O mundo dos k-dramas vive uma expansão desenfreada, mas de tempos em tempos surge uma produção que fura a bolha do romance ou da fantasia para entregar algo denso, sujo e cinematográfico. Made in Korea, a nova aposta do Disney+ para 2025, é exatamente esse tipo de série.
Ambientada em uma Coreia do Sul tumultuada da década de 1970 — um período de ditadura militar e crescimento econômico forçado —, a produção não pede licença para mergulhar o espectador em uma trama onde as linhas entre o governo, o crime organizado e a ambição pessoal não são apenas tênues; elas são inexistentes. Com um elenco estelar liderado por Hyun Bin e Jung Woo-sung, e produção executiva do lendário Park Chan-wook, os dois primeiros episódios prometem uma temporada de tirar o fôlego.
Sinopse
A trama começa com alta voltagem em 1970. Baek Ki-tae (Hyun Bin), sob o pseudônimo de Kenji, embarca em um voo no Japão carregando uma maleta misteriosa. A viagem tranquila é interrompida por um grupo de revolucionários que sequestra a aeronave, exigindo serem levados para a Coreia do Norte.
Enquanto o pânico se instala, Ki-tae, que à primeira vista parece apenas um empresário elegante, toma o controle da situação com uma frieza assustadora. Ele usa o conteúdo da sua maleta — não documentos, mas metanfetamina pura — como moeda de troca em um blefe arriscado. O desfecho do sequestro revela a verdadeira face do protagonista: ele é um figurão da KCIA (a agência de inteligência coreana) que opera um esquema de tráfico de drogas nas sombras.
No segundo episódio, somos apresentados ao seu nêmesis: Jang Geon-young (Jung Woo-sung), um promotor de Busan que investiga uma rede de tráfico ligada à Yakuza e a assassinatos locais. O que Jang não sabe é que, ao puxar esse fio, ele está prestes a colidir de frente com o intocável Ki-tae e com a própria estrutura podre do Estado.
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Resenha crítica da série Made in Korea
Um thriller que respira cinema (e tensão)
Logo nos primeiros 15 minutos, fica claro que Made in Korea não está para brincadeira. A direção de Woo Min-ho (O Rei das Drogas, 2018) trata o episódio piloto quase como um longa-metragem. Esqueça a câmera trêmula e frenética estilo Paul Greengrass em Voo United 93; aqui, a tensão é construída na elegância, no silêncio e no olhar. O diretor opta por ângulos que nos fazem sentir como observadores indesejados em uma situação claustrofóbica.
O roteiro aproveita eventos históricos reais (como o sequestro de 1969) não como uma aula de história didática, mas como um pano de fundo volátil para o suspense. Se o primeiro episódio é uma injeção de adrenalina com a situação do avião, o segundo pisa no freio para aprofundar as estacas políticas e pessoais. Essa mudança de ritmo pode testar a paciência de quem espera ação ininterrupta, mas é essencial para desenhar o tabuleiro de guerra entre os protagonistas.

Duelo de titãs: o charme do mal contra a exaustão da lei
O grande trunfo da série reside na dualidade de seus protagonistas. Hyun Bin, com seu terno impecável e cabelo puxado para trás, constrói um Baek Ki-tae magnético. Ele é a personificação da confiança de quem já calculou todas as saídas. Sua atuação contida esconde uma violência latente; ele é um espião nos moldes de um Jack Ryan moralmente dúbio ou de um James Bond sem o glamour heroico. Ele não serve à lei, serve ao poder.
Do outro lado do ringue está Jung Woo-sung como o promotor Jang. Sua performance transmite o peso físico e mental de tentar ser justo em um sistema corrompido. A exaustão em seus olhos e a raiva reprimida criam um contraste fascinante com a frieza de Ki-tae. A série deixa claro: não existem heróis puros aqui. Quando esses dois colidem, a promessa é de destruição mútua.
A elegância noir dos anos 70
Visualmente, a série é um deleite. A fotografia foge da saturação exagerada comum em dramas de época e aposta em tons mais sóbrios e elaborados, evocando clássicos do cinema noir francês, como O Samurai de Jean-Pierre Melville.
Os cenários, figurinos e a atmosfera “fumaça e espelhos” transportam o espectador para uma Coreia onde o “Milagre do Rio Han” esconde alicerces podres. A trilha sonora, com toques de jazz fusion, amplia a sensação de paranoia. É uma produção polida, que exala perigo e sofisticação, diferenciando-se esteticamente da maioria dos k-dramas atuais.
O “milagre coreano” sob uma ótica sombria
Mais do que um simples jogo de gato e rato, Made in Korea tece uma crítica mordaz às instituições. A narrativa sugere que, na Coreia dos anos 70, o Estado e o crime não apenas coexistiam, mas trabalhavam em simbiose.
A revelação de que o protagonista usa sua posição na inteligência para traficar drogas — e que o governo pode estar lucrando com isso — adiciona uma camada de cinismo político que eleva o material. As instituições aqui parecem cometer suicídio moral em prol da “segurança nacional” e do lucro. É um estudo sobre como a ambição desenfreada corrói tudo o que toca, inclusive os laços familiares, como visto na tensa interação de Ki-tae com seu irmão durante o funeral da mãe.
Conclusão
Os dois primeiros episódios de Made in Korea entregam uma introdução robusta e confiante. Embora o ritmo sofra uma leve desaceleração no segundo capítulo e alguns diálogos possam parecer expositivos, a fundação construída é sólida.
Não é uma série fácil ou escapista; é um convite para olhar o lado feio da história, embalado em uma produção visualmente deslumbrante e atuações de peso. Para os fãs de thrillers políticos maduros como Infiltrados ou para quem curte a vibe crítica de Parasita e Em Chamas, essa é uma pedida obrigatória. Com um final de segundo episódio que deixa claro que as linhas de batalha foram traçadas, a série se firma como uma das produções mais promissoras e instigantes de 2025 que vão atravessar 2026.
Onde assistir à série Made in Korea?
Trailer do dorama Made in Korea (2025)
Elenco da série Made in Korea, do Disney+
- Hyun Bin
- Jung Woo-sung
- Seo Eun-su
- Cho Yeo-jeong
- Won Ji-an
- Jung Sung-il
- Kang Gil-woo
- Lee Kyu-hoi
- Cha Hee
- Lee Ju-yeon

















