Sabe aquela época do ano em que somos bombardeados por filmes de Natal que parecem ter saído de uma linha de montagem, cheios de clichês melosos e finais previsíveis? Pois é, “Nosso Natal em Família” chega ao catálogo do Filmelier+ para chutar o balde — ou melhor, a tigela de M&Ms — dessa tradição.
O novo longa do diretor Tyler Thomas Taormina é uma obra de “anti-escapismo” prosaico que subverte o gênero. Não espere renas voando ou milagres natalinos mágicos; aqui, o foco é a realidade crua, porém calorosa, de uma reunião familiar suburbana que oscila entre o conforto caótico e a melancolia de um tempo que está se esvaindo.
Sinopse
A trama nos transporta para meados dos anos 2000 (pense em celulares flip e videogames da geração PS2) em Long Island, Nova York. A extensa família italo-americana Balsano se reúne na casa da matriarca Antonia para a tradicional celebração da véspera de Natal. A casa está cheia, a comida é farta e o barulho é constante.
No entanto, paira no ar uma sensação de finalidade: a saúde de Antonia está deteriorando e os filhos discutem, nem sempre amigavelmente, sobre a venda da casa e a mudança dela para uma clínica de repouso. Enquanto os adultos bebem, brigam e cozinham, os adolescentes, liderados pela rebelde Emily e sua prima Michelle, planejam suas próprias escapadas pela cidade, criando um mosaico de microeventos que podem marcar o último Natal desta família sob o mesmo teto.
➡️ Quer saber mais sobre filmes, séries e streamings? Então acompanhe o trabalho do Flixlândia nas redes sociais pelo INSTAGRAM, X, TIKTOK, YOUTUBE, WHATSAPP, e GOOGLE NOTÍCIAS, e não perca nenhuma informação sobre o melhor do mundo do audiovisual.
Crítica
O caos confortável da “vibe”
O que os jovens chamam hoje de “vibe”, Taormina traduz em cinema de forma magistral. O filme funciona muito mais como um estudo de humor e atmosfera do que uma narrativa tradicional guiada por plots twists. É quase uma experiência sensorial: as luzes de Natal, o som de várias conversas acontecendo ao mesmo tempo, as risadas e as discussões.
O diretor consegue capturar aquela natureza surreal da vida familiar suburbana. Sabe quando você está numa festa de família e a câmera da sua memória parece deslizar de um tio bêbado para as crianças correndo, sem um protagonista central? É exatamente assim que o filme flui. Ele opera em fragmentos e trechos de diálogo, criando uma sensação de “conforto caótico”. Para quem tem famílias grandes, assistir a isso não parece ver um filme, mas sim reviver memórias antigas que pareciam esquecidas.

Retratos geracionais e “nepo babies” que funcionam
O elenco é um caso à parte. Temos uma mistura curiosa de atores desconhecidos com filhos de lendas do cinema, como Francesca Scorsese (filha de Martin) e Sawyer Spielberg (filho de Steven). E, surpreendentemente, isso não soa como marketing barato; eles entregam atuações genuínas.
A dinâmica é dividida por gerações: os mais velhos cochilando nas poltronas, os tios de meia-idade discutindo no “clube do bolinha” na garagem ou na cozinha, e os adolescentes insatisfeitos tentando fugir daquela realidade. Destaque para a tensão entre Kathleen (Maria Dizzia) e sua filha adolescente Emily (Matilda Fleming), que ilustra perfeitamente aquele atrito de “estar naquela idade”. O filme não julga ninguém; ele apenas observa, com um olhar aguçado para detalhes, como o tio Ray gritando com o irmão enquanto pedala numa bicicleta ergométrica.
Estética nostálgica sem ser cafona
Visualmente, o filme é um deleite. A fotografia de Carson Lund dá à obra uma textura de “memória”, evitando o visual excessivamente polido das produções atuais. A ambientação nos anos 2000 é feita com detalhes sutis — TVs de tubo com VHS embutido, pianos automáticos e sobremesas específicas como cherry affogatos.
E a trilha sonora? Nada de “Jingle Bells” tocando sem parar. Taormina opta por sucessos do pop do início dos anos 60 e baladas românticas, como Frank Sinatra, o que paradoxalmente faz o filme parecer mais atemporal e menos preso a uma data específica. É uma nostalgia que dói um pouquinho, aquela sensação de olhar para trás e perceber que aquele momento nunca mais vai se repetir da mesma forma.
Nem Tudo São Luzes Pisca-Pisca
Apesar de seus muitos acertos, o filme pode testar a paciência de quem espera uma história com começo, meio e fim bem definidos. A abordagem “tudo atmosfera, nada de história” pode cansar.
Além disso, há uma quebra de ritmo quando a narrativa sai de dentro da casa claustrofóbica e segue os adolescentes pela cidade. Embora tenha momentos ótimos (como a cena na loja de bagels), as interações com a dupla de policiais (interpretados por Michael Cera e Gregg Turkington) parecem um pouco deslocadas. Eles funcionam como um alívio cômico meio surreal e silencioso, mas essas sequências soam mais manufaturadas e menos orgânicas do que o realismo vibrante que acontece dentro da residência dos Balsano.
Conclusão
“Nosso Natal em Família” é uma carta de amor agridoce às reuniões de família que moldam quem somos. Ele evita cair na armadilha do sentimentalismo barato, entregando, em vez disso, uma sinceridade quase radical. É um filme sobre a passagem do tempo, sobre crescer e sobre se despedir de lugares que um dia chamamos de lar.
Se você procura uma comédia natalina frenética, passe longe. Mas se você estiver disposto a imergir em uma experiência que parece folhear um álbum de fotos antigo — onde você ri de algumas coisas e sente um aperto no peito por outras — então este filme é um presente. Pode não ser um clássico instantâneo para as massas, mas certamente será revisitado por aqueles que enxergam a beleza na banalidade das tradições familiares.
Onde assistir ao filme Nosso Natal em Família
Trailer de Nosso Natal em Família (2024)
Elenco do filme Nosso Natal em Família
- Matilda Fleming
- Maria Dizzia
- Ben Shenkman
- Francesca Scorsese
- Sawyer Spielberg


















