Em tempos de instabilidade política global, filmes que revisitam momentos cruciais da história ganham novo fôlego e sentido. “12.12: O Dia”, dirigido por Kim Sung-su, é um desses casos emblemáticos. Mais do que uma simples dramatização de um episódio histórico da Coreia do Sul, o longa transforma uma noite de tensão em uma poderosa alegoria sobre lealdade, covardia institucional e o peso da omissão.
A obra conquistou o público coreano em 2023, tornando-se um fenômeno de bilheteria — mas também se apresenta como um espelho inquietante para outras democracias frágeis, inclusive a brasileira.
Sinopse do filme 12.12: O Dia
A trama se passa em dezembro de 1979, logo após o assassinato do presidente sul-coreano Park Chung-hee, que governou o país com autoritarismo por quase duas décadas. Em meio à turbulência política, a lei marcial é decretada. Aproveitando o vácuo de poder, o Comandante de Segurança da Defesa, Chun Doo-gwang (Hwang Jung-min), lidera um golpe com apoio de parte das Forças Armadas.
Do outro lado está Lee Tae-shin (Jung Woo-sung), comandante da Defesa da Capital, que acredita no papel apolítico do Exército e tenta resistir à escalada autoritária. A disputa pelo controle da nação se dá em nove horas decisivas, onde cada decisão, cada ordem, cada hesitação, pode mudar os rumos da história.
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Crítica de 12.12: O Dia (2025)
Kim Sung-su constrói “12.12: O Dia” como uma peça de guerra travada em salões escuros, corredores militares e telefonemas nervosos. Há tiros e tanques, sim, mas o grande embate é moral.
A tensão não vem das explosões, mas do silêncio entre as ordens, da hesitação dos generais, do embate ético entre dois projetos de poder. A escolha de condensar o drama em uma única noite favorece o ritmo: o tempo corre contra os personagens, e o espectador sente isso pulsar a cada cena.
Retrato de ambição e fraqueza
O longa apresenta dois polos opostos: Chun, o vilão implacável, maquiavélico e metódico; e Lee, o herói trágico, idealista e contido. Hwang Jung-min interpreta Chun com uma frieza que arrepia. Sua ambição, ainda que repulsiva, é envolta em carisma e controle. Já Jung Woo-sung confere a Lee uma nobreza quase romântica, tornando sua resistência mais simbólica do que eficaz.
No entanto, ao redor desses dois, o que se vê é paralisia. Generais que se escondem atrás da conveniência, ministros que esperam o vento virar e soldados que obedecem sem pensar. O filme denuncia com precisão que a omissão é tão perigosa quanto o autoritarismo declarado.
Uma estética poderosa, mas problemática
Visualmente, “12.12” é impecável. A fotografia sombria, os enquadramentos rígidos e o uso calculado da luz criam um clima opressivo. A mise-en-scène é detalhista, e a trilha sonora amplifica cada dilema. No entanto, há uma contradição desconfortável: enquanto o conteúdo do filme denuncia o golpismo, a forma o estetiza.
A direção transforma o avanço autoritário em espetáculo, embalando cenas de tanques, prisões e perseguições com adrenalina cinematográfica. O resultado é uma perigosa glamorização da ruptura democrática, que pode até provocar indignação, mas também excitação — como se o caos institucional fosse um bom enredo de ação.
Entre a memória e o entretenimento
O filme se propõe a revisitar um trauma nacional com seriedade. Mas a escolha por heróis e vilões excessivamente maniqueístas reduz a complexidade dos fatos. A política vira palco de um duelo entre o “homem bom” e o “homem mau”, enquanto a sociedade civil desaparece da narrativa.
Essa simplificação emociona, mas empobrece a reflexão. Em vez de abrir espaço para o debate, a obra parece querer apenas reafirmar uma moral já dada — como se dissesse ao espectador: “torça por este, deteste aquele”.
Conclusão
“12.12: O Dia” é um filme importante e necessário. Consegue, com técnica e rigor, reconstruir uma das noites mais críticas da história da Coreia do Sul, provocando incômodo e reflexão. Ao mesmo tempo, escorrega ao tratar o golpe de Estado como uma epopeia masculina, dramatizando o autoritarismo com os mesmos códigos do entretenimento de guerra dos anos 80.
É um filme sobre o passado que fala com o presente — e é aí que mora sua maior força. Em um mundo onde a democracia está sempre à beira do abismo, o filme nos lembra que não basta apontar os culpados: é preciso entender como chegamos até eles. Mesmo que, para isso, seja necessário transformar a história em espetáculo.
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Onde assistir ao filme 12.12: O Dia?
O filme está disponível para assistir nos cinemas a partir do dia 24 de abril de 2025.
Trailer de 12.12: O Dia (2025)
Elenco do filme 12.12: O Dia
- Hwang Jung-min
- Jung Woo-sung
- Lee Sung-min
- Park Hae-joon
- Kim Sung Kyun
- Kim Eui-sung
- Jung Dong-hwan
- Ahn Nae-sang
Ficha técnica de 12.12: O Dia (2025)
- Título original: Seoul-ui Bom
- Direção: Sung Soo Kim
- Roteiro: In-pyo Hong, Sung Soo Kim, Young-jong Lee
- Gênero: suspense, ação, drama
- País: Coreia do Sul
- Duração: 141 minutos
- Classificação: 14 anos