A série “Dias Perfeitos”, do Globoplay, chegou ao seu final no dia 28 de agosto de 2025, deixando o público chocado e dividindo opiniões, especialmente em relação ao seu desfecho. Baseada no aclamado romance homônimo de Raphael Montes, a produção foi amplamente elogiada pela crítica e pelo público por sua qualidade e pelas atuações impecáveis de Jaffar Bambirra e Julia Dalavia.
No entanto, o desfecho, significativamente diferente do livro, gerou um intenso debate e até mesmo a “tentativa de cancelamento” do autor original. Então, a partir de agora, vamos entender o que aconteceu no final da série “Dias Perfeitos”.
“Dias Perfeitos”: uma obsessão que virou série
A série “Dias Perfeitos” é um thriller psicológico perturbador e claustrofóbico que acompanha Téo (Jaffar Bambirra), um estudante de medicina solitário, obcecado por Clarice (Julia Dalavia), uma aspirante a roteirista de espírito livre.
Após conhecê-la em um churrasco e ser repetidamente rejeitado, Téo decide sequestrá-la. Ele a seda, a coloca em seu carro e embarca em uma viagem por lugares descritos no roteiro de Clarice, na tentativa distorcida de conquistá-la e viver uma “lua de mel”.
Uma das maiores inovações da série em relação ao livro foi a inclusão do ponto de vista de Clarice. Enquanto o livro é narrado integralmente pela mente perturbada de Téo, a série alterna as perspectivas, mostrando a realidade dos abusos físicos e psicológicos sofridos pela vítima.
Essa abordagem deu mais profundidade à protagonista, tornando a história ainda mais angustiante e deixando claro que Clarice jamais cedeu às investidas do sequestrador. A adaptação também atualizou aspectos como o uso de redes sociais para perseguição, refletindo o cenário contemporâneo.
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O debate dos finais: livro x série
A discussão mais acalorada em torno de “Dias Perfeitos” girou em torno das diferenças entre o desfecho da série e as versões literárias. Raphael Montes já havia adiantado que o final da adaptação seria distinto do livro, visando complementar a história e surpreender os fãs.
Qual o final de Dias Perfeitos no livro?
O livro de Raphael Montes apresenta dois finais: um oficial e um alternativo, presente apenas na edição de colecionador.
- Final oficial do livro: Clarice, após um acidente e o sequestro, termina a história paraplégica e com amnésia, sem se lembrar dos abusos. Téo consegue enganar a todos, convencendo-a de que eles são noivos e se amam. Eles se casam, passam a viver juntos e, no final, Clarice descobre estar grávida de uma menina. Téo se esforça para evitar lugares ou situações que possam reativar a memória dela, como ir à praia ou acorrentá-la durante o sexo. No entanto, em um momento da relação, Clarice sugere o nome “Gertrude” para a filha, indicando que ela se lembrou de tudo.
- Final alternativo do livro: Clarice morre devido a complicações após o coma. Téo, incapaz de lidar com a morte dela, alucina e se sente assombrado. Ele acaba desenterrando o corpo dela do cemitério, levando-o para Paraty e decidindo chamá-la de Gertrude, como sua “melhor amiga” defunta.
Esses desfechos foram amplamente criticados por internautas, que os consideraram “violentos” e apontaram elementos de misoginia, especialmente o final em que Clarice se torna paraplégica, grávida e com amnésia, perpetuando o ciclo de abuso.
Como é o final de Dias Perfeitos na série?
O final da série, adaptado pela roteirista Claudia Jouvin em colaboração com Raphael Montes, é considerado uma “extensão” do livro e um “grande acerto”. Na série, Clarice também é deixada paraplégica por Téo após ele ferir sua coluna vertebral, e sofre um acidente de carro que a leva a perder a memória.
Téo, inicialmente, replica o “modus operandi” do livro, tentando convencê-la de que é seu noivo e manipulando a mãe de Clarice, Helena (Fabiula Nascimento), para arquivar a investigação sobre o desaparecimento de Breno (Elzio Vieira).
No entanto, a grande virada ocorre quando Clarice recupera suas memórias. Ela reencontra Diana (Heloísa Honein), namorada de sua amiga Laura (Julianna Gerais), que a alerta sobre Téo e a coloca em contato com Laura. Com a ajuda de Laura, Clarice tem flashbacks e consegue se lembrar de todos os abusos.
Determinada a se vingar, Clarice e Laura planejam uma armadilha para Téo. Durante um jantar, Clarice envenena Téo e, em um momento de surto dele, ele acaba rolando escada abaixo. O desfecho da série mostra Téo sendo punido por seus crimes, preso em uma instituição psiquiátrica, dopado e vivendo uma condição semelhante à que impôs a Clarice.
A série termina com uma perspectiva positiva para Clarice, que, apesar de paraplégica e dos traumas, está finalmente livre de seu abusador. Ela usa sua experiência para escrever sua própria história, “Dias Perfeitos”, no livro que Téo antes desdenhava, mostrando que se lembrou de tudo que ele fez. Essa cena é descrita como muito potente e emocionante, pois celebra a sobrevivência e a recuperação da vida de Clarice.
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Polêmicas e reações: o “cancelamento” de Raphael Montes
A repercussão do final do livro, especialmente, levou Raphael Montes a ser alvo de duras críticas nas redes sociais por ter escrito esse desfecho para a protagonista. A série também foi acusada de misoginia por alguns espectadores, que estenderam as críticas a outras obras do autor, como “Bom Dia, Verônica” e “Uma Família Feliz”.
Por que o final de Dias Perfeitos gerou críticas ao autor?
As críticas se concentraram na brutalidade e na falta de justiça percebida no final oficial do livro, onde a vítima, Clarice, é deixada em uma situação de vulnerabilidade extrema, sem memória e ainda subjugada ao seu abusador, que se torna seu marido e pai de seu filho. A percepção de que tal desfecho romantizava ou normalizava o abuso gerou revolta entre muitos leitores e espectadores.
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Raphael Montes se defende das acusações de misoginia
Em resposta às críticas, Raphael Montes utilizou suas redes sociais para ironizar a situação. Ele publicou um vídeo em 27 de agosto de 2025, no qual brinca dizendo que “sobreviveu ao seu primeiro cancelamento”. Com um tom bem-humorado, Montes afirmou que não é “essa pessoa horrível” que as pessoas andam dizendo e que, a partir de agora, só escreverá “histórias edificantes, de autoestima” e se tornará um “autor de autoajuda”.
Alguns fãs saíram em defesa do autor, argumentando que um escritor de suspense/terror deve ter a liberdade de explorar temas aterrorizantes, e que as críticas eram infundadas. Eles relembraram o sucesso de personagens femininas fortes e complexas criadas por Montes em outras obras, como Lola de “Beleza Fatal” e Verônica de “Bom Dia, Verônica”, contestando a acusação de misoginia.
A adaptação perfeita: mantendo a essência com inovação
A parceria criativa entre Raphael Montes e a roteirista Claudia Jouvin foi fundamental para o sucesso da adaptação. Montes atuou como roteirista da série em colaboração com outros, garantindo que, mesmo com as mudanças, o “clima tenso da obra” e a essência original fossem mantidos. A diretora Joana Jabace também foi elogiada por sua excelência na direção.
A perspectiva de Clarice na série: mudança acertada?
A decisão de incluir a perspectiva de Clarice na série é amplamente considerada um dos maiores acertos da adaptação. Isso não só aprofundou a protagonista, mostrando a sua dor e resiliência, mas também evitou a ambiguidade que existia no livro sobre a possível “cessão” de Clarice às investidas de Téo.
Ao dar voz à vítima e um final de vingança e liberdade, a série oferece uma narrativa “muito potente” e “realística”, compreendendo a obra original e adaptando-a de forma a gerar um desfecho catártico para o público.
“Dias Perfeitos” se configura como um exemplo de como adaptar um livro com excelência, mesmo com mudanças significativas, provando que a fidelidade nem sempre se traduz em cópia, mas sim em capturar e expandir a essência da história para um novo formato.
O próprio Raphael Montes expressou seu entusiasmo com o resultado, afirmando que a série e o livro são experiências complementares que “vão te surpreender”.
