'Temporada de Furacões' e a escuridão eterna

“Dizem que o calor está enlouquecendo as pessoas; que a temporada de furacões está vindo com força; que as más vibrações são a causa de tanta desgraça. Mas fiquem tranquilos. Não temam ou se desesperem, porque a escuridão não dura pra sempre. Viram a luz que está brilhando ao longe? Aquela luzinha que parece uma estrela? Temos que ir para lá. Lá é a saída deste buraco”.

Adaptação do aclamado romance homônimo de Fernanda Melchor, vencedora do Prêmio Anna Seghers de 2019 e finalista do Booker Internacional de 2020, o filme “Temporada de Furacões” (Temporada de Huracanes) chegou cercado de expectativas ao catálogo da Netflix. Ainda mais com a direção de Elisa Miller, vencedora da Palma de Ouro em 2007.

Sinopse de Temporada de Furacões

Na trama, quatro almas em busca de redenção enfrentam a implacável tempestade do seu destino em um mundo onde a violência preenche o espaço onde o amor é necessário. Quando um grupo de crianças encontra um corpo flutuando em um canal, a dura realidade por trás de um crime perverso revela os segredos ocultos de uma cidade.

Vale a pena ver Temporada de Furacões?

Utilizando-se de um formato 1:1 pouco convencional no cinema atual, a diretora Elisa Miller consegue captar bem a essência do livro de Fernanda Melchor, levando o espectador a uma sensação de assistir algo mais antigo e precarizado, assim como a situação dos personagens do filme, que vivem em uma realidade distante dos grandes centros.

Outra opção pouco usual da cineasta também está na tonalidade das cores, com saturação baixa e uma matriz verde, aproximando-se de uma coloração mais próxima do barro, da terra ou da lama mesmo, remetendo novamente à precariedade de recursos interioranos.

A escolha por divisões em capítulos também se mostra acertada, mas, ao contrário do formato de película, esse é um subterfúgio até relativamente comum em adaptações literárias. Vale também destacar a bela caracterização dos personagens, bem como as atuações, a cenografia e a fotografia do filme, todas feitas com muito esmero.

Eventos reais, personagens imaginários

Fugindo um pouco dos aspectos técnicos, “Temporada de Furacões” inicia com a clássica introdução da obra “Las Muertas”, de Jorge Ibargüengoitia: “Alguns dos eventos narrados aqui são reais. Todos os personagens são imaginários”. O trecho tem grande contextualização com o livro de Melchor, assim como o filme, que versa sobre feminicídio e violência de gênero através da reconstituição dos fatos e relatos de alguns dos envolvidos que levaram ao crime descrito no enredo.

Embora não seja uma história verdadeira, “Temporada de Furacões” faz uma síntese da realidade de muitas regiões pobres do México – que poderiam ser facilmente associadas ao Brasil – dominadas por pobreza, superstição, misoginia, preconceito, violência institucional e nas relações íntimas.

Dessa forma, como na citação de Ibargüengoitia, os personagens se misturam entre a real e o imaginário, inclusive a tal “bruxa” do filme. Mas os eventos – esses sim -, ainda que tenham sido criados pela mente brilhante de Melchor, são extremamente factíveis, cruéis e dignos de verdadeiros furacões. Uma sensação terrível de desesperança para um povo que pouco pode sonhar.

Onde assistir ao filme Temporada de Furacões (2023)?

O filme “Temporada de Furacões” estreou nesta quarta-feira, dia 1º de novembro de 2023, no catálogo da Netflix.

Trailer do filme Temporada de Furacões, da Netflix (2023)

Temporada de Furacões: elenco do filme da Netflix (2023)

Edgar Treviño
Andrés Cordaz
Kat Rigoni
Paloma Alvamar
Andrés Cordova
Conchi León

Ficha técnica do filme Temporada de Furacões, da Netflix (2023)

Título original do filme: Temporada de Huracanes
Direção: Elisa Miller
Roteiro: Daniela Gómez, Fernanda Melchor, Elisa Miller
Gênero: drama, suspense
País: México
Ano: 2023
Duração: 99 minutos
Classificação: 18 anos

Sobre o autor

Wilson Spiler

Formado em Design Gráfico, Pós-graduado em Jornalismo e especializado em Jornalismo Cultural, com passagens por grandes redações como TV Globo, Globonews, SRZD e Ultraverso.

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