Poucas séries originais da Netflix parecem tão interessadas em incomodar quanto “Bad Thoughts“, criação e estrelato do comediante Tom Segura.
Mais conhecido por seu humor ácido e pela popularidade alcançada no circuito de podcasts, Segura leva ao extremo sua persona sarcástica em uma antologia de esquetes que flerta com o absurdo, o grotesco e a indecência – tudo isso envolto por uma estética cinematográfica surpreendentemente apurada.
Com apenas seis episódios e pouco menos de duas horas no total, “Bad Thoughts” é uma provocação direta ao bom gosto, um exercício de estômago para quem ainda acredita que o humor precisa ofender para sobreviver. Mas, afinal, ofender quem? E até onde vale a pena rir?
Sinopse da série Bad Thoughts (2025)
“Bad Thoughts” é uma série de esquetes cômicas idealizada por Tom Segura, que atua em múltiplos papéis e também assina a produção, direção e criação. Cada episódio aborda um tema aparentemente universal – como trabalho, saúde, sucesso ou família – mas rapidamente se desvia para territórios desconfortáveis, absurdos e frequentemente sexuais.
As situações beiram o surreal: um culto liderado por um astro country, um suplemento de academia que faz o pênis dos frequentadores crescer infinitamente, um pedido de “Make a Wish” sexual e até um esquete em que uma peça infantil adapta, sem filtro, histórias da Guerra do Vietnã.
Visualmente ousada, “Bad Thoughts” transita entre paródias de trailers da A24, filmes europeus exageradamente sexuais, thrillers apocalípticos e dramas familiares distorcidos. E no centro de tudo está Segura, encarnando desde um matador que se borra até um italiano caricatural seduzindo idosos. Tudo com o objetivo de testar os limites – não apenas do espectador, mas da própria comédia.
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Crítica de Bad Thoughts, da Netflix
A primeira surpresa de “Bad Thoughts” é sua produção requintada. Ao contrário de outras séries de esquetes que apostam em simplicidade visual, aqui cada sketch é quase um curta-metragem: há cenários elaborados, efeitos especiais competentes e um cuidado formal que contrasta violentamente com o conteúdo escatológico.
Essa ambiguidade entre o visual apurado e o humor de banheiro é, em si, um comentário – talvez involuntário – sobre o estado atual da comédia norte-americana: você pode embrulhar uma piada de peido como se fosse um episódio de Black Mirror e isso será vendido como arte.
Quando o limite é o ponto de partida
Tom Segura não quer só ultrapassar limites: ele quer dançá-los. Em vários momentos, o humor passa da provocação inteligente à pura exaustão. Há esquetes que não terminam quando deveriam, mas insistem em prolongar a ideia até o desconforto superar o riso.
Isso acontece, por exemplo, no arco do “gêmeo francês”, que começa bizarro e termina quase insuportável. Ainda assim, essa insistência – muitas vezes frustrante – faz parte da proposta: rir, aqui, é um reflexo condicionado da tensão acumulada. Rir para não vomitar.
Segura em múltiplas versões (de si mesmo)
Como performer, Segura se entrega sem reservas. Ele interpreta figuras desprezíveis, repulsivas ou simplesmente patéticas – e faz isso com um senso de timing invejável. Seu papel como Rex Henley, o cantor country transformado em líder de seita, é possivelmente o ponto alto da temporada.
Ali, entre o exagero e uma crítica disfarçada ao culto de celebridade, ele atinge um tom que lembra os melhores momentos de South Park ou Key & Peele: sátira, desconforto e uma pitada de verdade.
Nem toda ofensa é bem-vinda
Embora se venda como “comédia proibida”, “Bad Thoughts” está longe de ser revolucionária em sua transgressão. Algumas piadas parecem provocativas só pela vontade de chocar, sem construção ou payoff. Há um flerte constante com o discurso “anti-cancelamento”, mas felizmente sem escorregar para o vitimismo reacionário.
O problema é que, ao tentar provar que ainda é possível fazer piadas “inaceitáveis”, Segura acaba reciclando muitas ideias que já vimos em lugares como Family Guy, South Park e até em programas de open mic mais desesperados.
Conclusão
“Bad Thoughts” é um experimento ousado e polarizador que abraça o desconforto como motor cômico. Funciona melhor quando há intenção crítica por trás do absurdo – como no caso de Rex Henley ou na sátira à cultura corporativa em “Jobs” – e menos quando se apoia exclusivamente no choque.
Para fãs de Tom Segura, é uma extensão natural de seu humor ácido e sem censura. Para quem procura risadas mais refinadas ou roteiros consistentes, o resultado pode ser mais indigesto do que divertido.
Ainda assim, é inegável que “Bad Thoughts” tem identidade – e isso, num mar de comédias pasteurizadas, já é um mérito. Caso a Netflix renove a série, uma segunda temporada que afine o ritmo e reduza a insistência no grotesco poderia transformar esse delírio escatológico em uma joia do humor extremo.
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Onde assistir à série Bad Thoughts?
A série está disponível para assistir na Netflix.
Trailer de Bad Thoughts (2025)
Elenco de Bad Thoughts, da Netflix
- Tom Segura
- Robert Iler
- Daniella Pineda
- Arturo Castro
- Bobby Lee
- Nic Novicki
- Johnny Pemberton
- Rachel Bloom
- Kirk Fox
- Christina Pazsitzky
Ficha técnica da série Bad Thoughts
- Título original: Bad Thoughts
- Gênero: comédia
- País: Estados Unidos
- Temporada: 1
- Episódios: 6
- Classificação: 18 anos