No cinema, a promessa de um filme com nomes de peso como o diretor Mel Gibson e o ator Mark Wahlberg, que já trabalharam juntos em produções bem recebidas, gera uma expectativa natural. Ameaça no Ar (originalmente Flight Risk), um thriller de ação que se passa quase inteiramente em um avião, parecia ter a receita para um entretenimento tenso e envolvente.
Com um roteiro que figurou na Black List (uma lista dos melhores roteiros não produzidos de Hollywood), a produção tinha potencial para ser uma joia de baixo orçamento. No entanto, o que se vê nas telas é uma experiência polarizadora, onde a execução esbarra em problemas fundamentais, deixando o público dividido entre o entretenimento despretensioso e a frustração com as falhas gritantes.
Sinopse
A trama acompanha Madelyn (Michelle Dockery), uma agente federal encarregada de transportar Winston (Topher Grace), um contador da máfia que decidiu delatar seu chefe. O cenário é a fria e remota paisagem do Alasca, e a única forma de chegar à cidade para o julgamento é a bordo de um pequeno avião. O piloto é Daryl Booth (Mark Wahlberg), um “caipira” texano com um jeito amigável, mas que esconde uma faceta perigosa.
O que começa como um voo de rotina rapidamente se transforma em uma batalha pela sobrevivência, com a cabine se tornando um palco claustrofóbico para tiros, brigas e reviravoltas inesperadas. A heroína, que tem de lidar com um piloto desonesto e um passageiro apavorado, se vê forçada a assumir o controle do avião, mesmo sem ter qualquer experiência de voo.
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Crítica
Mel Gibson, conhecido por sua mão firme e visceral em filmes como Coração Valente e Até o Último Homem, tenta imprimir a mesma intensidade em Ameaça no Ar. O filme é, sem dúvida, bem dirigido dentro de suas limitações.
O cineasta consegue criar um ambiente claustrofóbico e de alta tensão, explorando cada centímetro da pequena cabine do avião. Ele usa a câmera de forma inteligente para capturar a brutalidade das lutas e o nervosismo dos personagens.
No entanto, a direção parece conflitar com o tom do próprio roteiro. Enquanto Gibson busca uma atmosfera de suspense sério, o roteiro flerta com uma comédia involuntária, cheia de diálogos bizarros e situações absurdas.
Essa dissonância prejudica a imersão e faz com que o espectador não saiba se deve levar o filme a sério ou apenas rir das incongruências. A cena inicial, onde o barulho do avião exige o uso de fones, mas em momentos posteriores os personagens conversam em tom normal, é um exemplo claro dessa falta de coesão.
O elenco e seus personagens controversos
Mark Wahlberg assume um papel raramente visto em sua carreira: o de vilão. Sua interpretação como o sádico e excêntrico Daryl Booth é, para muitos, o ponto alto do filme, mas para outros, um desastre completo. Ele improvisa bastante e seu sotaque texano, combinado com a careca e as piadas cruéis, cria um personagem que se destaca.
Há quem possa ver a atuação como divertida e fresca, uma quebra do padrão “herói de ação”. Contudo, sinto que o personagem é uma caricatura boba, beirando o patético, e que a tentativa de copiar a essência de vilões como Trevor do jogo GTA V falhou miseravelmente.
Michelle Dockery, como a protagonista Madelyn, esforça-se para dar credibilidade à situação. No entanto, sua personagem é frequentemente desafiada por um roteiro fraco, que a coloca em situações de decisões absurdas, permitindo que o vilão escape repetidas vezes.
A atuação de Topher Grace como o medroso Winston é funcional e efetiva. Ele entrega a dose de humor e nervosismo necessária para o papel. O problema é que, no geral, os personagens são unidimensionais, e as motivações são superficiais, limitando o potencial dos atores.
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As incoerências do roteiro
É no roteiro que Ameaça no Ar mostra suas maiores fraquezas. A premissa de um thriller em um avião pequeno é promissora, mas a execução deixa a desejar. O filme peca pela falta de profundidade e por uma série de falhas de lógica que quebram a suspensão de descrença. O diálogo é, em muitos momentos, bizarro e inacreditável.
A tentativa de criar um romance por rádio entre a protagonista e um controlador de voo em meio ao desespero de uma queda iminente é um exemplo de quão desconectado o roteiro está da realidade.
A história se perde ao tentar ser mais complexa do que precisa, abandonando a simplicidade de um delator e um assassino para incluir uma conspiração policial mal explicada. A reviravolta sobre quem é o verdadeiro traidor parece deslocada, e o filme introduz personagens importantes no terceiro ato, sem nem sequer mostrá-los em tela.
Essa decisão narrativa é frustrante e faz com que o filme pareça inacabado. Além disso, o final não amarra a ponta principal da trama, deixando o espectador sem saber se o delator consegue, de fato, depor.
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Conclusão
Ameaça no Ar é o típico filme que define o termo “direto para o streaming” nos dias de hoje. Ele possui um bom conceito e a direção de Mel Gibson se destaca ao criar uma atmosfera de tensão palpável. O filme consegue prender a atenção e tem um ritmo ágil, o que o torna um entretenimento passatempo. No entanto, o saldo final é negativo para a maioria do público.
A trama rasa, os personagens superficiais, as diversas falhas de roteiro e a incongruência de tom fazem com que ele não consiga decolar de forma convincente. É um filme que, apesar de divertir em alguns momentos, não consegue ser marcante e está muito abaixo do padrão de qualidade que se espera de seus criadores. Se você busca um suspense aéreo de alta qualidade, talvez seja melhor revisitar títulos como O Voo ou Plano de Voo.
Onde assistir ao filme Ameaça no Ar?
O filme está disponível para assistir no Prime Video.
Trailer de Ameaça no Ar (2025)
Elenco de Ameaça no Ar, do Prime Video
- Leah Remini
- Mark Wahlberg
- Topher Grace
- Michelle Dockery
- Monib Abhat
