Leia a crítica da série Como um Relâmpago, da Netflix (2025) - Flixlândia

[CRÍTICA] A trágica comédia americana em ‘Como um Relâmpago’

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O que acontece quando a história é tão bizarra, patética e crucial que parece roteiro de ficção? É essa a premissa de Como um Relâmpago (Death By Lightning), a nova minissérie dramática da Netflix que promete resgatar James A. Garfield, o 20º presidente dos EUA, de seu status de “nota de rodapé” histórica.

Baseada no aclamado livro de não ficção Destino da República de Candice Millard, e com o selo de prestígio de David Benioff e D.B. Weiss (os criadores de Game of Thrones) na produção executiva, a série de quatro partes se anuncia não apenas como um drama de época, mas como um thriller psicológico e uma alegoria política perturbadora.

Com um elenco de peso liderado por Michael Shannon como o relutante e idealista Garfield e, crucialmente, Matthew Macfadyen (o nosso eterno Tom Wambsgans de Succession) como o assassino Charles J. Guiteau, a produção se propõe a desenterrar a história de um assassinato presidencial que foi muito mais que um ato de loucura: foi um coquetel cáustico de corrupção política, arrogância médica e o puro azar que alterou o curso da história americana.

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Sinopse

Como um Relâmpago traça as vidas paralelas de dois homens destinados a um encontro fatal em 1881. De um lado, temos James A. Garfield (Michael Shannon), um congressista e veterano da Guerra Civil, intelectual e progressista, que é empurrado à presidência quase contra a vontade, emergindo como o azarão idealista de uma convenção republicana tomada por intrigas e máquinas políticas corruptas — como a de Roscoe Conkling (Shea Whigham) e Chester A. Arthur (Nick Offerman), que se torna seu vice. Garfield, para o horror da elite política, está determinado a “limpar a fraude” no governo, lutando por uma reforma do serviço civil.

Do outro lado, e sendo o verdadeiro motor da série, está Charles Guiteau (Matthew Macfadyen), um “fanfarrão, mentiroso e caloteiro” com delírios de grandeza. Guiteau, rejeitado por tudo e todos (inclusive em uma comuna free love), se torna obsessivamente convencido de que seu apoio foi vital para a vitória de Garfield e que, por isso, merecia um cobiçado posto diplomático. A recusa do governo em reconhecer sua “genialidade” transforma sua admiração em uma resolução assassina.

A série constrói o clímax no atentado em uma estação de trem, mas o cerne da tragédia reside no que acontece depois: Garfield sobrevive à bala, mas agoniza por meses. Seu destino é selado não tanto pela arma de Guiteau, mas pela incompetência e arrogância médica da época. Os médicos, liderados pelo Dr. Willard Bliss (Željko Ivanek), sondam a ferida com dedos e instrumentos não esterilizados, introduzindo a infecção generalizada que realmente mata o presidente — um erro trágico em um momento em que as teorias de germes já estavam circulando.

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Crítica

A grande sacada de Como um Relâmpago é sua capacidade de transformar uma história de crime factual em algo que se equilibra entre o thriller político sombrio e a comédia de erros com tons de farsa. Ao focar não só na seriedade do presidente reformista, mas no “absurdo situacional” e na miséria patética de seu assassino, a série estabelece um tom que a afasta de um drama histórico convencional.

Se Michael Shannon entrega um Garfield digno, mas talvez um tanto sem o que mastigar em termos de drama interno, o show é roubado por Matthew Macfadyen como Charles Guiteau. O ator, que já domina a arte de interpretar “perdedores ambiciosos e pegajosos” em Succession, eleva o patamar aqui.

Guiteau não é um vilão imponente, é um um maluco deplorável, com barba pontuda e roupas desleixadas, que fede a desespero. Macfadyen prega o equilíbrio perfeito entre o cômico e o patético. Seu Guiteau é um “pré-incel” com delírios de grandeza que passa de humilhação em humilhação até tropeçar em um ato de violência que ele acredita que o fará “conhecido em todo o país”.

A atuação é tão magnética que a série corre o risco de desequilíbrio: quando Guiteau não está em cena, estamos apenas esperando por seu retorno e sua próxima derrota humilhante. Ele encarna o apodrecimento adjacente ao Sonho Americano de uma forma inesquecível.

Crítica da série Como um Relâmpago, da Netflix (2025) - Flixlândia
Foto: Netflix / Divulgação

A metáfora política e a tristeza da corrupção

A luta de Garfield contra a corrupção do sistema político pós-Reconstrução nos EUA de 1880 ressoa de forma assustadora com os dias de hoje, exatamente como o criador Mike Makowsky pretende. A série ilustra perfeitamente como a política era dominada pelo clientelismo, onde homens como o Vice-Presidente Chester A. Arthur (brilhantemente interpretado por um Nick Offerman que oscila entre o beberrão barulhento e o homem vulnerável e envergonhado) eram produtos e defensores dessa máquina.

A tragédia aqui não é só a morte de um homem, mas o colapso do que poderia ter sido: um presidente progressista que defendia os direitos civis e o fim do sistema de fraude. O assassinato de Garfield levou ao desmantelamento da Reconstrução, causando danos que, como o texto sugere, “ainda não foram totalmente reparados”. A série é um espelho de uma nação em um ciclo vicioso de ganância, polarização e luta pela integridade institucional.

O assassinato duplo: incompetência e o apodrecimento

O elemento mais chocante — e que a série faz bem em incorporar, vindo do livro de Millard — é o “assassinato duplo”. O atentado inicial é o gatilho, mas a morte em si é causada pela incompetência médica.

A imagem dos médicos sondando a ferida com instrumentos sujos e dedos para encontrar a bala que estava fácil de achar é um antagonista silencioso, mas aterrorizante: a arrogância da ciência que se recusa a aceitar o novo (a teoria dos germes). É uma ironia cruel e uma camada de tragédia evitável que aprimora o drama para além da simples biografia política.

Conclusão

Como um Relâmpago se consolida como uma minissérie de prestígio, impulsionada por um elenco formidável e uma produção de primeira linha (incluindo a trilha sonora épica de Ramin Djawadi, de GoT). É um trabalho que, apesar de talvez apressar um pouco os eventos cruciais da morte de Garfield e de não dar tanto tempo de tela a figuras históricas fascinantes como Frederick Douglass e Robert Todd Lincoln (o filho de Abraham Lincoln), acerta no essencial.

O foco no “esquecido” James A. Garfield e, paradoxalmente, no destaque que dá ao seu “loser” assassino através da performance magistral de Macfadyen, serve ao propósito de resgatar um capítulo histórico. A série é um lembrete contundente de que as batalhas por integridade, contra a corrupção e a loucura política, não são novidades.

Ao usar o passado para diagnosticar o presente, a produção cumpre o seu papel: é um drama envolvente, um estudo de personagem complexo e, mais importante, uma alegoria atemporal sobre a fragilidade da decência diante da loucura, da ambição e do caos. É imperdível para quem aprecia história, thriller psicológico e grandes atuações.

Onde assistir á série Como um Relâmpago?

A série está disponível na Netflix.

Trailer de Como um Relâmpago (2025)

YouTube player

Elenco de Como um Relâmpago, da Netflix

  • Michael Shannon
  • Matthew Macfadyen
  • Nick Offerman
  • Bradley Whitford
  • Betty Gilpin
  • Shea Whigham
Escrito por
Taynna Gripp

Formada em Letras e pós-graduada em Roteiro, tem na paixão pela escrita sua essência e trabalha isso falando sobre Literatura, Cinema e Esportes. Atual CEO do Flixlândia e redatora do site Ultraverso.

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