
Foto: Prime Video / Divulgação
Num momento em que filmes de ação estrelados por mulheres ainda são exceção — e, mais raramente ainda, comandados por diretoras — “G20” surge como um projeto ousado. Mas quando o rosto que lidera esse filme é o de Viola Davis, não há como esperar menos do que entrega, intensidade e autoridade.
Davis não apenas protagoniza, ela carrega nas costas uma produção que tenta equilibrar ação frenética, comentário político e drama familiar, nem sempre com o mesmo grau de sucesso.
Produzido para o streaming, com estreia no Prime Video, o filme é o típico “blockbuster de sofá”: grandioso na ideia, limitado na execução, mas com energia suficiente para manter o público entretido por suas quase duas horas de duração.
Sinopse do filme G20 (2025)
Durante a cúpula do G20 na Cidade do Cabo, a presidente dos Estados Unidos, Danielle Sutton (Viola Davis), se vê diante de um ataque orquestrado por Rutledge (Antony Starr), um ex-soldado convertido em mercenário. O objetivo do vilão é sequestrar os líderes mundiais, derrubar a economia baseada no dólar e instaurar o domínio das criptomoedas.
Diante da ameaça, Sutton recorre ao seu passado militar para proteger sua família, salvar os colegas de Estado e impedir que o mundo entre em colapso. Enquanto isso, a trama revela os desafios políticos e pessoais que uma mulher — especialmente uma mulher negra — enfrenta ao ocupar o cargo mais poderoso do planeta.
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Crítica de G20, do Prime Video
Poucas atrizes no mundo têm a habilidade de elevar um roteiro apenas com a força da presença. Viola Davis é uma delas. No filme “G20”, ela interpreta uma comandante-chefe que mistura dureza e sensibilidade com uma desenvoltura impressionante.
O texto nem sempre favorece sua personagem com profundidade, mas Davis compensa com olhar, gesto, entrega física. Se outros atores fazem do “herói de ação” um arquétipo cansado, ela o reinventa como símbolo de dignidade e resistência.
A personagem Sutton é multifacetada: presidente, veterana de guerra, mãe de adolescentes rebeldes, esposa de um homem apagado na sombra do poder. Davis não apenas cumpre todos esses papéis — ela os une numa figura que parece crível, humana, forte. Mesmo em meio a diálogos expositivos ou cenas de tiroteio meio cartunescas, é ela quem mantém a credibilidade do que vemos em tela.
Ação pipoca com ambições geopolíticas
Dirigido por Patricia Riggen, o filme tenta se equilibrar entre dois gêneros: o thriller político e o espetáculo de ação. O problema é que a cineasta parece mais confortável na construção de tensão do que na coreografia do caos. Algumas cenas de perseguição ou embates físicos são entrecortadas de forma brusca, perdendo impacto.
Por outro lado, há momentos de verdadeiro suspense, especialmente quando a presidente precisa escapar, esconder-se e ainda tomar decisões que impactam o futuro do planeta.
A ambientação da cúpula e as tensões entre líderes — como o atrito com o primeiro-ministro britânico ou a resistência da nova chefe do FMI — até apontam para uma crítica ao cinismo das alianças políticas. Mas esse subtexto logo cede espaço ao que o público do gênero espera: explosões, reviravoltas e discursos inspiradores no meio de tiroteios.
Rutledge e o vilão que quase convence
Antony Starr, conhecido como o perturbador Capitão Pátria de The Boys, traz uma intensidade interessante para o antagonista Rutledge. Seu discurso — com críticas às guerras sem fim do Ocidente e ao domínio do dólar — até carrega uma camada de complexidade.
Mas o roteiro, com medo de ser ambíguo demais, transforma sua causa em ganância pura, sabotando o potencial de um vilão mais interessante. Mesmo assim, Starr brilha nas cenas em que confronta Sutton, estabelecendo uma dinâmica intensa e imprevisível.
Família em perigo e a ‘Home Alone diplomacy’
Um dos elementos que mais divide opiniões é a inserção dos filhos da presidente na ação. A filha Serena, uma adolescente esperta, ganha destaque ao tentar invadir sistemas de segurança para ajudar a mãe.
Embora a proposta funcione em termos de ritmo e forneça tensão extra, há algo de artificial nessa mistura de Esqueceram de Mim com geopolítica internacional. O humor ocasional, como a presidente explicando por que não usa salto alto, ajuda a aliviar, mas também reforça a leveza excessiva em momentos que poderiam ser mais densos.
Entre a crítica e a fantasia patriótica
“G20” claramente flerta com o imaginário do cinema americano mais patriótico, aquele em que um único líder é capaz de salvar o mundo com força de vontade e bons valores. O problema é que o filme tenta criticar esse modelo ao mesmo tempo que se beneficia dele.
O resultado é uma narrativa que, em certos momentos, soa contraditória. Por um lado, celebra a diversidade de uma presidente negra e mulher; por outro, reafirma a ideia de que os Estados Unidos — e sua liderança moral — são a única salvação possível.
Conclusão
O filme “G20” é, acima de tudo, um veículo para Viola Davis brilhar em um gênero que sempre foi dominado por homens brancos. E ela brilha. O filme pode até tropeçar no ritmo, na direção de ação ou em um roteiro simplificado, mas nunca deixa de entreter — e isso se deve à força da sua protagonista.
Talvez não seja o novo Força Aérea Um, mas é um passo à frente na representação. Se vai virar franquia, só o tempo dirá. Mas uma coisa é certa: o mundo ficcional de “G20” estaria condenado sem Danielle Sutton. E o nosso, sem Viola Davis, seria bem mais monótono.
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Onde assistir ao filme G20?
O filme está disponível para assistir no Prime Video.
Trailer de G20 (2025)
Elenco de G20, do Prime Video
- Viola Davis
- Anthony Anderson
- Marsai Martin
- Ramón Rodríguez
- Douglas Hodge
- Elizabeth Marvel
- Sabrina Impacciatore
- Christopher Farrar
- Antony Starr
Ficha técnica de G20 (2025)
- Título original: G20
- Direção: Patricia Riggen
- Roteiro: Caitlin Parrish, Erica Weiss, Noah Miller
- Gênero: ação, suspense
- País: Estados Unidos
- Duração: 110 minutos
- Classificação: 16 anos