
Foto: Netflix / Divulgação
Poucas franquias sobreviveram a tantas idas e vindas como “Devil May Cry”. Reboots, retcons, ordem cronológica embaralhada e até um anime canônico renegado por muitos fãs. Quando a Netflix anunciou sua própria adaptação animada, sob o comando do showrunner Adi Shankar (Castlevania), os fãs ficaram entre o hype e o receio: seria esse o retorno triunfal de Dante ou mais uma tentativa desmiolada de capitalizar em cima do sucesso dos games?
O resultado? Uma série que abraça o absurdo, dança no caos e divide opiniões com um sorriso debochado no rosto.
Sinopse do anime Devil May Cry (2025)
Na nova animação da Netflix, seguimos Dante, o icônico caçador de demônios, enquanto ele encara uma nova ameaça: o misterioso vilão White Rabbit, que busca unir duas partes de um colar para abrir um portal para o inferno. O vice-presidente dos EUA, Baines, envolve-se em uma conspiração demoníaca enquanto Lady lidera uma unidade militar chamada DarkCom.
Entre confrontos explosivos, investigações sobrenaturais e piadas de gosto duvidoso, a série embarca em uma jornada que reimagina o universo da Capcom com uma pegada mais noventista e carregada de estilo.
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Crítica da série Devil May Cry, da Netflix
A primeira coisa que salta aos olhos é a identidade visual da série. A animação mistura o gótico estilizado dos games com uma estética que remete diretamente ao final dos anos 90 e início dos 2000. Do design dos personagens ao uso de trilhas sonoras com Limp Bizkit e Green Day, tudo grita nostalgia.
Não é sutil — e nem quer ser. A proposta é clara: capturar a energia exagerada de uma época em que “cool” era sinônimo de casaco de couro, óculos escuros e armas maiores que o próprio corpo.
Essa estética não se limita ao visual. Os diálogos, o humor e até mesmo as construções narrativas parecem saídas de um episódio perdido de Spawn ou de uma fita VHS do MTV’s Liquid Television. Isso pode soar cafona, e às vezes é. Mas também funciona como um abraço carinhoso àqueles que cresceram nessa era.
Dante, o eterno estiloso (mas com menos protagonismo do que deveria)
Johnny Yong Bosch entrega um Dante carismático, sarcástico e com um toque mais introspectivo. Ele continua o mesmo caçador confiante de sempre, mas agora mais humano, mais ferido. A dublagem brasileira de João Cappelli acerta no tom, conferindo à versão nacional uma pegada jovem e rebelde que encaixa com a proposta da série.
Porém, o protagonismo do personagem é aos poucos sequestrado. Lady, reformulada para liderar uma unidade militar, ganha um protagonismo exagerado e caricato. Seu linguajar agressivo, atitude “badass” forçada e decisões impulsivas fazem com que a personagem mais pareça saída de uma fanfic de fórum dos anos 2000 do que de um roteiro bem trabalhado.
Ela toma o lugar de Dante na narrativa por boa parte da temporada, o que soa como uma armadilha de bait and switch — promessa de foco em um personagem para depois redirecionar tudo para outro.
Liberdade criativa ou liberdade demais?
Adi Shankar deixa claro que não quer simplesmente adaptar os jogos. A série mistura elementos dos games, mangás e outras mídias derivadas, mas com bastante liberdade. O vilão Coelho Branco, por exemplo, vem de um mangá obscuro e aqui ganha um papel central, com motivações que o tornam um antagonista bem mais interessante que muitos vilões genéricos da franquia.
No entanto, essa liberdade criativa se perde quando tenta empurrar mensagens políticas de forma rasa. Ao transformar demônios em alegorias para refugiados perseguidos por militares fanáticos, a série pisa em um território que “Devil May Cry” nunca explorou — e talvez nem precisasse. Não que o universo da franquia não comporte crítica social, mas aqui tudo é tratado com pouca sutileza e muito dedo na cara.
Combates e animação: o verdadeiro inferno é não se empolgar
Se há algo que “Devil May Cry” da Netflix entrega com competência é a ação. As lutas são explosivas, estilizadas e repletas de exageros deliciosos. É a verdadeira alma da franquia traduzida em animação. A movimentação lembra diretamente os combos dos jogos, com direito a Dante girando no ar com Ebony & Ivory e cortando demônios como se fosse uma dança sangrenta.
O ponto alto técnico da série é, sem dúvida, o episódio dedicado ao Coelho Branco, animado por Studio La Cachette. A estética muda, o ritmo desacelera e somos presenteados com uma narrativa quase sem diálogos, rica em subtexto e emoção. É tão bom que faz o restante da temporada parecer aquém em comparação. Se essa for a direção futura da série, há esperança de uma segunda temporada mais coesa e impactante.
Humor duvidoso e personagens mal aproveitados
Nem tudo são flores (ou balas). O roteiro muitas vezes falha em dar profundidade aos personagens coadjuvantes. Figuras como Enzo e o próprio vice-presidente Baines, mesmo com vozes marcantes como a de Kevin Conroy (no original) e Márcio Dondi (em português), acabam desperdiçadas. Alguns vilões clássicos dos jogos surgem apenas como capangas descartáveis.
E o humor… bem, prepare-se para piadas sem timing e diálogos expositivos que parecem ter saído de um roteiro adolescente. A série se esforça para ser “descolada”, mas o esforço é tão evidente que perde naturalidade.
Conclusão
“Devil May Cry” da Netflix é uma experiência curiosa. Uma mistura de homenagem exagerada à cultura dos anos 2000 com uma reinterpretação ousada (e por vezes bagunçada) de um dos universos mais icônicos dos videogames. Ela falha em alguns aspectos fundamentais — principalmente na consistência do roteiro e no tratamento dado ao protagonista —, mas compensa com ação estilosa, paixão pelo material original e um episódio que justifica toda a temporada.
É uma série que, ironicamente, chora e ri ao mesmo tempo. E dependendo do seu nível de tolerância ao caos, pode ser exatamente o tipo de entretenimento que você estava procurando — ou mais um “jackpot” desperdiçado.
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Onde assistir ao anime Devil May Cry?
A série está disponível para assistir na Netflix.
Trailer de Devil May Cry (2025)
Elenco de Devil May Cry, da Netflix
- Johnny Yong Bosch
- Scout Taylor Compton
- Kevin Conroy
- Hoon Lee
Ficha técnica da série Amor e Batatas
- Título original: Devil May Cry
- Criação: Adi Shankar
- Gênero: animação, fantasia, ação, aventura
- País: Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul
- Temporada: 1
- Episódios: 8
- Classificação: 16 anos