Lançado recentemente pela Netflix, “Baila, Vini” promete contar a trajetória de Vinicius Júnior — do menino de São Gonçalo ao astro global do Real Madrid.
Dirigido por Andrucha Waddington e Emílio Domingos, o documentário percorre sete países, mais de 100 diárias de gravação e entrevistas com 58 nomes, entre eles Carlo Ancelotti, Neymar, Ronaldo e companheiros de clube. Mas todo esse esforço técnico se sustenta quando o assunto é profundidade narrativa? Nem tanto.
Sinopse do filme Baila, Vini (2025)
“Baila, Vini” acompanha a vida de Vinicius Júnior, com foco em sua ascensão meteórica, da infância no subúrbio carioca ao estrelato no futebol europeu. O documentário mistura bastidores familiares, trechos de jogos e momentos pessoais, passando por temas centrais como racismo, identidade, resistência social, mas também exaltando o carisma e a resiliência do jogador.
Ao mesmo tempo, o longa destaca sua relação com o Flamengo, sua adaptação difícil no Real Madrid, os ataques racistas sofridos na Espanha e o reconhecimento internacional, coroado com o prêmio “The Best” de 2024.
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Crítica de Baila, Vini, da Netflix
“Baila, Vini” é, antes de tudo, um produto de imagem. Ainda que conte com bons registros, cenas emotivas e uma edição tecnicamente competente, o documentário sofre por ser, na essência, um publirreportagem disfarçado. A produção opta por um tom celebratório desde os minutos iniciais, não arriscando qualquer aprofundamento mais crítico ou reflexivo.
O filme evita confrontar verdades incômodas: os momentos em que Vini foi criticado por sua postura em campo, sua relação conturbada com parte da imprensa espanhola ou mesmo os embates com torcedores. Tudo é suavizado em nome de uma narrativa positiva — e, por isso, pouco honesta.
Racismo como pauta legítima, mas explorada de forma desequilibrada
Um dos pontos mais potentes do filme é a abordagem do racismo no futebol europeu, especialmente em episódios envolvendo torcedores do Valencia. Ao apresentar falas de Neymar, Ancelotti e do próprio Vini, o documentário reforça a importância da luta antirracista.
Contudo, o tom, por vezes, descamba para a vitimização excessiva, sem a devida contextualização dos episódios, o que fragiliza a mensagem ao dar margem a críticas sobre manipulação narrativa.
A tentativa de transformar Vini em um símbolo absoluto da resistência é válida, mas perde força por ignorar nuances importantes — como o fato de outros atletas negros passarem por experiências distintas no mesmo ambiente, com posturas públicas bem diferentes.
Um protagonista entre a humildade e a autopromoção
Vini Jr é, ao mesmo tempo, um personagem carismático e polarizador. Sua personalidade elétrica, os gestos provocativos, as danças e sua postura combativa são elementos que o definem — e que são parcialmente abordados no documentário.
Há momentos tocantes, como quando ele chora ao falar da infância difícil ou da eliminação na Copa, mas também há espaço para frases de efeito que soam artificiais: “Não me pagam para ser bonzinho. Me pagam para fazer gols”.
Essas falas soam mais como slogan do que introspecção real. E o filme se contenta com isso, sem questionar ou aprofundar o que há por trás dessas camadas de autoimagem.
Quando o filme chega antes da hora
O maior pecado de “Baila, Vini” talvez seja a pressa. Com apenas 24 anos, Vinicius Júnior ainda está em plena construção de sua carreira. Narrativas definitivas como essa, neste ponto da trajetória, correm o risco de se tornarem datadas e incompletas.
Ao invés de esperar um momento de maturação — esportiva e pessoal — para revisitar a história de Vini com mais distanciamento, a produção opta pelo calor do momento. O resultado é um retrato superficial, que exalta conquistas recentes, mas ignora a complexidade de um personagem ainda em formação.
Conclusão
“Baila, Vini” é um documentário tecnicamente bem feito, com bons depoimentos e momentos comoventes. Mas peca ao não assumir riscos. Ao tentar controlar a narrativa de forma tão evidente, acaba entregando um produto que se parece mais com uma peça de marketing do que com um verdadeiro mergulho documental.
Para os fãs de Vinicius Júnior, será uma experiência calorosa. Para os espectadores que esperavam uma reflexão mais densa sobre esporte, identidade e mídia, restará a sensação de um filme que dançou no raso. Quem sabe daqui a 30 anos, com uma carreira consolidada e histórias ainda por vir, possamos ver um documentário que faça jus ao talento e à complexidade de Vini Jr.
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Onde assistir ao filme Baila, Vini
O filme está disponível para assistir na Netflix.
Trailer de Baila, Vini (2025)
Elenco de Baila, Vini, da Netflix
- Vini Jr
Ficha técnica do filme Baila, Vini
- Direção: Emílio Domingos, Andrucha Waddington
- Roteiro: Emílio Domingos, Sérgio Mekler
- Gênero: documentário
- País: Brasil
- Duração: 106 minutos
- Classificação: 14 anos