Meu caro leitor, um pouquinho de história sobre São Paulo e o início do século XX, época em que se passa “Cyclone”, esta maravilhosa adaptação — três anos antes da famosa Semana de Arte Moderna. Como referência ao título acima, em 25 de julho de 1918 a temperatura na cidade caiu abaixo de zero, formando uma intensa geada que parecia neve (pelo menos aos olhos dos paulistanos, que nunca haviam visto uma de verdade). Essa “falsa neve” virou folclore e contribuiu para que o povo da capital se convencesse de que vivia um frio europeu em plena São Paulo.
Neste ótimo filme de Flavia Castro, com uma ambientação de época impecável, encontramos temas que, 107 anos
depois, ainda são discutidos: o direito da mulher à escolha de seu próprio destino e o machismo tanto no meio artístico quanto na sociedade em geral (O título, aliás, fará todo sentido ao espectador apenas ao final do filme).
Inspirado no diário coletivo O Perfeito Cozinheiro das Almas Deste Mundo, de Oswald de Andrade, o longa nos
apresenta um grupo de jovens pré-Modernismo e insere com elegância a figura de Miss Daisy — ou Cyclone, nome
artístico de Maria de Lourdes Castro Pontes — vivida com maestria por Luiza Mariani (Questão de Família, entre
outros), ao lado de Eduardo Moscovis, como Heitor Gamba.
Sinopse
Daisy trabalha em uma gráfica que publica revistas e, nas horas vagas, dedica-se à criação de roteiros teatrais.
É nesse meio que conhece o diretor Heitor Gamba, com quem vive um romance intenso. O sonho de Daisy é ser reconhecida e contratada como dramaturga, mas esbarra em um mundo dominado por homens, que desconsideram seu talento apenas por ser mulher.
Assim, vive à sombra de Heitor, que se aproveita de suas ideias e criatividade para montar suas peças. Quando é aceita em uma escola de dramaturgia em Paris, para um curso de três anos, Daisy vê a chance de mudar sua vida — mas o caminho será tortuoso.
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Resenha crítica do filme brasileiro Cyclone
Luiza Mariani é dona de um olhar profundo e expressivo, explorado de forma brilhante pela câmera. Sua atuação
transmite a força de uma mulher que vive em um tempo que exige submissão feminina, reservando às mulheres
apenas o papel doméstico. Eduardo Moscovis, por sua vez, demonstra toda sua maturidade cênica ao lado de Luiza, reafirmando o quanto o cinema brasileiro ganha quando aposta em interpretações densas e humanas.
Quando Daisy decide seguir seu próprio caminho rumo a Paris, os conflitos se intensificam. Naquele período, uma mulher precisava de autorização do pai ou do marido para viajar — algo que a revolta profundamente.

Determinada a não abrir mão de seu sonho, ela recorre a meios pouco convencionais para contornar essa imposição. Heitor, por sua vez, tenta impedir sua partida — não apenas por amor, mas também por interesse, já que dependia dos textos dela. O embate entre eles cresce até colocar a própria vida de Daisy em risco. E é nesse ponto que entendemos o apelido “Cyclone”: uma mulher decidida, que desafia ventos contrários e se recusa
a ser silenciada.
A trama ainda se ancora nas relações entre os jovens boêmios que frequentavam uma garçonière na Rua Líbero
Badaró, no centro de São Paulo — local em que Daisy conviveu com Oswald de Andrade por dois anos.
Conclusão
Alguns filmes você pode esperar chegar aos streamings. Este não é o caso. “Cyclone” merece ser visto no cinema, para que se possa apreciar de perto as interpretações marcantes de seus protagonistas.
Com um roteiro baseado em fatos reais, livremente adaptado por Flavia Castro, a obra aborda de forma atualíssima o papel da mulher na sociedade e as marcas do machismo que, infelizmente, ainda resistem — ecos de um tempo que parece distante, mas que muitas vezes ainda habita o presente.
A trilha sonora é um destaque à parte, misturando temas do início do século XX com músicas contemporâneas,
quebrando a rigidez do “filme de época” e dando ritmo moderno à narrativa. Vale também citar a obra “Neve na Manhã de São Paulo”, de José Roberto Walker, que inspirou parte desta história e deu origem ao título desta resenha.
Agora, onde exatamente a “Neve” e a “Ventania” se encontram no filme? Você vai precisar assistir para descobrir.
Miss Cyclone deixou sua marca — e foi finalmente resgatada pela História. Vale um balde de pipoca, um refrigerante grande e muito gelo!
Onde assistir ao filme brasileiro Cyclone?
O filme “Cyclone” estreia em 27 de novembro de 2025 exclusivamente nos cinemas brasileiros.
Trailer de Cyclone, com Luiza Mariani (2025)
Elenco do filme Cyclone, de Flavia Castro
- Luiza Mariani
- Eduardo Moscovis
- Karine Teles
- Luciana Paes
- Magali Biff
- Ricardo Teodoro
- Helena Albergaria
- Rogério Brito















