O filme “Reagan”, cinebiografia dirigida por Sean McNamara e estrelada por Dennis Quaid, tenta recontar a vida do 40º presidente dos Estados Unidos com um toque épico de superação, fé e patriotismo. Porém, ao invés de iluminar as contradições de um dos líderes mais influentes do século XX, o longa prefere canonizá-lo, deixando de lado a complexidade histórica em troca de uma narrativa simplificada e ideológica.
Sinopse do filme Reagan (2025)
A história é contada por um inusitado narrador: Viktor Novikov (Jon Voight), um fictício ex-agente da KGB que, décadas depois da Guerra Fria, narra a ascensão de Ronald Reagan a um jovem político russo.
Do início humilde em Dixon, Illinois, passando por sua carreira como ator e líder sindical, até se tornar governador e, por fim, presidente dos EUA, Reagan é retratado como um homem guiado por Deus e destinado a derrotar o comunismo.
Ao lado da esposa Nancy (Penelope Ann Miller), ele supera fracassos pessoais e obstáculos políticos, enquanto o filme insiste em posicioná-lo como herói absoluto da liberdade americana.
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Crítica de Reagan, do Prime Video
Se uma boa cinebiografia deve equilibrar reverência com crítica, “Reagan” falha espetacularmente nesse ponto. Em vez de oferecer nuances sobre o homem por trás do mito, o filme entrega um retrato excessivamente devocional.
Ronald Reagan é pintado como infalível, quase santo – um cruzado moderno com missão divina. A referência constante a sua fé não enriquece o personagem, mas o transforma em figura quase bíblica. A frase “Deus tem um plano só seu” é repetida como um mantra, anulando qualquer possibilidade de explorar suas contradições humanas.
Um roteiro problemático
Escrito por Howard Klausner, conhecido por roteiros cristãos panfletários, o texto se prende a uma narrativa binária de bem contra o mal. Os comunistas são caricatos, os progressistas universitários são mimados e perigosos, e qualquer crítica a Reagan é tratada com desdém.
O caso Irã-Contras, por exemplo, é abordado com descaso, como se fosse um mero tropeço sem consequências. Temas fundamentais como a epidemia de AIDS e a Guerra às Drogas são simplesmente ignorados, numa escolha editorial que beira a irresponsabilidade histórica.
Atuações ofuscadas por excessos
Dennis Quaid tenta imprimir o charme característico de Reagan, e até consegue em momentos pontuais. A química com Penelope Ann Miller é um dos poucos pontos que conferem certa humanidade ao filme. Mas mesmo suas melhores cenas são prejudicadas pelo tom messiânico que paira sobre a narrativa.
Jon Voight, por sua vez, entrega uma performance exagerada, com sotaque russo duvidoso, que beira a paródia involuntária. A ideia de contar a história pelos olhos de um espião soviético fascinado por Reagan soa, no mínimo, bizarra – e, no máximo, como um artifício mal elaborado para reforçar a idolatria.
Estética datada e narrativa arrastada
Com 143 minutos de duração, “Reagan” se arrasta em cenas repetitivas e diálogos pouco inspirados. A mistura de imagens de arquivo com reencenações em câmera lenta soa datada e artificial. Em vez de mergulhar nos dilemas reais de sua época, o filme aposta em frases de efeito e piadas forçadas.
Até mesmo eventos marcantes, como a tentativa de assassinato em 1981, são tratados mais como oportunidades de reafirmar a força do protagonista do que como momentos reveladores de sua vulnerabilidade ou liderança.
Propaganda travestida de arte
A produção, financiada por nomes ligados ao cinema cristão e conservador, parece mais interessada em agradar uma base ideológica do que em fazer bom cinema. O objetivo não é provocar reflexão, mas reforçar certezas.
Nesse sentido, “Reagan” se insere em uma tendência crescente de filmes com viés político explícito, que sacrificam a qualidade narrativa em nome de uma missão doutrinária. Como em outros exemplos recentes, o resultado é um filme raso, previsível e desconectado da complexidade do mundo real.
Conclusão
“Reagan” é uma oportunidade desperdiçada. A figura histórica do ex-presidente, com todas as suas contradições, carisma e impacto global, merecia um retrato mais honesto e profundo. Ao optar pela exaltação acrítica e pela estética de sermão cinematográfico, o filme não só trai o espírito do gênero biográfico, como rebaixa seu protagonista à condição de símbolo inquestionável.
Para quem busca conhecer Reagan em sua plenitude, este longa não passa de uma versão edulcorada e frustrante de uma história muito mais rica do que o filme permite mostrar.
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Onde assistir ao filme Reagan?
O filme está disponível para assistir no Prime Video.
Trailer de Reagan (2025)
Elenco de Reagan, do Prime Video
- Dennis Quaid
- Penelope Ann Miller
- Jon Voight
- Mena Suvari
- David Henrie
- Tommy Ragen
- Kevin Dillon
- Mark Moses
Ficha técnica de Reagan
- Título original: Reagan
- Direção: Sean McNamara
- Roteiro: Paul Kengor, Howard Klausner
- Gênero: drama, biografia
- País: Estados Unidos
- Duração: 143 minutos
- Classificação: 12 anos