpre bem o papel a que se propõe: emocionar, inspirar e fazer refletir. Para quem valoriza histórias de superação, fé e amor familiar, é um prato cheio. Para os mais céticos, pode parecer excessivamente melodramático ou até panfletário.
Ainda assim, é difícil sair ileso de uma história tão real, ainda mais quando sabemos que o garoto por trás da narrativa realmente enfrentou tudo aquilo.
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Onde assistir ao filme Inexplicável?
O filme está disponível para assistir na Netflix.
Trailer de Inexplicável (2025)
Elenco de Inexplicável, da Netflix
- Letícia Spiller
- Eriberto Leão
- André Ramiro
- Adriana Lessa
- Victor Lamoglia
- Leonardo Miggiorin
- Camilla Camargo
- Cynthia Falabella
- Miguel Venerabile
- Bernardo Vasconcellos
Ficha técnica do filme Inexplicável
- Direção: Fabrício Bittar
- Roteiro: Fabrício Bittar, Andrea Yagui
- Gênero: drama
- País: Brasil
- Duração: 116 minutos
- Classificação: 12 anos