“Aprendendo a Amar” (Ai no, Gakko) já chegou ao catálogo da Netflix e, pelos seus dois primeiros episódios, promete ser um dorama que vai além do romance clichê, mergulhando nas complexidades das relações humanas e dos desafios sociais.
A série de 10 episódios aborda o improvável elo entre uma professora desiludida e um homem que luta contra o analfabetismo, misturando romance e drama de uma forma madura e tocante.
Sinopse
Manami Ogawa (Fumino Kimura) é uma professora do ensino médio que vive sob o peso das expectativas de pais rígidos e tradicionalistas. Sua rotina é sem brilho, dividida entre um noivado que a deixa insegura e um ambiente escolar cada vez mais exaustivo, onde alunos desinteressados e pais problemáticos a desgastam.
O ponto de virada surge quando Manami descobre que um de seus alunos foi enganado por um anfitrião. Decidida a intervir, ela visita o bar onde ele trabalha e conhece Kawol (Raul). O que começa como uma conversa rápida, na qual ela se sente desconfortável, logo se aprofunda quando ela, relutantemente, aceita dar aulas particulares ao rapaz, que nunca teve a oportunidade de estudar.
Esse acordo, a princípio desajeitado, é o catalisador para uma relação que promete ser tão verdadeira quanto polêmica, atraindo julgamentos e olhares curiosos que colocarão à prova o vínculo dos dois. Os dois primeiros episódios estabelecem as bases dessa dinâmica, revelando as inseguranças de Manami e a surpreendente vulnerabilidade de Kawol, enquanto a tensão entre seus mundos opostos começa a se manifestar.
➡️ Siga o Flixlândia no WhatsApp e fique por dentro das novidades de filmes, séries e streamings
Crítica
“Aprendendo a Amar” não é um dorama que busca o romance açucarado imediato. Ao invés disso, os primeiros episódios te convidam a uma dança lenta e cuidadosa, onde cada olhar e palavra têm peso. A série tem a audácia de começar com uma dinâmica inicialmente incômoda, mas que evolui para algo fascinante.
A delicadeza da conexão improvável
A química entre Manami e Kawol é construída com uma delicadeza notável. Manami, a professora precisa e regrada, se aproxima do mundo espontâneo e noturno de Kawol com uma cautela palpável. Ele, por sua vez, responde com uma curiosidade genuína.
Essa interação nunca parece forçada ou caricatural. É o clássico “opostos que se atraem”, mas tratado com uma maturidade que foge do óbvio. Os diálogos são inteligentes, sem serem excessivamente poéticos, e a tensão e o humor emergem naturalmente das suas diferenças. Não há grandes declarações de amor, mas sim um aprendizado silencioso sobre palavras, sobre si mesmos e sobre o valor individual.
Personagens multifacetados e um mundo realista
Um dos grandes trunfos da série é a construção dos personagens. Aiko (ou Manami, dependendo da tradução) possui um monólogo interno bem explorado, revelando suas dúvidas, sua determinação e sua compaixão. A backstory de Ren (Kawol), que mostra como a pressão acadêmica de seus pais o fez desistir, adiciona uma profundidade emocional sem cair no sentimentalismo barato.
Os personagens secundários também são bem desenvolvidos e parecem reais: os colegas de bar de Kawol, os amigos, os colegas de trabalho de Manami. Suas interações, como as provocações do melhor amigo de Kawol ou o questionamento dos colegas de Manami, enriquecem a narrativa, navegando a colisão cultural sem cinismo, apenas com um desconforto realista e considerações morais.
➡️ ‘Um Casamento Feliz’ é uma sinfonia de silêncios e suspeitas
➡️ Netflix acerta no clima, mas erra o alvo com ‘Os Assassinatos da Mandala’
➡️ ‘Gatilho’ é um dos thrillers mais fortes e relevantes lançados pela Netflix nos últimos tempos

Estilo visual e temático sutil
Visualmente, a série é discreta, mas eficaz. As cenas noturnas no bar iluminado por néon contrastam com a calma e a luz do dia das sessões de tutoria. A cinematografia respeita ambos os mundos, com uma tonalidade quente durante as aulas e uma atmosfera mais fria e melancólica durante as cenas de performance de Kawol.
A música se encaixa perfeitamente, com piano e violão suaves durante os estudos e batidas gentis quando Kawol está se apresentando. A transição entre essas ambiências reflete a vida interna dos personagens sem dramatização exagerada. A série aborda o tema do analfabetismo com seriedade, utilizando-o como uma metáfora para as barreiras que impedem a conexão e o crescimento, tanto para Kawol quanto para Manami.
Pontos de atenção e expectativas futuras
Apesar de todas as qualidades, a série apresenta alguns pontos que podem ser aprimorados. O ritmo em alguns momentos do primeiro episódio pode parecer um pouco lento, com uma exposição inicial um tanto arrastada.
As apostas ainda não são altíssimas, o que mantém a leveza, mas pode levar a uma sensação de estagnação se os conflitos não evoluírem. Há uma ligeira preocupação de que a metáfora da alfabetização se torne excessivamente dominante, correndo o risco de soar repetitiva se não for diversificada em episódios futuros.
Além disso, o monólogo interno de Manami, por vezes, beira o clichê, com frases como “ensinar me mudou” ou “nunca esperei aprender com um aluno”, o que quebra um pouco a autenticidade. O personagem de Kawol, em alguns momentos, se encaixa um pouco demais no arquétipo do “gênio criativo bruto”, e seria interessante ver mais nuances em sua história, explorando o que o levou a abandonar os estudos e a esconder sua dificuldade, além de um ressentimento superficial.
A dinâmica entre eles, até agora, gira muito em torno das aulas de leitura, e seria bom ver as responsabilidades de Kawol em sua vida noturna interferindo mais nas aulas ou Manami enfrentando consequências reais em seu trabalho por se dedicar a essa tutoria. A promessa está lá, mas ainda está se desdobrando.
➡️ Quer saber mais sobre filmes, séries e streamings? Então acompanhe o trabalho do Flixlândia nas redes sociais pelo Instagram, X, TikTok e YouTube, e não perca nenhuma informação sobre o melhor do mundo do audiovisual.
Conclusão
“Aprendendo a Amar” é, nos seus dois primeiros episódios, uma aposta promissora da Netflix. Com seu charme, inteligência emocional e um ritmo autêntico, a série apresenta dois personagens com química e credibilidade inegáveis. Embora alguns diálogos iniciais beirem a metáfora arrumada e o tema da alfabetização seja proeminente a ponto de ser repetitivo, a série tem o potencial de se tornar algo discretamente especial.
Se a série expandir seus arcos para além das sessões de tutoria, introduzir complicações mais ricas e aprofundar as apostas emocionais, “Aprendendo a Amar” pode se consolidar como um romance em pequena escala, com grande profundidade.
Por enquanto, os dois primeiros episódios oferecem conforto, algumas risadas, momentos de ternura e um empurrão gentil em direção à empatia. É uma série que não grita, mas faz você sentir. Esse equilíbrio entre calor e seriedade, leveza e intenção silenciosa, é a essência de seu apelo.
Elenco do dorama Aprendendo a Amar, da Netflix
- Fumino Kimura
- Raul
- Minami Tanaka
- Ayumu Nakajima
- Ryotaro Sakaguchi
- Ryosuke Mikata
- Keishi Arai
- Ryo
- Yoshi Sakou
- Mariko Tsutsui