Desde sua estreia, “Black Mirror” tornou-se sinônimo de distopias tecnológicas com tintas sombrias e desconforto existencial. Criada por Charlie Brooker, a série capturou o espírito de uma era obcecada com o futuro digital — e, com o tempo, ela própria virou um espelho do seu sucesso e contradições. Após temporadas marcadas por irregularidades, a sétima tentativa da Netflix soa, ao mesmo tempo, como um retorno às origens e uma busca por novos caminhos.
Com seis episódios inéditos, a antologia flerta com nostalgia, revisita universos conhecidos, aposta em tons mais sensíveis e — talvez seu movimento mais ousado — abre mão, em parte, do pessimismo cínico que a consagrou. A dúvida que fica: ainda é “Black Mirror” se o espelho não nos quebra por dentro?
Sinopse da temporada 7 da série Black Mirror (2025)
A temporada é dividida, de forma não oficial, em três pares de episódios: dois que exploram o uso da tecnologia de forma destrutiva (Pessoas Comuns e Bête Noire), dois mais suaves ou até esperançosos (Hotel Reverie e Eulogy), e dois voltados à nostalgia e à continuidade de histórias antigas (Brinquedo e USS Callister: Infinity).
Em cada um, Brooker e seus colaboradores testam formatos, revisitamentos e intenções. O resultado é uma temporada que, se não recupera a genialidade das primeiras, ao menos oferece vislumbres do que ainda pode ser.
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Crítica da série Black Mirror (temporada 7), da Netflix
O episódio de abertura da temporada 7 de “Black Mirror”, Pessoas Comuns, apresenta um casal comovente (Rashida Jones e Chris O’Dowd) em meio ao dilema de manter a consciência de Amanda viva através de uma startup que exige mensalidades e contratos cruéis.
Apesar do potencial emocional, o episódio tropeça ao repetir a crítica já feita de forma mais afiada em Joan é Péssima, da temporada anterior. É satírico, sim — com alfinetadas ao capitalismo de assinatura — mas falta-lhe fôlego dramático para nos levar além do óbvio.
Bête Noire, por sua vez, tenta evocar o suspense psicológico de forma paranoica, colocando uma personagem em queda livre após o reencontro com uma ex-colega manipuladora. Mas a falta de empatia pela protagonista e a rapidez dos acontecimentos enfraquecem qualquer intenção de criar tensão. O desfecho, apesar de provocativo, parece mais uma ideia que funcionaria melhor como curta-metragem do que como episódio completo.
Emoção acima da distopia: o acerto inesperado
Curiosamente, os melhores momentos da temporada surgem quando “Black Mirror” suaviza seu olhar sobre a tecnologia. Hotel Reverie, estrelado por Issa Rae e Emma Corrin, transforma uma IA cinematográfica em palco para um romance improvável e tocante. Ao invés de satirizar Hollywood, o episódio propõe uma discussão sobre performance, memória e sentimento — com direito a doses bem calibradas de metalinguagem e afeto.
Ainda mais forte é Eulogy, com Paul Giamatti em uma das atuações mais comoventes da série. Aqui, a tecnologia permite que Phillip revisite lembranças perdidas para homenagear um amor do passado. O que poderia ser apenas melancólico torna-se um estudo delicado sobre arrependimento, perda e reconciliação. Se San Junipero mostrou que “Black Mirror” podia ser doce, Eulogy confirma que ela também pode ser profunda sem ser cruel.
Brincando com o próprio passado
Brinquedo e USS Callister: Infinity representam o lado mais nostálgico da temporada — e, também, o mais desigual. O primeiro retorna ao universo de Bandersnatch, com direito à presença de Colin Ritman (Will Poulter) e reflexões sobre os limites da criação virtual. A montagem em flashbacks e o excesso de referências, porém, cansam. Apesar da ideia interessante, a execução é truncada, e o impacto diluído.
Já USS Callister: Infinity — primeira continuação direta da série — traz de volta o mundo de fantasia sci-fi que satiriza Star Trek. A aventura de 90 minutos é, sim, visualmente empolgante e bem conduzida. Mas, ao repetir estruturas e apelar para piadas fáceis, o episódio parece ceder à fórmula que a série sempre evitou.
O que era original em 2017 soa aqui como uma tentativa de manter vivo um sucesso do passado — algo que vai na contramão do espírito provocativo de “Black Mirror”.
Conclusão
A temporada 7 de “Black Mirror” é, acima de tudo, um espelho de si mesma. Entre revisitas e reformulações, Charlie Brooker demonstra consciência do peso de seu legado — e, ao mesmo tempo, uma tentativa real de encontrar novos caminhos. Há deslizes e repetições? Sim. Mas também há lampejos de renovação, especialmente nos episódios que ousam ser mais humanos do que tecnológicos.
Não é a temporada que salvará a reputação da série. Mas também não é um ponto final. “Black Mirror”, ao que parece, ainda tem imagens para refletir — mesmo que nem todas sejam chocantes como antes.
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Onde assistir a série Black Mirror?
A série está disponível para assistir na Netflix.
Trailer da temporada 7 Black Mirror (2025)
Elenco de Black Mirror, da Netflix
- Awkwafina
- Peter Capaldi
- Asim Chaudhry
- Emma Corrin
- Patsy Ferran
- Paul Giamatti
- Lewis Gribben
- Rashida Jones
- Siena Kelly
- Rosy McEwen
Ficha técnica da série Black Mirror
- Título original: Black Mirror
- Criação: Charlie Brooker
- Gênero: ficção científica, suspense, drama
- País: Reino Unido
- Temporada: 7
- Episódios: 6
- Classificação: 18 anos