
Foto: Netflix / Flixlândia
Poucas produções conseguem transformar um cenário gélido em algo tão acolhedor quanto “Ao Norte do Norte”, nova série canadense da Netflix. Ambientada no remoto território ártico de Nunavut, a comédia dramática se destaca por sua honestidade emocional, senso de humor sutil e um olhar profundamente humano sobre recomeços, identidade e pertencimento.
Com uma protagonista cativante e um elenco comprometido, a série chega como uma lufada de ar fresco em meio às distopias que dominam o streaming.
Sinopse da série Ao Norte do Norte (2025)
A trama gira em torno de Siaja (Anna Lambe), uma jovem mãe inuíte de 26 anos que decide romper com o papel tradicional que lhe foi imposto — o de esposa devotada ao popular e narcisista Ting — para tentar redescobrir quem realmente é.
Após um divórcio público e embaraçoso, ela se muda para a casa da mãe, busca um novo emprego e tenta reerguer sua autoestima numa comunidade onde todos se conhecem… e todos têm algo a comentar. Ao longo dos oito episódios, acompanhamos sua trajetória pessoal, profissional e afetiva, entre dilemas familiares, desafios sociais e toques de realismo mágico.
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Crítica de Ao Norte do Norte, da Netflix
Diferente de outras séries que exploram comunidades indígenas de forma estereotipada ou exótica, “Ao Norte do Norte” nasce da vivência: criada por Stacey Aglok MacDonald e Alethea Arnaquq-Baril, ambas inuítes e moradoras da região, a série entrega um olhar de dentro para fora, sem concessões ao olhar colonial. Elementos como a moda, a linguagem, os costumes e até o humor peculiar das comunidades do Ártico são tratados com afeto e autenticidade.
Anna Lambe, conhecida por seu trabalho em True Detective: Terra Noturna, é um achado no papel de Siaja. Sua atuação é sensível, engraçada e honesta — do tipo que carrega a série nas costas sem jamais parecer forçada. Siaja é uma mulher cheia de falhas, medos e contradições, mas também de coragem e ternura. Sua relação com a mãe, Neevee (Maika Harper), mistura conflito, sarcasmo e amor profundo, compondo um dos núcleos mais ricos da narrativa.
Humor que vem do cotidiano, não da caricatura
O humor da série não está nos grandes momentos cômicos, mas nos pequenos gestos, nas situações absurdas que parecem verossímeis justamente porque são cotidianas.
O episódio em que a cidade organiza um jogo de beisebol usando um osso de morsa como taco é um bom exemplo: bizarro e hilário, mas também carregado de contexto cultural. A comédia aqui é usada como ponte para discutir temas sérios, como o impacto dos internatos em famílias indígenas ou os dilemas de pertencimento entre gerações.
Representatividade que vai além do elenco
Mais do que colocar pessoas indígenas em frente às câmeras, a série promove uma verdadeira mudança de paradigma ao contar com uma equipe criativa formada majoritariamente por mulheres BIPOC.
Isso se reflete no cuidado com cada detalhe: dos figurinos feitos por artesãos locais às músicas compostas em inuktitut, passando por participações especiais como a da artista Tanya Tagaq, que interpreta a deusa do mar em momentos de realismo mágico que pontuam a jornada de Siaja.
Romance, sim — mas com pé no chão
Os interesses amorosos de Siaja funcionam como fio condutor de subtramas leves e divertidas, mas a série nunca perde o foco no crescimento pessoal da protagonista. Entre encontros desastrosos e paixões mal resolvidas (com destaque para o adorável Kuuk, vivido por Braeden Clarke), “Ao Norte do Norte” brinca com clichês de comédia romântica sem cair no lugar-comum. Cada novo relacionamento é mais um espelho do que ela quer — ou não quer — ser.
Ice Cove não é apenas o pano de fundo da história: é um personagem vivo, cheio de contradições e memórias. Seus moradores, do grupo de senhoras fofoqueiras ao zelador introspectivo, têm suas próprias vozes e arcos, mesmo que breves. A série acerta em cheio ao construir um senso de comunidade palpável, onde cada gesto, palavra ou silêncio carrega peso e história.
Conclusão
A série “Ao Norte do Norte” é uma joia rara no catálogo da Netflix: uma comédia leve, mas com substância; divertida, mas carregada de significado; e, acima de tudo, autêntica. Em vez de tentar agradar audiências genéricas, a série aposta na força de sua identidade — e acerta em cheio.
Com apenas oito episódios, entrega um retrato íntimo de uma mulher em reconstrução, de uma cultura frequentemente ignorada e de uma comunidade que pulsa vida mesmo sob o gelo. Que venha a segunda temporada — o norte, afinal, ainda tem muitas histórias para contar.
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Onde assistir à série Ao Norte do Norte?
A série está disponível para assistir na Netflix.
Trailer de Ao Norte do Norte (2025)
Elenco de Ao Norte do Norte, da Netflix
- Anna Lambe
- Maika Harper
- Braeden Clarke
- Jay Ryan
- Mary Lynn Rajskub
- Zorga Qaunaq
- Bailey Poching
- Kelly William
Ficha técnica da série Ao Norte do Norte
- Título original: North of North
- Criação: Stacey Aglok MacDonald, Alethea Arnaquq-Baril
- Gênero: comédia
- País: Canadá
- Temporada: 1
- Episódios: 8
- Classificação: 14 anos