Em 1938, a adaptação radiofônica de “A Guerra dos Mundos”, de H.G. Wells, comandada por Orson Welles, gerou pânico ao simular uma invasão alienígena como um boletim de notícias de última hora. Agora, quase um século depois, uma nova versão do clássico, com direção de Rich Lee e estrelada por Ice Cube e Eva Longoria, tenta mais uma vez reinventar a história para a era moderna.
Com a promessa de uma abordagem que mistura a invasão alienígena com temas de vigilância digital, privacidade e dependência tecnológica, a produção chega ao catálogo do Amazon Prime Video como um “lançamento surpresa”. No entanto, o que deveria ser uma reinvenção ambiciosa, na verdade, se revela uma adaptação frágil, que falha em quase todos os pontos que se propõe a abordar.
Sinopse
A trama segue Will Radford (Ice Cube), um analista de segurança digital do Departamento de Segurança dos EUA. Passando seus dias na frente de um computador, ele monitora a privacidade dos cidadãos, incluindo, e principalmente, a de seus próprios filhos. No entanto, sua rotina é interrompida quando ele detecta sinais de uma invasão alienígena iminente.
A partir da tela de seu computador, o protagonista acompanha a catástrofe global em tempo real, através de vídeos amadores, notícias e feeds de câmeras de vigilância. A narrativa, feita no formato “screenlife”, onde toda a ação se desenrola através de telas de dispositivos, coloca Will no centro do caos, enquanto ele tenta proteger sua família e, ao mesmo tempo, lida com a ameaça extraterrestre e com as consequências de um mundo hiperconectado.
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Crítica
A ideia de adaptar “A Guerra dos Mundos” para o formato “screenlife” — o mesmo de filmes como “Buscando” e “Cuidado com Quem Chama” — não é, por si só, ruim. Pelo contrário, ela oferece um potencial interessante para uma abordagem mais intimista, pessoal e claustrofóbica da invasão. O clássico de H.G. Wells tem como base a paranoia e a incerteza do desconhecido, e ver essa história se desenrolar através de fragmentos de informação em uma tela de computador poderia intensificar essa sensação.
No entanto, o filme de Rich Lee esbarra em uma execução desastrosa. A narrativa é tão apressada que não dá tempo para a tensão se desenvolver. Em vez de uma catástrofe que se desdobra lentamente, tudo acontece em um ritmo frenético, mais parecido com um “react” de YouTube ou TikTok do que com um filme. O resultado é que a história falha em gerar qualquer tipo de emoção ou empatia, tornando a experiência tediosa.
O elenco e a propaganda disfarçada
Apesar de ter um elenco com nomes de peso como Ice Cube, Eva Longoria, Clark Gregg e Iman Benson, a atuação dos atores se mostra pouco convincente. Cube, com seu “mau humor carismático”, tenta, sem sucesso, transmitir a gravidade da situação. A maior parte do tempo, sua atuação é limitada a expressões faciais alternadas, incapazes de envolver o espectador no drama.
O formato “screenlife” restringe a capacidade do elenco de se mover e interagir, o que faz com que suas performances pareçam desconectadas e incongruentes. O pior, no entanto, é o uso descarado de propaganda da Amazon.
Momentos cruciais da trama dependem da ativação de uma assinatura do Prime Video e um motorista do Amazon Prime se torna o herói da história. O filme chega ao ponto de usar o serviço de entrega da empresa como a solução para salvar a humanidade, tornando a produção mais um longo comercial do que uma obra cinematográfica.
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Efeitos visuais e roteiro problemático
Apesar de ter sido distribuído pela Universal Pictures e Amazon MGM Studios, a qualidade da produção parece ter um orçamento extremamente limitado. Os efeitos visuais dos alienígenas e da destruição são amadores, com um nível que se assemelha a produções de baixo custo.
A tentativa de esconder a baixa qualidade com “artefatos digitais” apenas destaca a fragilidade da produção. Além disso, o roteiro é cheio de inconsistências e decisões ilógicas. Por exemplo, a utilização de videochamadas, mesmo com câmeras de vigilância e do corpo já disponíveis, se mostra sem sentido.
O fato de as torres de celular continuarem funcionando em meio ao caos também contribui para a falta de realismo da narrativa, mesmo para uma ficção científica. O roteiro não consegue construir uma história crível, deixando de lado o suspense e a tensão psicológica em troca de um frenesi de informações sem propósito.
Conclusão
A nova adaptação de “A Guerra dos Mundos” de 2025 é um exemplo de como uma ideia promissora pode ser arruinada por uma execução ruim. A tentativa de misturar um formato inovador com temas contemporâneos de vigilância e privacidade falha em todos os níveis. O filme se apega a um frenesi visual de vídeos de internet, mas não oferece substância, emoção ou um roteiro coeso.
O resultado é um produto que se sente mais como um vídeo de feed de rede social de alto orçamento do que uma experiência cinematográfica. Longe de ser uma obra marcante como as adaptações de Steven Spielberg ou Byron Haskin, esta versão de “A Guerra dos Mundos” é uma grande decepção que se aproxima de se tornar um dos piores filmes de 2025.
O fato de que a produção foi lançada silenciosamente e, mesmo assim, está entre as mais assistidas, mostra que a estratégia do Prime Video pode ter funcionado do ponto de vista do marketing, mas não do ponto de vista artístico.
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Onde assistir ao filme A Guerra dos Mundos?
O filme está disponível para assistir no Prime Video.
Trailer de A Guerra dos Mundos (2025)
Elenco de A Guerra dos Mundos, do Prime Video
- Ice Cube
- Eva Longoria
- Clark Gregg
- Iman Benson
- Henry Hunter Hall
- Devon Bostick
- Michael O’Neill
- Andrea Savage