Sinopse do filme Fé Para o Impossível (2025)
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Crítica de Fé Para o Impossível, da Netflix
Ao apostar nesse modelo, o filme abdica de nuances dramáticas mais complexas. Não há espaço para a dúvida ou para o questionamento mais profundo da fé: o roteiro apresenta uma visão pragmática e dogmática sobre espiritualidade, na qual o sofrimento é visto como oportunidade de fortalecimento da crença. Essa escolha pode emocionar quem compartilha da mesma visão religiosa, mas limita o alcance da obra a públicos mais diversos.
O sentimentalismo como motor narrativo
A condução de Ernani Nunes opta deliberadamente por um tom melodramático, evocando o sentimentalismo como principal ferramenta de engajamento do espectador. A construção das cenas — com trilha sonora emotiva, câmeras lentas e flashbacks constantes — reforça a tentativa de transformar cada pequeno avanço na recuperação de Renee em um momento catártico.
Embora esse modelo funcione dentro da proposta, ele sacrifica a complexidade dos personagens. A família Murdoch, inicialmente apresentada como idealizada — quatro filhos bem ajustados, pais amorosos e devotos — vai sendo lentamente desconstruída pela adversidade.
No entanto, a falta de aprofundamento psicológico faz com que muitos conflitos, especialmente os envolvendo Philip e Micah, sejam apenas sugeridos, sem a densidade necessária para realmente impactar.
Atuação intensa de Vanessa Giácomo e destaque para Théo Medon
O elenco, contudo, é o grande trunfo da produção. Vanessa Giácomo entrega uma performance sensível e potente, principalmente nas cenas em que sua personagem desperta do coma em meio a surtos psicóticos. A atriz consegue equilibrar fragilidade e força, tornando Renee uma figura de inspiração sem cair na caricatura.
Dan Stulbach, como Philip, interpreta um pai resiliente, mas também intransigente, o que cria alguns dos momentos mais interessantes do filme — sobretudo quando confrontado pelo filho adolescente. Théo Medon surpreende ao dar vida a Micah, expondo com autenticidade os conflitos típicos da juventude em uma família extremamente religiosa.
Júlia Gomes também se destaca, especialmente ao interpretar a canção-tema do filme, adicionando um tom ainda mais emotivo à produção. Bella Alelaf e Arthur Biancato completam o elenco mirim, embora com menos espaço para desenvolvimento dramático.
Cartilha do gênero
“Fé Para o Impossível” segue à risca os clichês do cinema religioso: a crise de fé de um dos personagens, a união familiar em torno da recuperação, a atuação da igreja como rede de apoio, e a música como instrumento emocional. Tudo está lá, do início ao fim, de forma previsível e confortável.
Essa previsibilidade, no entanto, não deve ser vista apenas como um demérito. Para quem busca justamente esse tipo de narrativa — um drama inspirador, com mensagem clara de superação e valorização da fé — o filme cumpre sua função com eficiência. O problema reside na falta de ambição estética e narrativa: não há espaço para ambiguidade, nem para discussões mais profundas sobre a complexidade humana diante do sofrimento.
Um debate silencioso sobre a fragilidade e a força
Apesar da superficialidade de alguns arcos, o filme acerta ao sugerir, ainda que timidamente, a ideia de que a vulnerabilidade e o sofrimento também fazem parte da experiência humana e espiritual. O momento em que Micah confronta o pai e o obriga a reconhecer que a tristeza e o medo são legítimos, mesmo dentro de uma perspectiva religiosa, é um dos pontos altos do roteiro.
Conclusão
Embora escorregue ao aderir demasiadamente aos clichês do gênero e ao sentimentalismo fácil, o longa encontra respaldo nas boas atuações do elenco e na condução segura de Ernani Nunes, que compreende bem o público que deseja atingir.