A Netflix acerta em cheio ao trazer para seu catálogo a série japonesa “Até o Último Samurai” (Last Samurai Standing), uma produção ambiciosa que busca unir o drama histórico de época com a adrenalina pura dos battle royales.
Baseada no aclamado romance “Ikusagami”, de Shogo Imamura, a série emerge no cenário pós-sucesso global de “Round 6” e “Xógum”, e é inegável que ela bebe um pouco dessas duas fontes para criar sua própria identidade. Não se trata de uma cópia, mas sim de uma reinvenção: um jogo de vida ou morte ambientado no Japão do final do século XIX, onde a única coisa mais perigosa que uma lâmina afiada é a desesperança.
Com um elenco de estrelas e a liderança criativa do ator-coreógrafo Junichi Okada, a série tem força e sangue suficientes para prender o espectador, mesmo que nem todos os seus elementos atinjam a mesma profundidade.
Sinopse
A trama se desenrola na Era Meiji (fim do século 19), um período de transição violenta no Japão, onde a venerável classe samurai foi destituída de seu status e privilégios. Nosso protagonista é Shujiro Saga (Junichi Okada), um lendário espadachim que agora vive na pobreza, traumatizado pela guerra e lutando para manter sua família viva em meio a uma epidemia de cólera.
Sem opções para salvar sua esposa e filha, Shujiro responde a um misterioso chamado: o “Kodoku”, um torneio de artes marciais com um prêmio em dinheiro inimaginável. Em Quioto, 292 guerreiros habilidosos – ex-samurais, ninjas, arqueiros Ainu e até nobres – se reúnem para o jogo sádico orquestrado por uma elite de oligarcas (os fat cats que assistem e apostam). As regras são brutais: os participantes devem roubar “etiquetas” de madeira uns dos outros e passar por checkpoints em uma jornada mortal até Tóquio.
O objetivo de Shujiro é singular: salvar sua família. No caminho, ele precisa formar alianças instáveis com figuras como a inexperiente Futaba Katsuki (Yumia Fujisaki) e a habilidosa Iroha Kinugasa (Kaya Kiyohara), enquanto enfrenta rivais implacáveis, como o ex-ninja Kyojin Tsuge (Masahiro Higashide) e o selvagem Bukotsu Kanjiya (Hideaki Ito). A série é, acima de tudo, uma jornada de sobrevivência em que cada passo revela as motivações desesperadas e as histórias entrelaçadas desses guerreiros marginais.
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Resenha crítica de Até o Último Samurai
É impossível escapar da comparação. “Até o Último Samurai” é, narrativamente, o que acontece quando você mistura o conceito de jogo de morte com comentário social de “Round 6” e a ambientação histórica e as batalhas de espada de “Xógum”. O roteiro joga com essa semelhança ao apresentar um grupo de pessoas desesperadas, empurradas pela crise econômica e social para um jogo sádico monitorado pela elite.
Contudo, a série rapidamente estabelece sua própria regra: ela se preocupa menos com a variedade dos “níveis” do jogo e mais com o mistério da sua concepção e a brutalidade da jornada. Ao invés de minigames infantis, temos um battle royale em um espaço aberto, que se move de cidade em cidade, adicionando uma camada de espionagem e intriga política que faltava ao drama sul-coreano. A contextualização na Era Meiji, dez anos após a Rebelião Satsuma que despojou os samurais, dá um peso histórico real à marginalização dos participantes.

Ação visceral e autêntica
Se há um elemento que faz a série valer o play, é a sua ação. Junichi Okada, além de protagonista, atua como coreógrafo de ação e produtor, e seu trabalho é de mestre. Faixa preta em jiu-jitsu, Okada priorizou a autenticidade e o realismo. O resultado são sequências de luta que são, em grande parte, filmadas em longos planos-sequência com o mínimo de cortes e pouquíssimos efeitos digitais óbvios.
Os duelos são viscerais e caóticos, mas mantêm uma fluidez impressionante. O sangue jorra, as cabeças rolam, e você sente o peso do choque do metal. Destaques como a luta em meio a fogos de artifício no episódio 6 ou o embate caótico no templo de Quioto, que abre a série, elevam o sarrafo do gênero.
A série não está apenas mostrando espadachins; ela está mostrando coreografias detalhadas, onde cada personagem tem seu próprio estilo de luta e arma, demonstrando um respeito notável pelo chambara (subgênero de filme de espada japonês).
Profundidade inconstante
No quesito desenvolvimento de personagem, a série é “serviçal”, mas não excelente. O protagonista Shujiro Saga é o arquétipo do herói estoico e atormentado, cuja determinação é fácil de torcer, embora sua alternância entre “miserável” e “determinado” o torne um pouco repetitivo. O roteiro peca por não nos mostrar mais do seu passado familiar feliz, para que o sacrifício dele na competição ressoasse com mais peso.
Em contrapartida, os personagens mais dinâmicos são os que estão em desvantagem, especialmente as mulheres. Futaba e Iroha são forçadas a provar seu valor, tornando-se as presenças mais instigantes. Futaba é a mais vulnerável e, por isso, a âncora emocional de Shujiro. Já o Kyojin Tsuge de Masahiro Higashide é um standout, trazendo um charme brincalhão e enigmático que se destaca em um elenco majoritariamente sério.
Apesar de tocar em temas de desigualdade social (pobreza e falta de acesso a cuidados médicos), o peso temático não é tão intenso quanto em outras obras. O foco na “extinção do samurai” é historicamente específico, o que o torna menos universal do que a crítica ao capitalismo de “Round 6”. O diretor Michihito Fujii descreve a série como um drama emocional sobre escolhas e honra, e é nesse foco no sacrifício pessoal que ela se sai melhor.
Conclusão
“Até o Último Samurai” é uma série que sabe onde estão suas maiores forças. Ela pode não ter o peso temático ou a profundidade de escrita de um drama com a escala épica de “Xógum”, e a estrutura de “jogo de morte” pode não ser totalmente original, mas ela entrega com maestria o que promete: ação samurai visceral, bem coreografada e ininterrupta.
A série é uma montanha-russa extremamente emocionante que usa seu cenário histórico mais como pano de fundo do que como foco principal. Ela termina com um cliffhanger que não oferece resolução, deixando um apetite enorme por uma segunda temporada.
Se a Netflix mantiver o alto padrão de coreografia e investir mais na complexidade e aprofundamento de seus personagens coadjuvantes na próxima leva de episódios, “Até o Último Samurai” tem tudo para se tornar uma referência no gênero de ação histórico. É uma experiência imperdível para quem busca uma dose cavalar de adrenalina com honra e espadas.
Onde assistir à série Até o Último Samurai?
Trailer de Até o Último Samurai (2025)
Elenco de Até o Último Samurai, da Netflix
- Junichi Okada
- Yumia Fujisaki
- Kaya Kiyohara
- Masahiro Higashide
- Shota Sometani
- Taichi Saotome
- Yuya Endo
- Taiiku Okazaki
- Kairi Jo
- Yasushi Fuchikami


















