Leia a crítica do filme Por Inteiro, da Apple TV+ (2025) - Flixlândia

A coragem de se perder em ‘Por Inteiro’

Filme é estrelado por Brett Goldstein e Imogen Poots

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No cenário de um futuro próximo, onde a tecnologia se imiscui nas mais íntimas das decisões humanas, Por Inteiro surge como uma obra que, à primeira vista, parece ser apenas mais um conto de distopia romântica. Lançado no Festival de Toronto e posteriormente adquirido pela Apple TV+, o filme se insere em uma onda de produções que especulam sobre o impacto de avanços tecnológicos nas relações pessoais, ecoando temas de sucessos como Black Mirror e Na Ponta dos Dedos.

No entanto, a direção de William Bridges e o roteiro coescrito por ele e Brett Goldstein (que também estrela a produção), logo revelam uma proposta mais sutil e, de certa forma, mais dolorosa. Longe de ser um mero exercício de ficção científica, o filme é um drama sentimental sobre a complexa dança entre a razão e a paixão, a certeza e a dúvida, o destino e a escolha.

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Sinopse

A trama se desenrola em um mundo onde a Soul Connex, uma empresa de alcance global, oferece um teste que, supostamente, encontra a “alma gêmea” de uma pessoa com base em uma fórmula científica. Diante da onipresença da marca e da pressão social, Laura (Imogen Poots) decide fazer o teste. Seu melhor amigo de longa data, Simon (Brett Goldstein), a acompanha. A partir daí, o filme subverte as expectativas ao focar não na mecânica da tecnologia, mas nas repercussões emocionais da escolha de Laura.

Ao ser pareada com Lukas (Steven Cree), um homem com quem não sente uma conexão imediata, Laura decide seguir o que o teste lhe diz, ignorando a evidente atração e a química silenciosa que sempre existiu entre ela e Simon. O enredo, então, avança de forma não-linear, saltando meses e anos sem aviso prévio.

Acompanhamos Laura construindo uma vida com seu “par ideal” e Simon tentando, sem sucesso, seguir em frente com outras pessoas, incluindo Andrea (Zawe Ashton), amiga de Laura. A cada salto temporal, a tensão entre os amigos se adensa, culminando em uma série de encontros secretos que questionam se o destino é realmente inegociável ou se o amor verdadeiro reside na liberdade de se fazer a própria escolha, mesmo que ela seja dolorosa.

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Crítica

Um dos aspectos mais marcantes e perturbadores de Por Inteiro é a forma como ele aborda a traição. O filme não a retrata como um ato de malícia, mas sim como o resultado de uma batalha interna. A protagonista, Laura, não é um arquétipo de vilania; ela está genuinamente tentando fazer a coisa “certa” de acordo com as normas daquele universo. O fato de que seu relacionamento com Lukas, seu “par ideal”, é estável, seguro e afetuoso, torna a infidelidade com Simon ainda mais pungente.

A traição aqui é a do coração que se rebela contra a mente. Laura escolheu a segurança e a estabilidade, enquanto Simon, por sua vez, nunca abriu mão da intuição e do sentimento. As cenas de seus encontros clandestinos são desprovidas de grandes dramas, mas carregadas de uma tensão quase sufocante.

A química entre Goldstein e Poots é tão autêntica que os longos olhares, as pausas e os diálogos não ditos comunicam um universo de sentimentos que os personagens se recusam a verbalizar. O filme nos lembra que a vida real, assim como as relações, é cheia de nuances. As escolhas nem sempre são entre o certo e o errado, mas entre o que deveria ser e o que o coração insiste em ser.

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Fragmentos de uma vida compartilhada

A narrativa não-linear de Por Inteiro é uma escolha estilística arriscada, mas que se mostra fundamental para a proposta do filme. Em vez de uma progressão cronológica tradicional, somos apresentados a momentos decisivos da jornada de Simon e Laura. Essa abordagem, que pode parecer confusa para alguns espectadores, na verdade nos imerge na natureza descontínua de um relacionamento que se recusa a morrer.

Os saltos temporais nos forçam a conectar os pontos, a preencher as lacunas e a entender que, por mais que a vida de cada um siga em frente (com casamentos, filhos e novos parceiros), o laço entre eles permanece a única constante.

Essa repetição quase monótona de “tentar seguir em frente” enquanto voltam um para o outro, sublinha o ponto central do filme: a vida é uma eterna tomada de decisões, e a cada escolha, algo é inevitavelmente deixado para trás. A estrutura reforça a ideia de que o amor verdadeiro não é uma linha reta, mas uma série de voltas e reviravoltas, de “e se” e “talvez”.

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O vazio da ciência na relação

A premissa da Soul Connex, que poderia ser o grande motor da história, é, na verdade, intencionalmente subutilizada. E essa é a grande sacada de William Bridges. O filme não se perde em discussões sobre o funcionamento da tecnologia ou em dilemas éticos complexos. Ele usa o teste como um simples catalisador narrativo, um pretexto para explorar o drama humano que reside na base de toda relação.

A Soul Connex representa o mundo moderno, a busca por atalhos e garantias, por algo que elimine o risco e a incerteza do amor. A ironia reside no fato de que, ao seguir a “solução perfeita”, Laura e Lukas encontram a segurança, mas perdem a paixão, a espontaneidade e a dor catártica que acompanha a entrega a um sentimento real.

A vida de Simon, por outro lado, é um caos constante, mas é nesse caos que ele encontra a possibilidade de uma conexão genuína, a chance de viver um amor orgânico, com todas as suas imperfeições. O filme é uma crítica sutil a essa obsessão por soluções fáceis, lembrando-nos que o mais valioso em qualquer relacionamento é o risco, a vulnerabilidade e a coragem de se entregar sem um manual de instruções.

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Conclusão

Por Inteiro é um filme que desafia as convenções do gênero de drama romântico. Ele não oferece um final fácil ou um “felizes para sempre” garantido. Em vez disso, apresenta uma visão honesta e, por vezes, dolorosa, sobre a natureza do amor. Embora alguns possam se sentir frustrados com a falta de um enredo mais “direto” ou com a aparente falta de propósito da tecnologia futurista, é justamente nesse minimalismo que o filme encontra sua força.

A história de Simon e Laura nos convida a refletir sobre o que realmente significa amar: é uma questão de destino, de um encontro predestinado, ou é o ato contínuo de escolher a pessoa, todos os dias, apesar de todos os obstáculos? Por Inteiro nos mostra que o verdadeiro amor não é sobre encontrar a “alma gêmea”, mas sobre ter a coragem de se entregar a uma conexão, por mais bagunçada, imoral ou desafiadora que ela seja.

Onde assistir ao filme Por Inteiro?

O filme está disponível para assistir na Apple TV+.

Quem está no elenco de Por Inteiro, da Apple TV+?

  • Brett Goldstein
  • Imogen Poots
  • Jenna Coleman
  • Rebecca Osias
  • Kadiesha Belgrave
  • Zawe Ashton
  • Steven Cree
  • Alara-Star Khan
Escrito por
Taynna Gripp

Formada em Letras e pós-graduada em Roteiro, tem na paixão pela escrita sua essência e trabalha isso falando sobre Literatura, Cinema e Esportes. Atual CEO do Flixlândia e redatora do site Ultraverso.

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