A história de Rute e Boaz, que recentemente inspirou uma releitura contemporânea na Netflix, é um dos relatos mais tocantes do Antigo Testamento. Embora o filme transporte a trama para um cenário moderno com uma artista de hip-hop e uma vinícola, a narrativa original é uma profunda história de lealdade, providência e redenção, ambientada no conturbado período dos juízes em Israel.
Quem foi Rute e qual a sua origem?
Rute era uma mulher moabita, um povo vizinho e frequentemente em conflito com Israel. Sua história começa quando uma família de Belém — Elimeleque, sua esposa Noemi e seus dois filhos — migra para Moabe para fugir da fome. Lá, os filhos se casam com mulheres locais, e Rute se torna esposa de Malom.
A tragédia, no entanto, se abate sobre a família. Em um período de dez anos, Noemi perde o marido e os dois filhos, ficando viúva ao lado de suas noras, Rute e Orfa. Sem esperança em uma terra estrangeira, Noemi decide retornar à sua terra natal, Belém de Judá.
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Uma jornada de lealdade e fé em tempos difíceis
No momento da partida, Noemi libera suas noras para que voltem às suas famílias de origem. Orfa se despede, mas Rute se recusa a abandonar a sogra, proferindo uma das declarações de lealdade mais famosas da Bíblia: “aonde quer que tu fores irei eu […] o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus”.
Essa decisão não era apenas um ato de compaixão; representava uma profunda conversão. Rute estava abandonando sua terra, sua cultura e seus deuses para adotar a fé e o povo de Noemi. As duas chegam a Belém como viúvas desamparadas, justamente no início da colheita da cevada.
O que era a prática de respigar nos campos?
Para garantir o sustento, Rute decide trabalhar nos campos, exercendo um direito garantido pela Lei de Moisés aos pobres, órfãos, viúvas e estrangeiros: a prática de respigar. Essa lei determinava que os donos de terras não colhessem totalmente suas plantações, deixando as espigas caídas para os necessitados.
Por uma aparente coincidência — que a narrativa apresenta como providência divina — Rute começa a respigar nas terras de Boaz, um fazendeiro rico, íntegro e parente do falecido marido de Noemi.
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Boaz: o parente-remidor que mudou a história
Boaz rapidamente nota a dedicação e o caráter de Rute. Ao saber de sua incrível lealdade a Noemi, ele a trata com bondade e generosidade, indo além do que a lei exigia. Boaz instrui seus trabalhadores a protegê-la e a deixar intencionalmente mais grãos para que ela pudesse colher.
É então que Noemi revela a Rute que Boaz é um “parente-remidor” (go’el, em hebraico), uma figura fundamental na sociedade israelita.

O que significava ser um “parente-remidor”?
O parente-remidor era um familiar próximo com a responsabilidade de proteger os direitos da família, o que incluía resgatar terras vendidas e, crucialmente, casar-se com uma viúva sem filhos para garantir a continuidade do nome e da herança do falecido. Essa prática era conhecida como casamento levirato.
Seguindo um plano de Noemi, Rute vai à eira durante a noite e, de forma simbólica, pede a Boaz que cumpra seu papel de redentor e se case com ela. Boaz, admirado pela virtude de Rute, concorda, mas explica que havia um parente ainda mais próximo que tinha a prioridade. No dia seguinte, esse parente recusa a responsabilidade, e Boaz, publicamente, assume o direito de se casar com Rute.
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Por que a história de Rute e Boaz é tão importante?
O casamento de Rute e Boaz restaura a esperança e a segurança da família. Eles têm um filho chamado Obede, que é celebrado como um restaurador para a amargurada Noemi. O clímax da história, no entanto, está na sua conclusão genealógica.
Obede se torna o pai de Jessé, que, por sua vez, é o pai de Davi, o maior rei de Israel. Assim, Rute, a estrangeira moabita que escolheu a fé e a lealdade em meio à tragédia, é inserida diretamente na linhagem real de Israel. Sua história é um poderoso testemunho da graça de Deus, que inclui e abençoa aqueles que o buscam, independentemente de sua origem. Além disso, Rute é uma das cinco mulheres mencionadas na genealogia de Jesus no Evangelho de Mateus, destacando a importância universal de sua jornada de fé e redenção.
Do antigo testamento à Netflix: uma história atemporal
Independentemente das adaptações, a história de Rute e Boaz permanece como um dos relatos mais poderosos sobre redenção, lealdade e a soberania de Deus. É uma narrativa que demonstra como atos de bondade e fé, mesmo em tempos de crise e instabilidade, podem se alinhar ao plano divino de maneiras inesperadas, transformando o vazio em plenitude.
A nova produção da Netflix, descrita como uma releitura contemporânea, transporta essa trama milenar para o século XXI. No filme, Rute é uma artista de hip-hop que se muda para o interior e passa a trabalhar em uma vinícola administrada por Boaz. Embora o cenário seja radicalmente diferente, a plataforma descreve a produção como uma história sobre redenção, fé, sacrifício e amor.
Essa abordagem moderna, no entanto, gerou reações divididas nas redes sociais. Muitos espectadores questionaram a fidelidade ao texto original, com comentários afirmando que, além dos nomes dos personagens, a adaptação tem pouca semelhança com o relato bíblico.
Ainda assim, a popularidade da nova produção reacende o interesse pela narrativa original. A história bíblica mostra como a fidelidade de uma estrangeira moabita foi recompensada, inserindo-a na linhagem do rei Davi e, por fim, na genealogia de Jesus Cristo. É um testemunho de que o plano redentor de Deus transcende fronteiras culturais e étnicas, acolhendo todos que Nele confiam.