‘A Garota da Vez’ vale a pena, não apenas pelo suspense, mas pela reflexão que provoca
Taynna Gripp12/12/20243 Mins de Leitura4 Visualizações
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Em sua estreia como diretora, Anna Kendrick surpreende ao conduzir o filme “A Garota da Vez” (Woman of the Hour), um thriller psicológico baseado na história real do serial killer Rodney Alcala.
O longa aborda temas como a desvalorização da palavra feminina e o impacto da violência de gênero, traçando paralelos com a cultura machista da década de 1970. Kendrick, conhecida por suas atuações em comédias, apresenta uma obra que tenta equilibrar suspense, crítica social e drama psicológico.
A trama segue Sheryl Bradshaw (interpretada pela própria Anna Kendrick), uma atriz em busca de visibilidade que aceita participar do programa de namoro “The Dating Game” (O Jogo do Namoro, em português literal), popular nos anos 70.
Entre os pretendentes, está Rodney Alcala (Daniel Zovatto), um homem charmoso, mas perigosamente envolvido em uma onda de assassinatos. Enquanto Sheryl tenta alcançar seus sonhos em Hollywood, o filme alterna entre as histórias das vítimas de Alcala, revelando o sistema que permitiu sua impunidade por décadas.
“A Garota da Vez” combina o drama de um thriller com nuances de crítica social, explorando como as mulheres eram (e muitas vezes ainda são) subjugadas em ambientes dominados por homens. Kendrick acerta ao focar nas perspectivas das vítimas e ao evitar o sensacionalismo gráfico, deixando o horror implícito em olhares e interações. No entanto, o roteiro de Ian McDonald, embora ambicioso, peca em manter uma consistência narrativa.
A montagem do filme é talvez seu maior ponto fraco, com flashbacks abruptos que frequentemente quebram o ritmo. Essa escolha dilui o impacto emocional e torna difícil acompanhar a evolução da trama. Além disso, o filme, que prometia um estudo profundo sobre o impacto de Alcala em suas vítimas e na sociedade, acaba sacrificando algumas camadas narrativas em prol de subtramas desnecessárias.
Destaques para o elenco
Apesar disso, o elenco se destaca. Kendrick entrega uma atuação sólida como Sheryl, uma mulher tentando sobreviver em um mundo que insiste em subjugá-la. Já Daniel Zovatto, como Alcala, alterna entre charme e frieza, embora seu personagem não seja tão ameaçador quanto se poderia esperar.
Coadjuvantes como Nicolette Robinson e Autumn Best enriquecem o enredo, oferecendo momentos mais impactantes que a própria protagonista em algumas cenas.
O cenário principal, o set do programa de namoro, é bem utilizado para criar tensão, refletindo a superficialidade de um sistema que ignora sinais de perigo em favor do entretenimento. No entanto, limitações no orçamento ficam evidentes em detalhes como figurinos e caracterização, que poderiam ser mais refinados para ajudar na imersão.
“A Garota da Vez” é uma estreia corajosa de Anna Kendrick como diretora. Apesar de seus problemas de ritmo e execução, o filme consegue lançar luz sobre questões importantes, como a desumanização das mulheres e a perpetuação de ciclos de violência. É um lembrete de que, mesmo décadas depois, as mesmas estruturas sociais que permitiram os crimes de Alcala continuam sendo relevantes para debates atuais.
Embora não seja uma obra-prima, o longa demonstra o potencial de Kendrick como realizadora, sugerindo que há muito mais por vir em sua carreira atrás das câmeras. “A Garota da Vez” é uma experiência que vale a pena, não apenas pelo suspense, mas pela reflexão que provoca.
Formada em Letras e pós-graduada em Roteiro, tem na paixão pela escrita sua essência e trabalha isso falando sobre Literatura, Cinema e Esportes. Atual CEO do Flixlândia e redatora do site Ultraverso.