A nova série da HBO sobre o polêmico e importantíssimo caso de Ângela Diniz, baseada no fenômeno do podcast Praia dos Ossos, estreou nesta quinta-feira, 13 de novembro, no canal e na plataforma de streaming HBO Max.
E se você, assim como eu, estava na expectativa, pode respirar aliviado: os dois primeiros episódios confirmam que a produção não só fez jus ao material de origem, como elevou a história a um patamar visual e emocionalmente devastador.
É mais do que uma série de true crime; é um espelho desconfortável sobre o Brasil de ontem que, dolorosamente, ainda se parece muito com o Brasil de hoje.
Sinopse
Para quem ainda não está totalmente familiarizado com o caso, a série Ângela Diniz: Assassinada e Condenada, uma ficção original da HBO e produzida pela Conspiração, revisita a trajetória de Ângela Diniz, a socialite mineira cuja vida se tornou um marco trágico para o movimento feminista no país.
Ângela, em sua busca por autonomia e liberdade, desafiou os padrões sociais impostos às mulheres de sua época. Essa liberdade, vista como afronta, culminou em tragédia: ela foi brutalmente assassinada com quatro tiros à queima-roupa pelo seu namorado, Doca Street (interpretado por Emilio Dantas), que, pasme, tentou justificar o crime usando a esdrúxula tese de “legítima defesa da honra”.
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Resenha Crítica de Ângela Diniz: Assassinada e Condenada
Um dos maiores acertos da série é a fidelidade. A história se mantém bastante fiel ao que já conhecíamos do podcast Praia dos Ossos, trazendo a maioria dos detalhes essenciais com pouquíssimas diferenças. Isso é fundamental para quem acompanhou a apuração jornalística de alta qualidade feita no áudio. Mas o que realmente salta aos olhos é a produção visual.
O trabalho de direção de Andrucha Waddington e codireção de Rebeca Diniz garantiram uma recriação de época impecável. As roupas, os carros, a ambientação: tudo nos transporta diretamente para a década de 70.
A trilha sonora, que o próprio Waddington define como um “personagem na série”, é o toque final que sela essa imersão. Assistir a esses 40 minutos (em média, a duração de um episódio) é como abrir uma janela para o passado, um passado que, apesar do glamour das festas, esconde uma podridão moral.

Atuação que rouba a cena
Não dá para falar dessa série sem destacar o trabalho monumental de Marjorie Estiano. A atuação dela como Ângela é simplesmente perfeita. Ela não apenas interpretou, mas parece ter entendido e incorporado a essência de Ângela Diniz de forma tão natural que quase some o limite entre a atriz e a personagem. Essa organicidade é crucial, pois a série precisa que nos encantemos por Ângela — pela sua liberdade, sua força e sua humanidade complexa — para que o impacto da tragédia seja ainda mais forte.
Enquanto Marjorie rouba a cena, o resto do elenco não fica para trás. Emilio Dantas tem a difícil missão de viver Doca Street, e o elenco de apoio conta com nomes de peso como Antonio Fagundes (no papel do advogado Evandro Lins e Silva), Thiago Lacerda (como Ibrahim Sued) e Camila Márdila (Lulu Prado). A qualidade do elenco é um atestado de que a HBO levou a sério a responsabilidade de contar essa história.
O machismo como personagem principal
Aqui chegamos ao ponto central e mais desconfortável da série. A produção não se limita a dramatizar um crime; ela é uma acusação direta à cultura machista que permitiu que esse crime ocorresse e, pior, que tentou justificar o assassinato da vítima. A forma como o machismo era “algo comum naquela época”, e como isso contaminou o julgamento, é retratada de maneira nauseante.
Nós já sabíamos da revolta ao ouvir o podcast, mas ver as cenas, acompanhar a perseguição e a tragédia em imagens é visceral. A série cumpre o papel de ser um soco no estômago, nos deixando revoltados com a história. E essa revolta é o motor da discussão que a produção tanto busca. A pauta de Ângela Diniz é urgentemente atual, provando que a batalha contra o feminicídio e a cultura de desculpa para a violência ainda está longe de acabar.
Conclusão
Ângela Diniz: Assassinada e Condenada é uma série imperdível. Ela acerta na mosca ao unir uma produção técnica de primeira (com destaque para a recriação dos anos 70 e a trilha sonora-personagem) com atuações brilhantes, encabeçadas por uma Marjorie Estiano em estado de graça.
A série é viciante — com episódios curtos que convidam à maratona — e, acima de tudo, necessária. Ao nos fazer sentir o encanto por Ângela e, em seguida, a náusea e a revolta com sua punição, a HBO nos força a olhar para as nossas próprias feridas sociais. É um trabalho de ficção que tem o peso e a urgência de um documentário, e que merece ser assistido, discutido e usado como ferramenta para que a história de Ângela Diniz nunca mais seja esquecida ou distorcida.
Onde assistir à série Ângela Diniz: Assassinada e Condenada?
- HBO e HBO Max
Trailer de Ângela Diniz: Assassinada e Condenada (2025)
Elenco de Ângela Diniz: Assassinada e Condenada, da HBO
- Marjorie Estiano
- Emilio Dantas
- Antonio Fagundes
- Thiago Lacerda
- Camila Márdila
- Yara de Novaes
- Thelmo Fernandes
- Renata Gaspar
- Tóia Ferraz
- Carolina Ferman
- Joaquim Lopes
- Emílio de Mello
- Marina Provenzzano
















