Taynna Gripp 
Foto: Netflix / Divulgação
Em meio à crescente popularidade dos dramas jurídicos sul-coreanos, “Além do Direito” (Beyond the Bar) chega à Netflix com a promessa de uma abordagem mais crua e realista do universo da advocacia. Diferente dos melodramas que costumam dominar o gênero, a série, escrita por uma advogada em atividade, mergulha nas complexidades da moralidade profissional e das áreas cinzentas do sistema legal.
Os dois primeiros episódios não apenas apresentam os protagonistas, mas estabelecem um contraste fascinante entre o idealismo de uma novata e a frieza pragmática de um veterano, preparando o terreno para uma exploração densa e emocional sobre o que realmente significa buscar a justiça.
Sinopse dos episódios 1 e 2
A trama se desenrola no prestigiado escritório de advocacia Yeollim, onde a recém-contratada Kang Hyo-min (Jung Chae-yeon) se destaca por sua inteligência afiada e senso de justiça inabalável, apesar de um certo desajuste social.
Após um início desastroso com um atraso na entrevista, ela é a única novata a aceitar o desafio de integrar a temida equipe de Litígios, liderada por Yoon Seok-hoon (Lee Jin-wook). Seok-hoon é o oposto de Hyo-min: um advogado sênior de lógica impecável e semblante frio, que vive em um luto silencioso após a perda da esposa.
No primeiro episódio, Hyo-min choca o escritório ao se destacar com uma investigação de campo que revela um esquema de roubo de gás, garantindo uma vitória impressionante no tribunal. O segundo episódio aprofunda as vidas pessoais dos protagonistas. Hyo-min confronta a traição de seu namorado, Sung-chan, ao revelar a existência de sua irmã gêmea com deficiência auditiva, expondo a superficialidade e o preconceito dele.
No âmbito profissional, a equipe de Seok-hoon assume o caso de Park Ki-beom, um homem que destruiu uma clínica de fertilidade após a perda negligente de sua amostra de esperma. O que parecia um caso de vandalismo se transforma em uma história comovente sobre amor, perda e a busca por dignidade, culminando em uma vitória emocional e tática no tribunal.
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Crítica
A relação entre Hyo-min e Seok-hoon é o motor da narrativa, e o que a torna especialmente atraente é a ausência de um clichê romântico imediato. A interação é um caos profissional, uma colisão de estilos crua e desconfortável, mas essencial para o desenvolvimento de Hyo-min. Ele, o mentor avesso a vínculos e marcado pela dor, a vê inicialmente como um estorrismo. Ela, por sua vez, enxerga nele um desafio.
A frieza de Seok-hoon é um escudo, uma resposta a uma dor que a série sugere ser a morte de sua parceira, enquanto o idealismo de Hyo-min é a sua força motriz. O momento sutil no final do segundo episódio, com a metáfora do chá que só revela sua força na água quente, sela um pacto de respeito mútuo. É uma abordagem inteligente que constrói a parceria a partir da admiração profissional e do reconhecimento da força interior, em vez de recorrer a um romance forçado.
O realismo jurídico e a moralidade humana
Um dos grandes acertos da série é a sua capacidade de substituir o melodrama por um olhar mais matizado sobre o trabalho jurídico. O caso do roubo de gás no primeiro episódio e, em especial, o do esperma perdido no segundo, demonstram a complexidade de se trabalhar na área cinzenta da lei.
O segundo caso, em particular, é uma obra-prima de sensibilidade. O que começa como um simples processo de danos materiais se transforma em uma discussão profunda sobre a dor humana, o preconceito e o direito à dignidade.
A série, através da protagonista, questiona o que é justiça de fato, sugerindo que “ganhar o caso nem sempre é justiça”. A decisão de Seok-hoon de usar a história de vida do cliente e de sua esposa como uma tática para pressionar a firma adversária demonstra que o sucesso no tribunal muitas vezes depende de uma leitura precisa das emoções e das fraquezas humanas, e não apenas do puro raciocínio legal.
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Crítica social
Hyo-min é uma personagem cativante e multicamadas. Ela não é a heroína perfeita; é socialmente desastrada, tímida, mas apaixonada e incansável. A série utiliza sua história pessoal para tecer uma crítica social ao elitismo e ao preconceito. Seu namorado, Sung-chan, está mais interessado no prestígio de sua família do que em sua própria essência.
A história de sua irmã gêmea com deficiência auditiva expõe a fachada de “perfeição” que sua família tenta manter, algo que o próprio Sung-chan não consegue aceitar. Esse conflito pessoal não é apenas um pano de fundo, mas um espelho para os casos que ela enfrenta, onde o preconceito e a falta de empatia são os verdadeiros adversários.
A série parece sugerir que sua força como advogada reside não em sua educação de elite, mas em sua capacidade de enxergar a humanidade por trás de cada caso, uma habilidade que o sistema e as pessoas ao seu redor muitas vezes tentam abafar.
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Conclusão
Os dois primeiros episódios de “Além do Direito” estabelecem uma boa base para uma série que promete ir além das fórmulas tradicionais. Ao explorar a tensão entre idealismo e pragmatismo, e ao abordar dilemas morais com sensibilidade, a produção se diferencia de outros dramas jurídicos.
O roteiro, escrito por uma advogada, confere uma autenticidade bem-vinda que prioriza o desenvolvimento dos personagens e a profundidade emocional dos casos em vez de reviravoltas mirabolantes. A dinâmica entre Hyo-min e Seok-hoon, a exploração dos traumas pessoais e a crítica social sutil, mas contundente, fazem da série uma aposta promissora para os amantes do gênero que buscam uma experiência mais reflexiva e comovente.
É um dorama que se fortalece nos silêncios e nos pequenos gestos, mostrando que a verdadeira força de um profissional, assim como a de uma pessoa, é revelada diante das adversidades.
Onde assistir ao dorama Além do Direito?
A série está disponível para assistir na Netflix.
Assista ao trailer de Além do Direito (2025)
Elenco de Além do Direito, da Netflix
- Lee Jin-uk
- Jung Chae-yeon
- Lee Hak-ju
- Jeon Hye-bin
- Kim Eui-sung
- Kim Yeo-jin
- Hong Seo-jun
- Yun Yu-sun
- Cho Seung-yean
- Lee Sang-yeob
Sobre o autor
